Manoel José das Neves, o Cabo Neves

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Manoel José das Neves, o Cabo Neves

Em 2016, por Ney Eduardo Possapp d Ávila


Manoel José das Neves

Ney Eduardo Possapp d’Avila[1]


Decorrida uma década da passagem do tropeiro João José de Barros um miliciano vindo de São Borja, funda a cidade de Passo Fundo. Manoel José das Neves, paulista nascido por volta de 1790 em São José dos Pinhais, na então Comarca de Curitiba, sendo de origem humilde engajou como soldado na cavalaria da Milícia da Província de São Paulo. Nesta condição foi deslocado para a Cisplatina onde participou do combate do Rincão das Galinhas, em 24 de setembro de 1825. Lá os brasileiros foram derrotados. O soldado Neves, gravemente ferido, foi recolhido ao quartel de São Borja. Recuperado dos ferimentos, mas com uma profunda cicatriz na cabeça que o acompanhou pelo resto da vida, foi promovido a Cabo e dispensado do serviço militar.

Em dezembro de 1827, acompanhado da esposa Reginalda da Silva e demais família, agregados, escravos e algum gado, chegou e arranchou-se à beira do caminho das tropas junto à nascente do Goiexim, local hoje conhecido como Chafariz da Mãe Preta. A seguir construiu sua morada no alto da coxilha, provavelmente no terreno hoje leito da Rua Paissandu entre as ruas Teixeira Soares e XV de Novembro, junto à Praça Tamandaré. Pouso obrigatório de tropeiros e caravanas o lugar escolhido pelo Cabo Neves tornou-se uma povoação de birivas, caboclos, índios aculturados, negros escravos e libertos. Mais tarde chegaram castelhanos das bandas do Rio da Prata e gringos vindos das “colônias velhas” alemãs e italianas. O casario, a maioria ranchos e algumas casas de pedra, foi se estendendo ao longo do caminho para ambos os lados da fonte onde nascia o Goiexim. As tropas faziam pouso em um rincão denominado Boqueirão.  

O Cabo Neves não era tropeiro e sim um soldado desmobilizado cuja principal atividade foi a prestação de serviços a tropeiros e caravaneiros. Em documentos oficiais é qualificado “vive de avios de negócios”, “vive de seus negócios de animais”. Em 30 de novembro de 1831 conseguiu legalizar sua posse ao receber da Comandância Militar de São Borja a concessão de “uma gleba de terras de quatro léguas quadradas no Alto Uruguai”. Algo muito impreciso. Entrementes foi nesse chão concedido ao paulista Manuel José das Neves que teve origem a atual cidade Passo Fundo. Quando faleceu, em 1853, a sede de sua “pequena fazenda pastoril e agrícola” já era sede do 4º distrito de Cruz Alta e da Freguesia da Nossa Senhora da Conceição do Passo Fundo.

Em vida Manoel José das Neves, além de suas atividades de hospedeiro e negociante de animais, exerceu função de Justiça e foi oficial da Guarda Nacional. Em 1834 quando Passo Fundo foi elevado à categoria de distrito o Cabo Neves, apesar de ser semianalfabeto, foi nomeado Oficial de Justiça. Em 1835 teve início a guerra civil, o antigo soldado de milícia engajou-se na Guarda Nacional no posto de Alferes, logo foi promovido a Capitão, comandante do destacamento passo-fundense encarregado de combater os rebeldes farroupilhas. Com o seu xará, Capitão Manoel José d’Araújo integrou as fileiras da Leal Divisão Cruz-Altense.

Após ter a posse legalizada, em 1831, o casal Neves sendo concessionário da área da povoação que se iniciava com cerca de dez moradores, para obter a oficialização, conforme a legislação da época, obrigou-se a doar uma parte de suas terras para a Igreja Católica.  

Não apenas os principais dados biográficos de Manoel José das Neves são desconhecidos. Seus ossos, seus restos mortais, também foram perdidos. Quando faleceu foi sepultado no cemitério ao lado Capela. Em 1902 aquele cemitério, localizado na área atualmente atravessada por trechos das ruas Independência, General Osório, General Netto e Coronel Chicuta, foi desativado. O que restava do Cabo Neves supõe-se que haja sido transladado para o Cemitério Municipal “Vera Cruz”. Contudo se tal ocorreu com o passar do tempo, talvez por motivo de abandono, os restos mortais do Fundador da Cidade perderam-se.  

Referências

  1. Mestre em História