Margherita Di Savoia, o clube italiano
Margherita Di Savoia, o clube italiano
Em 07/08/2007, por Luísa Grigoletti Dalla Rosa
Luísa Grigoletti Dalla Rosa
O ano de 1901 marcou o surgimento de uma sociedade de ajuda mútua, a Societá Italiana di Mutuo Soccorso Iolanda Margherita Di Savóia, que objetivava congregar os interesses de imigrantes italianos, tanto aspectos recreativos e de lazer como também dificuldades econômicas, doenças, entre outros aspectos que poderiam passar a existir a partir do estabelecimento desse grupo no município. Delineou-se, assim, uma certa representatividade e identidade. Foi fundada por doze imigrantes italianos residentes em Passo Fundo, possuindo algumas peculiaridades, como o caso da adoção da língua oficial italiano (conforme o estatuto da sociedade).
Entre as décadas de 1910 e 1920, aconteceram fatos significativos no município de Passo Fundo, como a construção de sobrados e palacetes na região central da cidade; a construção de sarjetas nas ruas; a preocupação com o embelezamento da cidade com a troca de postes de iluminação e melhoramento das praças; a construção de prédios para as casas de comércio; os hospitais; a instalação de uma linha de telefone etc. A preocupação com o embelezamento era notável. A elite local buscava isso para seus domicílios e casas de negócios, bem como para seus espaços de lazer, entretenimento e sociabilidade. A Sociedade Italiana nesse período estava em plena formação e traçando alguns objetivos próprios, como o caso da ampliação do quadro de sócios e a construção de sede própria.
O projeto de construção da Società Italiana di Mútuo Soccorso Iolanda Margherita di Savoia iniciado na década de 1920 com intensas campanhas para angariar fundos se concretizou no ano de 1937. Pela imponência do prédio, localização e perfil arquitetônico, sua sede logo foi denominada de “Palácio Rosado”, em razão da cor de sua fachada e característica interior, estando localizada na Rua Bento Gonçalves em frente à Praça Marechal Floriano.
A Sociedade Italiana foi palco de diversos eventos culturais, destacando-se os bailes, reuniões dançantes, recitais, audições, jantares e comemorações. Foi também importante para a memória política do município, pois em sua sede ocorriam os escrutínios quando das eleições municipais. Com a denominação de “Sociedade Italiana” funcionou até o ano de 1938, quando, reestruturada, passou a ser chamado de “Clube Caixeiral”. Tal mudança ocorreu por ra zões dispostas em decreto-lei de 1938, em pleno Estado Novo, sob a alegação da necessidade de sociedades estrangeiras se nacionalizarem a partir deste período para continuarem seu funcionamento no Brasil. Assim, conforme descrição feita nos estatutos deste clube aprovado em novembro de 1938, no artigo 5º: “O clube se compõem de um número ilimitado de sócios, pessoas de ambos os sexos, sem distinção de nacionalidade, crença política e religiosa, excetuadas as que, por qualquer motivo ou convicção, não admitam o caldeamento racial”. Percebe-se neste polêmico artigo uma abertura para que outros agrupamentos culturais, diferentes daquele que originou a sociedade, pudessem se afiliar como sócios, já que, anteriormente, era necessário falar italiano para ser admitido como sócio, o que restringia assim a prática de socialização multiétnica, mas que naquele novo contexto histórico havia a preocupação em deixar registrada nos documentos oficiais a ampliação da possibilidade de filiação de novos sócios de diferentes nacionalidades. Segundo depoimentos orais de pessoas que conviveram neste período, algumas etnias não podiam freqüentar esta sociedade, como, por exemplo, os de origem judaica, neste sentido, essa lei obrigou, em grande medida, a abolição das restrições destas sociedades.
A denominação de Clube Caixeiral possui uma relação com outras sociedades, uma vez que estas existiam em vários municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Essa denominação é proveniente da influência dos caixeiros-viajantes, que eram pessoas envolvidas com a atividade comercial e que tinham objetivos comuns, visando às atividades profissionais, assim como de lazer e entretenimento.
Foram com as atividades de lazer e entretenimento que o Clube Caixeiral marcou muito a sua história com festas anuais, relacionando com a história do município, pois, sendo os bailes de carnaval, o baile cívico Verde-Amarelo, o Baile Rosa e o Reveillon os mais concorridos e atrativos para uma boa parte da comunidade local. Algumas modalidades esportivas como a bocha e o bolão também aglutinaram gerações masculinas e femininas na associação.