Lembrar Sempre! Repetir Jamais!

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Lembrar Sempre! Repetir Jamais!

Em 20/08/2013, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Paulo Monteiro[1]


Há 112 anos o sangue de maragatos e pica-paus avermelhava as coxilhas de Passo Fundo e do Rio Grande. Era a Revolução Federalista ou Revolução de 93, a Revolução da Degola. Historiadores contabilizam mais de 11 mil mortos, mil e tantos dos quais degolados. E terra arrasada.

A História registra atrocidades cometidas por ambas as forças em luta. Saques, chacinas, incêndios, estupros, todas as violências possíveis aconteceram, numa revolução em que todos diziam lutar pela liberdade.

Os governistas acusam os gasparistas de, a 28 de novembro de 1893, no Rio Negro, degolarem centenas de prisioneiros indefesos. Francisco da Silva Tavares, líder libertador, em seu Diário, reconhece a matança: "Do inimigo ficam no campo de combate mais de 200 mortos, e muitos que foram exalar o último suspiro, nos matos próximos...".

A resposta veio pouco depois, no Boi Preto. O general Firmininho de Paula, em três palavras, noticia a barbárie ao governador Júlio de Castilhos: "Vingado Rio Negro".

Entre essas aberrações aconteceram duas matanças em Passo Fundo. Os maragatos, no Umbu, desbaratam os pica-paus, sem deixar registro de prisioneiros. Em contrapartida, no Valinhos, as tropas oficiais massacram prisioneiros.

Em princípios de junho, aqui mesmo, no Três Passos, os maragatos vencem, degolando os adversários feridos e... até os mortos.

É nesse palco violento que acontece a Batalha do Pulador. O coronel Veríssimo Inácio da Veiga identifica 800 cadáveres de inimigos no local do combate, o que somado a 214 maragatos "desaparecidos" totaliza 1.014 motos. Não há registros de prisioneiros nas partes dos exércitos em luta...

Todas essas monstruosidades não brotaram com a Revolução. Vinham de longe. Ela representou uma pandemia de violência e deixou profundas seqüelas sociais, que continuam até hoje, sob formas cada vez mais sofisticadas.

Estudar personagens e acontecimentos históricos é indispensável para o entender e transformar a realidade, exorcizando nossos dáimons (divindades) sociais, numa cártase coletiva. O que não podemos é divinizar fatos e personalidades.

Os grandes homens daqueles tempos e os pró-homens deste não representam modelos de virtudes. Sempre tiveram Cesários e Delúbios em seus estados-maiores. Quem lê os livros de história e os jornais do dia sabe disso. É  preciso, porém, ter presente a lição tricentenária do padre Antonio Vieira: "Muitos não entendem o que lêem, e ler sem entender, é como se não leram". Ou pior.

Referências

  1. Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras e à Academia Literária Gaúcha.