Luis Carlos Prestes: a derrota do Cavaleiro da Esperança

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Luis Carlos Prestes: a derrota do Cavaleiro da Esperança

Em 07/08/2007, por Argeu Rigo Santarém


Argeu Santarém


Líder da famosa Coluna Prestes em 1926 e da chamada Intentona Comunista de 1935, já à frente da Aliança Nacional Libertadora, senador eleito em 1946, Luiz Carlos Prestes, o lendário Cavaleiro da Esperança foi expurgado do Exército quando era capitão da força e passou grande parte de sua vida preso ou exilado.

No conturbado ano de 1963, então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Prestes anunciou comício em Passo Fundo.

O Partidão, assim era chamado o Partido Comunista Brasileiro, ainda era clandestino. Prestes, depois de cassado em 1948, viveu exilado na União Soviética e só reaparecera com a ascenção de João Goulart em 1961. Com sua ordem de prisão revogada pelo Supremo Tribunal Federal, mas com o PCB clandestino, Prestes se jogou na campanha política que indicaria governadores, deputados, senadores e prefeitos, apoiando candidatos comprometidos com o nacionalismo, principalmente com o PTB de Leonel Brizola no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e noutros Estados com grande influência da esquerda nacionalista.

Recém-saído de outra clandestinidade, o líder comunista enfrentava toda a sorte de pressões do macarthismo que grassava pelo mundo inteiro. Sua visita a Passo Fundo provaria essa intolerância. Seus correligionários escolheram o largo fronteiro ao Altar da Pátria (esquina da Avenida Brasil com a General Netto), local tradicional de todos os eventos políticos à época.

Com os protestos de fanáticos anticomunistas do recém-criado MTR e dos partidos conservadores PSD e UDN, – que no município apoiavam Mário Menegaz para prefeito e Ildo Meneghetti para governador – de padres, irmãos maristas e entidades pias, o ambiente de preocupação e intransigência foi exacerbado pelos grupos de cavalarianos da Brigada Militar, sob o comando do coronel Jofre Tomatis, confundindo segurança com constrangimento.

A Rádio Passo Fundo, a única na cidade, então dirigida por Gildo Alves Flores, teve suas transmissões interrompidas quando Prestes ia iniciar seu pronunciamento. A linha do transmissor foi cortada por anti-prestistas e turbas armadas com paus e ferros espalharam os expectadores. Os padres – o bispo era o polêmico Cláudio Colling – tiveram ativa participação, e no momento em que foi anunciada a palavra do líder comunista os sinos dobraram afinados e centenas de foguetes e rojões foram lançados contra o palanque dos oradores. Alunos de química do Colégio Nossa Senhora da Conceição queimaram panos com enxofre e lançaram contra os prestistas, originando um terrível mau odor. Criou-se uma verdadeira praça de guerra em plena Avenida Brasil.

Cercados por adversários e por brigadianos, os comunistas e seus simpatizantes se dissolveram e Prestes, ante um ultimato do coronel Tomatis, foi expulso da cidade. Em regozijo, os sinos da catedral voltaram a tocar. Prestes saiu pelas escadarias da General Netto e foi para Carazinho.

Do episódio, marca do neofascismo que se instalava no Brasil na década de 60, guarda-se o pitoresco de um fato que, ademais, só aconteceria na imprevisível Passo Fundo, para o deleite dos seus contadores de histórias e estórias.

A retirada forçada do lendário capitão Luiz Carlos Prestes, o homem que comandou sem derrota uma centena de guerrilheiros por mais de 20 mil quilômetros Brasil afora – feito só comparado pela grande marcha chinesa – rendeu também chacotas anticomunistas nas décadas que se seguiram. Padres, com sinos substituindo clarins e secundaristas com uma fétida flatulência de laboratório (p... químicos), derrotaram a lenda dos sertões, das caatingas e dos cerrados: “O Cavaleiro da Esperança, saiu corrido de Passo Fundo”.