Meridiano Zero

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Meridiano Zero

Em 30/04/2004, por Juan Pedro Ottenstein


Meridiano Zero[1]

JUAN PEDRO OTTENSTEIN[2]

Reza um provérbio alemão que, de tantas árvores, não se enxerga o bosque. Toda obra de arte é, em última análise, um mistério. Seja pintura ou escultura, poesia ou música, qualquer interpretação objetiva, não obstante contribuir à compreensão intrínseca da obra de arte, está destinada infalivelmente à morte. A boa arte, e também a má, estão conosco em toda parte, vide provérbio supra. Ao contemplar esta arte, devemos libertar-nos do preconceito subjetivo, bem como de simpatias ou antipatias. Hoje se escreve mais sobre arte do que nunca, milhares de livros são editados em todo o mundo, o que nos faz esquecer criações de elevada sensibilidade que nos rodeiam em nosso próprio meio. Nesta cidade, por exemplo, que não pode ser chamada precisamente de centro das artes, temos as criações plásticas da pintora Maria Lucina Busato Bueno, que geralmente passam despercebidas, apesar de seu positivo valor artístico, de uma sensibilidade que causa impacto ao desprevenido espectador que, amiúde, é indiferente às quase rotineiras reproduções tradicionais das grandes obras de arte.

Em nosso próprio meio, como dissemos, temos, no entanto, o privilégio de poder apreciar as criações de uma artista que futuramente será reconhecida, não duvidamos, nos ambientes da arte neste país.

Maria Lucina Bueno causa em nós o impacto de uma verdadeira criação, fenômeno que contradiz e anula a tradicional impassibilidade do crítico intelectual que não se envolve.

Aqui, nesta terrinha, com suas misérias e mediocridades culturais, nulidades e indiferenças, temos o privilégio de poder anotar, em nosso ativo do intelecto artístico, a existência da obra de arte de Maria Lucina Bueno. Não é, acreditem, exagero dizer que este fenômeno nos compensa de tantas mágoas recebidas, de tanto materialismo superficial, desculpem o paradoxo, e de tantas atitudes egocêntricas, expressões supremas, sempre, da estultice humana.

As pinturas de Maria Lucina Bueno valem a pena ser olhadas, estudadas e contempladas longamente, especialmente neste fim de ano.

Até amanhã.

Referências

  1. Publicado na revista Água da Fonte nº 1 - Artigo publicado, originalmente, no Diário da Manhã, Passo Fundo, 12 de dezembro de 1976
  2. Prof. Juan Pedro Ottenstein, in memoriam, pertenceu aos quadros da Academia Passo-Fundense de Letras