Médico e Diplomata

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Médico e Diplomata

Em 30/11/2012, por Paulo Domingos da Silva Monteiro e Gilberto Rocca da Cunha


Entrevista Rudah Jorge - Médico e Diplomata

“Quanto à Faculdade de Medicina Federal em Passo Fundo, está acontecendo o mesmo que ocorreu quando da criação da Faculdade de Medicina da UPF. Há os que pretendem fechar o corpo clínico da cidade, e os que desejam reserva de mercado. Estes não querem Faculdade Federal por aqui. Todavia, aqueles que, como eu, sofreram para pagar uma faculdade, e vêem os estudantes pobres não conseguindo sair do chão, querem sim, uma Faculdade Federal de Medicina em Passo Fundo. Hoje o ensino virou um negócio. Tem de acabar com isso. Ensino não é negócio. Há que se considerar ainda que não só a Faculdade de Medicina estaria vindo. A Medicina é apenas um curso dos campi da saúde. Será a base para Universidade Federal de Passo Fundo, pois, a seguir, virão outros cursos superiores na referida área”.


Numa tarde fria e chuvosa de agosto, o médico Rudah Jorge recebeu, em sua casa, os acadêmicos Paulo Monteiro e Gilberto Cunha, para uma entrevista de várias horas.

Considerado um profundo conhecedor da história da saúde e da educação superior em Passo Fundo, nos últimos cinquenta anos, Rudah discorreu sobre todos os assuntos que lhe foram perguntados. Comprovou a fama de homem que não tem medo de falar sobre fatos e pessoas, doa em quem doer. E falou.

APL – Rudah Jorge! É nome de origem árabe?

Rudah Jorge - Na verdade, eu não sei o que sou. Meu pai falava muito ter ouvido dizer que um antepassado teria vindo da Inglaterra. Era muito reivindicador, contestador. Era chamado de Jorge, o Inglês. Quem mandava no mundo era a Inglaterra. Poderia ter sido um árabe, o reivindicador. Rudah não é uma palavra árabe, mas uma palavra tupi-guarani. Pode ser escrita com “à”, no fim, ou com “ah”. Era o deus do amor indígena. E Rudah não leva a pensar que seja árabe. O tamanho do nariz, sim.

APL – Onde o senhor nasceu?

Rudah Jorge - Nasci em Quaraí-Mirim, 1º distrito de Quaraí, filho do ferroviário Afonsino Jorge e da dona de casa Olga Dornelles Jorge, no dia 8 de setembro de 1936. Eu morava ao lado da linha férrea. Meu pai era o agente local. Éramos quatro irmãos. Um faleceu com quatro anos, no Englert (atual município de Sertão). Meu pai foi transferido de Quaraí-Mirim para Eng. Luiz Englert, onde cheguei com dois anos. Meus irmãos Nei e Antônio já nasceram aqui. Os ferroviários sempre foram muito trabalhadores e reivindicadores. A Viação Férrea era a vida deles. Davam valor ao emprego, Não tinha serviço mal feito. Tudo era organizado. Tinha hierarquia e muito respeito. Santa Maria sempre foi núcleo muito desenvolvido.

APL – E os seus estudos? Começaram no Englert?

Rudah Jorge - Comecei a fazer o Curso Primário lá, no Englert. Só funcionava até a 4ª série. Tinha de fazer até a 5ª série, para prestar o exame de admissão ao ginásio. Fui fazer a 5ª série em Carazinho, onde moravam parentes meus. Depois fui morar em Sertão. Cursei o ginásio no Colégio Conceição. Ali comecei o curso científico, que concluí em Porto Alegre, no Colégio Júlio de Castilhos. Lá eu vi que a Faculdade de Medicina era na Rua Sarmento Leite, e havia a Rua Eng. Luiz Englert.

Fui investigar e descobri que ele era um engenheiro e político fantástico, considerado um sábio. O ensino marista era muito bom. Tanto isso é verdade que, quando fui cursar o 3º ano do científico, em Porto Alegre, precisei fazer uma prova para ser aceito. O diretor, ao chegar ao meu nome, disse que eu não estudava lá, mas deveria estudar num bom colégio pela nota que tirei.

APL – E suas primeiras leituras...

Rudah Jorge - O Correio do Povo chegava pelo trem das 5h30min. Meu pai era obrigado a levantar cedo. Deixava a água para o chimarrão fervendo e eu tinha de levantar para cuidar da água. Enquanto ela fervia, cada um lia um jornal. Não havia rádio. Eu lia o jornal com meu pai, até que o dono fosse buscá-lo. Esse fato de ler os jornais me levou a pensar em Diplomacia. Vi que os representantes do Brasil no exterior eram ricos. Pensei em Medicina porque faltavam médicos. Quando chegou a época de prestar vestibular, procurei universidades que formassem diplomatas e não achei. Assim, fui cursar Medicina em Porto Alegre. No 2º ano da Faculdade, criaram um teste vocacional. Fiz o teste e acabei descobrindo que tinha habilidades para Medicina e Diplomacia. O que faço hoje? Medicina e Diplomacia. Tenho facilidade para resolver conflitos. Não me tiram do sério, assim no mais. Na Medicina, resolvo horrores de conflitos médicos.

APL – E os seus “dons diplomáticos” como serviram na Medicina?

Rudah Jorge - Certa feita, uma pessoa que trabalhava comigo vivia sempre doente. Um dia sentei ao lado dela e disse que seria o seu médico. Pedi que contasse a vida dela. O pai, que é pai dela hoje, exigiu que mudasse de nome. Procurou a Justiça e mudaram de nome. Disse-lhe: “Passa uma borracha nisso e começa uma nova vida, com teu segundo pai!” Fez isso, e acabaram as doenças. Muitas vezes, mais importante do que receitar é ser diplomata.

APL – Como foi sua vida de estudante pobre em Porto Alegre?

Rudah Jorge - Em Porto Alegre, fiz tudo o que se possa imaginar. Quando comuniquei a meu pai que não iria disputar nenhum emprego, e sim cursar Medicina, ele me disse: “Tô contigo, mas não posso mais te ajudar. Tenho de ajudar teus irmãos”. Não fiquei irritado. Achei de uma grandiosidade fenomenal. Fui de carona num caminhão, para Porto Alegre. Arrumei meu primeiro emprego num escritório que comprava lenha no interior. Cursava o 3º científico e também trabalhava. Arrumei emprego à noite, como revisor do Diário Oficial. O chefe disse que, como eu gostava de política, podia revisar discursos políticos. Temperani Pereira era um grande orador. Depois fiz concurso para escrivão de polícia, e, mais tarde, para médico legista, função em que me aposentei.

APL – E a política estudantil daquela época...

Rudah Jorge - Na Faculdade de Medicina, entrei em 1957. Ali fui duas vezes presidente da turma. Tinha que defender uma turma de cento e dez caras. Depois fui presidente do Centro Acadêmico da Medicina, que era o pavor dos milicos. Por isso, Golbery do Couto e Silva mudou o nome para Diretório. Também fui presidente da entidade que reunia todos os centros acadêmicos da época, e que vem a ser o DCE de hoje. Convivi com grandes lideranças estudantis daqueles anos, como Fúlvio Petracco, Flávio Tavares, Bruno Costa e Carlos Araújo (do Direito). A divisão do movimento estudantil era ideológica. De um lado, a UDN [União Democrática Nacional] e o PSD [Partido Social Democrático] e do outro, a chamada Esquerda. Não éramos inimigos uns dos outros, e sim adversários.

APL – Como o Senhor viu a Campanha da Legalidade e a Contrarrevolução de 64?

Rudah Jorge - Acompanhei a Legalidade, sim. Estava em Santa Maria, num Congresso Médico. Em 64 fazia residência no Rio de Janeiro. Assisti ao famoso comício dos sargentos. E trabalhava no Hospital dos Servidores do Estado. Era o principal hospital do país. Era ali que estava instalado o Ministro da Guerra na época do Golpe. Esse hospital era o maior centro de ensino, no Brasil. Lá começou a residência médica no país. Tinha tudo do bom e do melhor. Os militares passaram para o atual SUS, que hoje é uma porcaria. Quando houve o Golpe, o diretor foi afastado e colocado um general em seu lugar.

APL – Por que retornou para Passo Fundo?

Rudah Jorge - Foi em 1966. Éramos diversas pessoas de Passo Fundo em Porto Alegre. Combinamos que cada um iria fazer uma especialidade, para depois trabalharmos juntos aqui. Apenas dois não voltaram. Um, porque faleceu, e outro, porque optou por permanecer em Porto Alegre. Aqui, montamos a Policlínica e acabamos juntando mais gente que veio depois. Passo Fundo era uma cidade boa para trabalhar, mas não imaginávamos que íamos encontrar tantas dificuldades. Eu vinha do melhor hospital do Brasil, e o São Vicente tinha um aparelho de RX que só fazia exame de quem não respirasse.

A Policlínica Passo Fundo foi pioneira, no sentido de médicos trabalharem juntos. Mas eles se hostilizavam muito. O Hospital São Vicente dispunha de 80 leitos e uma sala de cirurgia; o Hospital da Cidade, um pouco menos, também com uma sala de cirurgia. O Hospital Municipal, mais ou menos isso, mas era mais novo. À época, havia dois tipos de clientes: um que pagava, e o indigente que não pagava, tendo o médico que arrumar remédio de amostra grátis.

Então eu disse: “Pessoal, estamos numa fria!”. Quando eu estudava no Conceição, ocorreu a primeira migração de passo-fundenses, devido ao excesso de população. Iam para Xaxim, Xanxerê, Chapecó, nos chamados “ônibus de malas brancas”, porque elas tinham essa cor e iam em cima do ônibus, ao passo que a mudança ia dentro de um saco. Mas eu sentia que famílias inteiras, quando adoecessem, voltariam para cá. E viriam com dinheiro. Se não melhorássemos, iriam para Porto Alegre e perderiamos dinheiro. É o que acontece até hoje.

APL – Como foi o surgimento da Faculdade de Medicina da UPF?

Rudah Jorge - Quando voltamos, havia um movimento para criar uma Faculdade de Medicina. O Dr. Sabino Arias tinha ido embora e lidava com os papéis da Faculdade de Educação, pois o Ministro era seu amigo. Existia uma comissão formada pelos médicos: Paulo Azambuja, Ademar Petracco e Sabino Arias. O Ministro veio até aqui e oficializou a criação da Faculdade. Havia muita gente que trabalhava contra. Mas o Dr. Sabino tratava muito bem o pessoal. Ficou sabendo que os contrários iam num velório. Conseguiu que o processo de criação da nossa Faculdade de Medicina fosse colocado em pauta, e ele acabou aprovado. Isso foi em 1969. Começaram as discussões sobre onde instalar a Faculdade. Como a maioria dos pacientes eram indigentes, nenhum hospital queria tratá-los, afim de não perder o prestígio. O reitor da Universidade era o Dr. Murilo Annes, cuja família comandava o Hospital da Cidade. O Hospital Municipal também não queria, porque o prefeito César Santos era inimigo político dos Annes.

O Leste Europeu tinha uma dívida com o Brasil. O Governo Federal queria mais faculdades de Medicina, e surgiu a proposta de pagar a dívida, com aparelhos médicos fabricados na Alemanha Oriental. A Faculdade fora criada sem diretor e sem hospital. Sabino Arias tinha sido nomeado diretor, mas, na verdade, não havia diretor. Diante das negativas do Hospital da Cidade e do Hospital Municipal, o reitor Murilo Annes conversou com Dom Cláudio Colling e este disse que o São Vicente teria de aceitar a Faculdade. Procurou os responsáveis pelo hospital, nas pessoas de Felice Sana e Plínio Grazziotin, e convenceu-os a aceitarem. Marcaram uma reunião entre a universidade e o hospital. Nessa reunião, compareceu muita gente, menos o diretor médico do Hospital que era contra. No outro dia, ele renunciou. O Hospital São Vicente não tinha diretor médico, em meados de 1969. Aí é que fui conversar com Dom Cláudio, indicado por uma pessoa que me conhecia desde pequeno, o senhor Walter Vargas. Pedi umas horas e decidi aceitar. Tinha que fazer um contrato que existe até hoje.

APL – Sua ligação com Dom Cláudio Colling...

Rudah Jorge - Aí é que fui conhecer Dom Cláudio Colling. Ele me fez uma pergunta inteligente: “O que o senhor acha que vai acontecer com o São Vicente, com a Faculdade lá dentro?”. Disse-lhe: “Não consigo lhe explicar. Só sei que o crescimento, com essa aparelhagem, vai ser tão grande, que ninguém vai nos alcançar”. Nesse meio tempo, Dom Cláudio pediu dinheiro para a Misereor ajudar o São Vicente. Havia começado a ampliação, com mais três salas de cirurgia.

Começaram a vir novos médicos, principalmente de Santa Maria. Com isso, Passo Fundo começou a crescer em qualidade médica. Abrimos o hospital. Qualquer médico poderia clinicar, pois havia uma espécie de reserva de mercado. Os médicos começaram a reclamar, dizendo que o hospital estava inchando. Queriam reunir o corpo médico. Propus ao senhor Sander. Como os vicentinos é que teriam de mandar, propus a alteração do Estatuto, declarando que o corpo clínico era aberto; o hospital, permanente; e os médicos, passageiros. Com a mudança dos estatutos deu um forrobodó.

O Hospital da Cidade também se abriu para os médicos. Por isso há hoje esse monte de médicos. O diretor médico opina, mas a decisão é dos vicentinos. Passo Fundo tem conta com setecentos médicos. Quando cheguei aqui havia quarenta e poucos e a maioria era da UFRGS. Depois veio uma leva de Santa Maria, e atualmente a grande maioria é daqui. Hoje encaminhamos médicos para outros hospitais e ficamos com os melhores.

APL – O ensino da Medicina em Passo Fundo, como está?

Rudah Jorge - Quando cheguei, não havia mestres e doutores. Hoje dispomos de mais de cem mestres e mais de cinquenta doutores.

O médico tem de provar, para o paciente, que é bom. A Medicina mudou. Hoje só pedem exames. Nós sentávamos do lado do paciente e conversávamos com ele. Tudo é uma questão de formação. Ética se aprende com o pai e a mãe. Não se aprende na Faculdade. Em casa, mandavam pai e mãe; e na escola, a professora. A ética é mutável.

Quanto à Faculdade de Medicina Federal, está acontecendo a mesma coisa. Há os que querem fechar o corpo clínico e os que querem reserva de mercado. Estes são contra uma Faculdade Federal. E os que, como eu, sofreram para pagar uma faculdade, vêm a pobreza não conseguindo sair do chão. Por isso querem uma Faculdade Federal. Hoje o ensino virou um negócio. Tem de acabar com isso. Ensino não é negócio!

A universidade comunitária custa caro. Na ULBRA, os pretendentes têm de apresentar Declaração de Renda. Sou a favor do ensino público. Controle da natalidade é besteira. Se a criança receber o leite materno, não custa nada. Se o Estado der colégio, não custa nada. A Coréia era o país mais pobre do mundo.

Os americanos começaram a investir no ensino desse país, e hoje ele é uma potência. Oferecendo comida, o ensino sai de graça.

APL – Como Dom Cláudio veria O Hospital São Vicente de hoje?

Rudah Jorge - Se Dom Cláudio vivesse hoje, diria que a Faculdade Federal representaria um salto de qualidade. A Faculdade Federal trará crescimento para Passo Fundo. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre dispõe, mais ou menos, de quatro vezes mais que o orçamento de Passo Fundo. Não temos dinheiro para ampliar o São Vicente.

E, com a vinda da Faculdade Federal, Passo Fundo certamente irá explodir. Dom Cláudio Colling não queria ser arcebispo em Porto Alegre. Daí cometeu um erro: proibiu os padres de irem à missa de Ronda Alta e os padres desobedeceram. Veio Dom Vicente Scherer, no outro dia, e levou ele para Porto Alegre, onde foi arcebispo e quando ficou mal voltou.

APL – O Senhor foi candidato a prefeito de Passo Fundo e desistiu de uma candidatura a deputado federal...

Rudah Jorge - Sou um ex-quase. Ex-quase prefeito. Ex-quase deputado federal. Nossa política é partidária e não ideológica. Entrei para o PDT, onde permaneço até hoje. Durante o regime militar, havia só a ARENA [Aliança Renovadora Nacional] e o MDB [Movimento Democrático Brasileiro] e o PDT, que saiu do MDB. O PDT seria quase uma continuidade do PTB [Partido Trabalhista Brasileiro]. Acompanhei o Brizola, que mais se aproximava do Trabalhismo.

Quando o PDT se uniu com o PDS [Partido Democrático Social], de Nelson Marchezan, retirei minha candidatura a deputado federal. Antes, para prefeito, fui o mais votado, mas perdi para a sublegenda. Depois fiquei sabendo que me tiraram muitos votos. Só de ti, roubamos mais de mil votos.

Não sei se seria um bom prefeito ou um bom deputado. Não ter sido eleito foi bom, pois continuei professor da UPF, lecionei para trinta e três turmas e fui homenageado por trinta e duas. Ajudo o meu partido. Convenci o São Vicente a fazer o posto de atendimento do Hospital Municipal.

APL – E o nível da Medicina praticada em Passo Fundo?

Rudah Jorge - O conceito, em Porto Alegre, é de que Passo Fundo é a cidade que menos manda paciente para lá. Mandamos grandes queimados, porque o SUS paga pouco por grande queimado, o que dá um prejuízo desgraçado. Para esse tipo de paciente há três UTIs: duas em Porto Alegre e uma em Rio Grande, por causa dos navios. Incêndio em navio, ou morre queimado ou morre afogado.

Em Passo Fundo, temos em média um caso de grande queimado por mês. Mandamos cirurgia cardíaca pediátrica, que é muito cara, mas queremos parar de mandar. Estamos terminando de montar um centro de atendimento da mama. O negócio é fazer o diagnóstico o quanto antes. Estamos com o equipamento comprado. Nosso primeiro aparelho de tomografia computadorizada, adquirido há vinte e cinco anos, era de um corte por segundo. Temos um de 128 cortes por minuto. Só existe um no Brasil e está no São Vicente. Ressonância magnética, temos o mais moderno do mundo. Todo diagnóstico começa com o médico que para fazê-lo tem de ouvir o paciente.

Nosso setor de Neurologia é de alto padrão, mas nossa maior referência é a Cardiologia, embora a Cardiologia Clínica seja mal remunerada. A Traumatologia e a Ortopedia são muito boas, a maioria dos nossos profissionais têm cursos no exterior. A Oftalmologia e a Otorrinolaringologia ainda são fracas. Todas as coisas têm de começar bem feitas. Os oftalmologistas antigos não estavam suficientemente preparados. Fizemos uma residência médica no Hospital São Vicente, a fim de melhorar a qualidade do atendimento oftalmológico.

A Pediatria é uma especialidade em extinção, pois quando eu vim para cá, a média era de dez consultas pagas por dia. Hoje, quando ocorre uma paga por semana, os pediatras ficam contentes. Além disso, hoje, o médico é mal pago. Para nós, médicos, é ruim errar um diagnóstico. Quando pagavam, lembravam o nome do médico.

A medicina e a política são duas senhoras invejosas. Uma tem inveja da outra. Ou faz medicina ou faz política. Elas querem exclusividade. O que não se pode é parar de fazer Medicina. Tem de continuar fazendo, mas fazendo direito.

APL – Como é ser Diretor Médico de um hospital como o São Vicente?

Rudah Jorge - Muitos dizem que o Rudah é um ditador. Ele manda no hospital. O mandato do diretor é o mesmo da diretoria, podendo ser reconduzido. A cada mudança de diretoria ele entrega uma carta de demissão. Se eles desejam que continue, lavram uma ata. O cargo é cobiçado pelo poder que dá. Agora, para ser diretor de um hospital é preciso algumas condições.

A primeira delas: não ter rabo preso. A segunda: não abrir exceção. Acharam que eu abriria exceção para o meu filho, e não abri. A terceira: eu estou diretor médico, mas enquanto eu estiver, eu sou. A quarta: não posso olhar com os meus olhos; tenho de usar os olhos do hospital. Tenho de ver o que é bom para o hospital. Quinta condição: é bom nem falar quanto eu ganho. Quando entrei, o Estatuto dizia que o trabalho era gratuito. Depois de vinte anos é que passei a ser remunerado.

APL – O Senhor não tem medo de expressar sua opinião. Como definiria alguns “grandes” políticos passofundenses?

Rudah Jorge - Em honestidade: Wolmar Salton. Em liderança: o que mais influenciou foi também o Salton. Outro cara que teve muita importância: César Santos. O Coronel Edu Azambuja só sabia tocar gaita. O Airton Dipp é muito inteligente. Ele pega as coisas no ar. Nesse assunto da Faculdade de Medicina Federal, colocou-se como um estadista.

APL – A Faculdade de Medicina Federal, o que significará para Passo Fundo?

Rudah Jorge - Não é só a Faculdade de Medicina. A Medicina é um curso base da saúde, e o será também para a Universidade Federal de Passo Fundo, pois virão, a seguir, outros cursos superiores nessa área.

Referências