General Prestes Guimarães - Um Centenário Esquecido

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General Prestes Guimarães - Um Centenário Esquecido

Em 2011, por Paulo Domingos da Silva Monteiro



General Prestes Guimarães

Paulo Domingos da Silva Monteiro[1]

Transcorrerá no dia 19 deste mês de setembro de 2011 o centenário de falecimento de Antônio Ferreira Prestes Guimarães. Filho de José Prestes Guimarães e Maria do nascimento Rocha, apesar do sobrenome, sua mãe era filha de Manoel José das Neves, primeiro morador branco a estabelecer-se na atual área urbana de Passo Fundo.

O transcurso dessa efeméride, ignorado pelas autoridades, as instituições culturais e os estudiosos da história regional é mais uma comprovação do que tenho afirmado com todas as letras e a plenos pulmões: o esquecimento da história passo-fundense. O esquecimento do centenário de morte do primeiro serrano a chegar ao governo do Estado (Província, na época), homem que presidira o Conselho Municipal (Câmara de Vereadores) de Passo Fundo e exerceria mandatos de deputado provincial (estadual) é um crime contra a memória do município e da região.

Pouco se sabe sobre onde realizou seus estudos. O historiador Heleno Damian, que há vários anos pesquisa a vida e a obra de Prestes Guimarães, estudou processos judiciais onde ele atuou como advogado, concluindo tratar-se de homem de grande cultura. Citava tratadistas franceses de Direito com proficiência, e demonstrava profundos conhecimentos sobre a história e a ocupação do solo passo-fundense.

Prestes Guimarães, muito jovem, exerceu o magistério e já, aos 27 anos, abriu a primeira banca de advogado no município, concomitantemente com o exercício da função de secretário do Comando da Guarda Nacional e, no ano seguinte, 1865, atuava como suplente de delegado municipal. Entre 1970 e 1973 ocupou a segunda suplência de juiz de Paz e secretário do Conselho Municipal (Câmara de Vereadores), que presidiu entre 1883 e 1886, o que lhe dava a condição correspondente ao atual cargo de prefeito. Nas legislaturas de 1885, 1887 e 1889, exerceu o mandato de deputado provincial.

Como deputado provincial travou memoráveis debates com os políticos conservadores, como Gervásio Luccas Annes, onde se vê que a “revolução da degola” foi apenas a continuidade da luta política sob outros meios.

Filiado ao Partido Liberal, era homem de confiança de Gaspar da Silveira Martins, tanto que foi por este indicado para governar a província, o que o fez, interinamente, entre 25 de junho e 8 de julho de 1889.

Homem pobre, vivendo do seu trabalho como professor e advogado (na verdade era rábula, advogado não formado em Curso Jurídico), e serrano, era ridicularizado, pela sua condição de “major”, como lembrou Sérgio da Costa Franco, na introdução que escreveu na introdução a Os Manuscritos de Prestes Guimarães, in A Revolução Federalista em Cima da Serra (Porto Alegre: Martins Livreiro – Editor, 1987):

Major meu, do Passo Fundo,

Acho arriscado o teu passo;

Não é pra qualquer do mundo

Ser delegado do paço.

Precisa ter algum fundo

Quem toma régua e compasso.

Major meu, do Passo Fundo,

Acho arriscado o teu passo.

O fundo passo que deu

O major do Passo Fundo,

Creio ser ele oriundo

Dos paços do Conde D’Eu.

.

Vai ser mesmo um jubileu

De alegrar a todo mundo

O fundo passo que deu

O major do Passo Fundo.

O autor desses triolets era nada mais nada menos do que o médico cachoeirense Ramiro Barcelos, sob o pseudônimo de Amaro Juvenal, o mesmo que empregaria, anos depois, para escrever Antônio Chimango, o mais representativo poema da gauchesca em Língua Portuguesa.

Neles transpira todo o preconceito contra a condição social e ao fato de não ter curso superior (“precisa ter algum fundo”) do político passo-fundense. Já o trocadilho passo/paçoremete ao alto conceito que dispunha na Corte, o que fica explicito na referência direta ao Conde D’Eu, o nada popular marido da princesa Isabel.

Em 1891 concorreu à Assembléia Legislativa pela União Nacional, mas não foi eleito. A exemplo do que acontecia no Império, o sistema eleitoral permitia que somente os candidatos da situação, no caso do Partido Republicano Rio-Grandense. Em novembro desse ano liderou um dos primeiros levantes contra a ditadura castilhista, ocupando militarmente Passo Fundo, à frente de caudilhos liberais. Daí por diante sua vida foi uma constante revolucionária, só interrompida em dezembro de 1895, com o fim da Revolução Federalista.

Exilado no Uruguai, esteve entre os comandantes da invasão do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1893. A 13 de março daquele ano assumia o comando substituto da 1ª Divisão do Exército Libertador. Comandou a ocupação de Alegrete, a 19 de março, e as vitórias sobre a Brigada Santos Filho nos combates de Lajeado (26 de março) e Jararaca, no dia seguinte, inclusive com a prisão daquele comandante legalista. Participou de outras importantes ações militares na Campanha, entre elas a Batalha Campal de Inhanduí (3 de maio). “Exportou” a Revolução Federalista para o Oeste do Paraná.

Após algum período de exílio na Argentina, retornou ao Brasil, sendo aclamado general, em Santo Ângelo, nos dia 12 ou 13 de março de 1894, unificando as forças dos caudilhos maragatos de Passo Fundo, Soledade e Palmeira, formando o Exército Libertador Serrano. Sob o comando direto de Prestes Guimarães a Divisão do Norte foi fragorosamente derrotada no Combate dos Três Passos (6 de junho de 1894) e teve papel destacado na Batalha do Pulador (27 de junho de 1894), acompanhando Gomercindo Saraiva até sua morte (10 de agosto).

Depois disso exilou-se, de novo na Argentina, onde contribuiu para nova derrota da Divisão do Norte, que invadira aquele país para derrubar o presidente da província de Corrientes.

Retornou ao Brasil, anos depois, fixando residência em Passo Fundo. Segundo se sabe, ao contrário do que afirmam historiadores áulicos, sua vida foi dificultada pela marcação que lhe faziam seus adversários.

Aqui permaneceu até sua morte a 19 de setembro de 1911. Seu corpo repousa no Cemitério Municipal da Vera Cruz, em túmulo que seus velhos companheiros federalistas mandaram erigir. (Transcrito da Revista Somando, Passo Fundo, RS, Edição 174 – Ano XVI – Setembro/2011, páginas 28 e 29).

Passo Fundo em 10 de setembro de 2011

(*) Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras e diversas entidades culturais do Brasil e exterior. Publicou os livros A Trova no Espírito Santo – História e Antologia, Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo, O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas e A Campanha da Legalidade em Passo Fundo, além de centenas de artigos e ensaios sobre temas literários, históricos e culturais.

Referências

  1. Paulo Monteiro pertence à Academia Passo-Fundense de Letras e diversas entidades culturais do Brasil e exterior. Publicou os livros A Trova no Espírito Santo – História e Antologia, Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo, O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas e A Campanha da Legalidade em Passo Fundo, além de centenas de artigos e ensaios sobre temas literários, históricos e culturais.