Imigração italiana: mitos e verdades
Imigração italiana: mitos e verdades
Em 30/04/2012, por Santo Claudino Verzeleti
SANTO CLAUDINO VERZELETI[1]
Por ser o mês de maio dedicado à imigração italiana, ocorrem comemorações em vários municípios do Rio Grande do Sul. E, por celebrar-se no dia 2 de junho a data festiva da República Italiana, muitas vezes as programações referem ambos os acontecimentos.
A capacidade do imigrante italiano e seus descendentes, para realizar negócios e desenvolver tarefas administrativas, foi sempre uma marca registrada desse povo que, além de esperto, era também trabalhador e econômico. O mesmo princípio continua valendo hoje: aquele que, em plena segunda-feira, não estiver a postos; ou larga o trabalho para beber um trago; ou ainda, entra madrugada adentro, jogando cartas, - por mais abastado que seja, com certeza estará a perigo. Por tais atitudes, muitos morreram pobres. E isso vale para todas as etnias.
Aconteceu também que, alguns dos imigrantes, investidos em cargos oficiais de representantes consulares, se aproveitaram da boa-fé dos menos favorecidos, extorquindo deles objetos de prata e ouro, lembrança de seus ancestrais.
Com raras exceções, todos desembarcaram no Brasil com uma bagagem ínfima: a roupa do corpo, alguns lençóis surrados, uma que outra ferramenta de trabalho, e meia dúzia de liras. Forte, imenso e corajoso, naqueles aventureiros, só o desejo de trabalhar, progredir, e de fazer a fortuna, como costumavam dizer, com coragem, perseverança e muita luta.
Foi desse modo que, gradativamente, começaram a surgir os primeiros sinais de que haviam feito uma boa escolha. Tudo o que enfiavam na terra, brotava rapidamente, adubado pelo suor do trabalho e pela parceria solidária.
A necessidade de médicos, professores e padres foi suprida, de início, por alguém do próprio grupo, uma vez que todos demonstravam uma enorme disposição de cooperar.
E assim foram passando, do artesanato à indústria; da escolinha rural aos cursos técnicos e universitários; da capela aos templos, repletos de adornos religiosos; e das vilas às cidades, cada vez mais exuberantes. Tudo se desenvolvia, graças à coragem, ao trabalho coletivo e à têmpera daqueles desbravadores, que não abandonaram, em meio a toda a privação, seus hábitos e crenças, nem a história vivida além-mar. Pelo contrário, se empenharam em preservá-la e enriquecê-la.
Foi assim que, na nova pátria, a mesa dos italianos, sempre farta, de polenta, radite, salame e vinho, incorporou também o churrasco, a feijoada, o aipim e o chucrute.
Houve igualmente a conscientização do respeito e da necessária preservação do ambiente natural, para o bem de todos os que nele vivem e trabalham. Outro ponto positivo, que contribuiu para a satisfação dos italianos e seus descendentes, foi a consciência de que aqui eles eram realmente proprietários e senhores do próprio destino.
Imbuído desse espírito, Andrea Pozzobon, após descrever a profunda dor de deixar os parentes e amigos, e o receio ante a viagem prolongada, num navio imundo, desconfortável e superlotado, em que vinham apinhados como sardinha em lata, assim se manifestou:
“Começamos a viver um pouco a vida italiana, perdida há dois meses”. Isso em 1885, quando os imigrantes aportaram em Rio Grande. Junto ao posto de fiscalização, naquele porto, via-se toda sorte de queijos, salames, presuntos, e também vinhos, ao custo de 400 réis a garrafa.
Nos dias de hoje, o cenário é bem diverso. Os imigrantes não mais se restringem aos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, pois se estenderam até o norte do país.
Desse povo, pode-se afirmar com segurança: “Taliani de feduce, fede e coraio”. (Italianos de convicção, fé e coragem.)
Referências
- ↑ Santo Claudino Verzeleti é membro da Academia Passo-Fundense de Letras e da Academia de Ciências Contábeis do RS. Fundador do Centro Cultural Italiano Anita Garibaldi.