José Domingues Nunes de Oliveira, dados biográficos

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José Domingues Nunes de Oliveira, dados biográficos

Em 1927, por Francisco Antonino Xavier e Oliveira


José Domingues Nunes de Oliveira


Logo após ao começo do povoa­mento destas plagas pela gente brasileira civilisada, viera este no­vo morador domiciliar-se á Entrada do Matto Castelhano, ahi consti­tuindo vasta fazenda de criação, que se extendia até a confluencia dos rios do Peixe e Carreteiro, tendo seus limites occidentaes nas immediações do logar hoje conhecido por Povi­nho da Entrada.

A esse tempo os indios que esta­cionavam nos arredores, bravios ainda, tinham tornado assás perigo­sa a travessia do Matto Castelhano, então feita por simples trilho, em cujas margens, favorecidos pelo cer­rado da floresta, se emboscavam cahindo de surpresa nos viajantes e matando-os barbaramente.

Em tal situação foi que José Do­mingues, grangeando a amizade desses selvicolas, delles conseguiu que não assaltassem as comitivas que por elle fossem conduzidas no referido Matto ; e entrou a fazer o papel de vaqueano ou guia das mesmas, levando-as até o Campo do Meio e de lá voltando com ou­tras, que ali o esperavam para se utilisar delle no mesmo serviço. [1]

E’ tradição corrente, abonada por antigas pessoas da redondeza, que, procurado por uma dessas comitivas e estando, por qualquer circumstancia, impedido de a conduzir no percurso alludido, cedia-lhe o seu bichará[2], conhecido dos indios, o qual, vestido por um dos viajantes que a constituiam, bastava para que a salvo passasse ella o ci­tado Matto, visto que os selvicolas, por semelhante ardil illudidos, fica­vam suppondo que elle proprio, Jo­sé Domingues, é que a ia conduzindo.

Um dia, andando elle a percorrer o seu campo, nas immediações do rio Carreteiro, e ouvindo para o lado deste uma acuação, no matto, para lá se encaminhou afim de veri­ficar o que era.

Como se tratasse de um tigre, logo fez fogo contra o mesmo, que ahi se lançou naquelle rio, trans­pondo-o.

Resolvido a matal-o, o perseguiu e atacou a facão, audacia que lhe foi fatal porque a féra, apanhando-o ahi, o deixou em lastimavel estado, no qual foi removido para sua ca­sa, onde, em consequencia, veiu a fallecer pouco depois : isto ha mais de 70 annos.

Assim terminou a existencia o pobre velho que, demasiado confi­ando em seu vigor physico, impru­dentemente se lançara em tão arris­cada aventura.

Sua memoria, porém, é conser­vada na redondeza e não raro apparece ao longe também, relembra­da sempre através das lendas que a emmolduram.

Deixou elle 12 filhos, sendo 8 homens e 4 mulheres, e a sua des­cendencia é hoje vastissima.

Referências

  1. [1] A proposito deste facto, narra o dr. Hemeterio José Velloso da Silveira, na sua importante obra As Missões Orientaes e seus antigos dominios, o seguinte: «Pelo mesmo tempo que o capi­tão Neves, foram chegando e arranchando-se outros chefes de familias, que foram outros tantos creadoies do futuro municipio e citaremos os nomes de João José dos Santos, Evaristo Francisco de Borba, Ma­nuel de Souza Duarte, Cezario Antonio Lopes, Theodoro da Rocha Ri­beiro, Bernardo Castanho da Rocha (no Pinheiro Torto), Bernardo Antonio de Quadros (na Cruzinha), Joa­quim Fagundes dos Reis, José Domingues, a entrada do Matto Caste­lhano, onde travou relações amisto­sas com os indios selvagens e tor­nou se protector dos viandantos, que indo com elle escapavam de ser mortos. Devido a influencia desse velho, puderam estabelecer-se no Campo do Meio os cidadãos Manuel José de Quadros, Antonio Alves de Rezende, Isaias Pacheco de Qua­dros (ourives), um velho Rosa, que falleceu com mais de 100 annos, e o adolescente Francisco Xavier de Castro, unico ainda vivo, pae do fi­nado major Francisco Xavier de Castro (o Chicuta), que tão brilhante papel representou na campanha con­tra o Paraguay (a). a) O nome deste major era Francisco Marques Xavier Chicuta.
  2. [2] Pala grosso, de lã, ainda hoje teci­do e usado em nossa campanha.