Futebol de Passo Fundo

From ProjetoPF
Jump to navigation Jump to search
Futebol de Passo Fundo
Descrição da obra
Autor Marco Antônio Damian
Título Futebol de Passo Fundo
Subtítulo contribuição à sua história
Assunto História
Formato E-book (formato PDF)
Editora Projeto Passo Fundo
Publicação 2011
Páginas 138
ISBN 978-85-64997-08-0
Formato Papel 15 x 21 cm
Editora Berthier
Publicação 1997

Futebol de Passo Fundo: contribuição à sua história Contribuição à História do Futebol de Passo Fundo. O título já explica o objetivo do livro. Contribuir com informações para que se mantenha viva essa riquíssima área da história do Município de Passo Fundo. O desejo do autor, em princípio, seria o de contar a História do nosso futebol. Tarefa impossível, porque a História em si é inesgotável. Toda a narração histórica fica dentro dos horizontes da pesquisa, sempre limitada.

Isto não invalida a tentativa de conhecer os fatos passados. É próprio do homem, ser temporal, o interesse pelas origens e o processo de desenvolvimento do que lhe envolve.

O futebol em Passo Fundo começou a ser jogado em 1913, ou seja, 84 anos. Um livro sobre o tema se faz necessário, dada a importância do esporte na vida das pessoas e da sociedade. Evidentemente, que ao longo desse período, muitas pessoas a ele ligadas mais diretamente já faleceram e os clubes, em sua maioria, deixaram de existir. Com eles se perdeu parte da história documentada.

Apresentação

PREFÁCIO, por Jorge Alberto Salton


Ao escrever sobre as nuances de nossa disputa futebolística, o autor coloca no papel bem mais. Registra a ponta de um iceberg, registra a parte consciente de um fenômeno político, social, psicológico e histórico marcante para todos que neste século por aqui viveram.

Certa vez escrevi um romance, Milan Miragem, onde conto que um técnico volta à sua cidade natal após muitos anos de exílio voluntário, contratado que fora para salvar um time prestes a cair para a terceira divisão.

Nesta sua volta, o passado também volta a se intrometer em sua mente. Acontecimentos estranhos o fazem se deparar com as conseqüências da tragédia que foi entre nós a Revolução Federalista.

Esta foi a maior guerra civil do Brasil, atingiu em cheio Passo Fundo. No período, nossa população foi reduzida de 25 para 15.000 mil habitantes. Muitos fora mortos, muitos fugiram.

A Batalha do Pulador, a maior desta guerra fratricida, se operou a 15km, creio, do centro da cidade. Envolveu mais de seis mil combatentes, mil ficaram mortos no campo de batalha.

O que fazer depois? A cidade dividida. A metade era Federalista, maragatos, liderados por Prestes Guimarães.

A outra metade, Republicana, chimangos, liderados por Gervásio Annes. A metade com as cores verde e branca dos Republicanos, a outra metade, com a cor vermelha dos Federalistas, o famoso lenço vermelho.

O que fazer com o ódio acumulado, com o desejo natural de vingança? Do outro lado da rua “eu” via o homem que matou meu sobrinho, meu pai. Na igreja, eu percebia a presença dos filhos de alguém que eu feri. A cidade era pequena, freqüentava-se os mesmos lugares, o mesmo cemitério. Gervásio Annes e Prestes Guimarães estão enterrados no Futebol de Passo Fundo – Marco Antonio Damian 10 mesmo cemitério, o cemitério da Vera Cruz, a dez passos um do outro. O que fazer com o ódio acumulado?

Em 1918, um grupo de pessoas funda o S. C. GAÚCHO, curiosamente com as cores verde e branca dos Republicanos.

Em 1921, um grupo de pessoas funda o 14 de JULHO, curiosamente com a cor vermelha dos Federalistas.

E a cidade passou quase cem anos sem falar na Guerra Civil que aqui houve. Nossos avós e os nossos pais não falavam no assunto. Meu avô só uma vez deixou escapar que, adolescente ainda, viu um homem ser degolado. Nas escolas não se falava em Republicanos e Federalistas, mas se fala e se falava o tempo todo no GAÚCHO e no 14.

Durante todo esse tempo em que a cidade não falou no lenço vermelho e no lenço verde e branco, ela falou no GAÚCHO e no 14 de JULHO. Na bandeira vermelha do 14, na bandeira verde do GAÚCHO.

As disputas eram acirradíssimas. A cidade se dividiu entre esses dois clubes. Todos, homens e mulheres, participavam dos intermináveis debates. Os estádios enchiam.

Os homens da revolução saíram de cena e deram lugar aos homens do futebol.

Em Milan Miragem, a certa altura, eu promovo o encontro entre Pedro Nassar, coureiro, homem de várias mortes, que carrega consigo a faca que seu avô usou nas degolas da guerra civil, com Artur Jorge, o técnico. O encontro do homem da revolução com o homem do futebol.

Lutam. Pedro Nassar tem o técnico sobre seu domínio. Resolve fazer o que sabe, degolá-lo. Manda-o tirar a roupa, como faziam antigamente para que ela não se sujasse de sangue já que passaria a ser sua propriedade. Degola é boa de sangue quente. Uma troteada. Artur Jorge, pelado e de sapato, corre ao lado de Pedro Nassar, vestido, com revólver no coldre e a famosa faca na cintura, nas costas.

Num dado momento, de forma totalmente inesperada, Pedro Nassar inicia queda para frente. O técnico, ex-jogador de futebol, batera com o pé esquerdo no pé direito do coureador, bem no momento em que este, levantado, iria cruzar pelo pé de apoio. Tranco sutil e eficiente de zagueiro curtido no futebol da Segunda Divisão.

Artur Jorge esticando rapidamente o braço conseguira alcançar o cabo prateado. Bem... a lâmina penetra por entre as costelas. O homem da revolução sai da cena histórica, eliminado pela chegada do homem do futebol. Artur Jorge, antes de ir embora, reúne folhas e gramas e faz um travesseiro sobre o qual deposita, com cuidado, a cabeça morta de Pedro Nassar.

Um gesto... o reconhecimento de que Pedro Nassar era também seu passado. O homem do futebol é a continuação atenuada do homem da revolução das degolas. É o homem que aprende a disputar sem matar. É o homem que trilha o caminho da pacificação.

GAÚCHO e 14, Verdes e Vermelhos, continuaram a ser depositários de nossos demônios.

Sartre dizia: “os demônios são os outros”.

Enquanto existiram as disputas acirradíssimas entre GAÚCHO e 14, nossa cidade vivia o futebol local numa rivalidade ainda mais intensa do que a do Grêmio e Inter, em nível estadual.

Quando o 14 foi extinto, a disputa terminou, o futebol de Passo Fundo se esvaziou, numa prova de que a sua pujança, a sua força não era devido ao espetáculo, havia uma outra função bem mais profunda.

Nós sabíamos onde estavam os demônios. Para alguns, os demônios eram verdes e estavam na montanha... Para os outros, eram vermelhos e estavam no Estádio Celso Fiori...

Nossas disputas futebolísticas representam para o Brasil m pequeno estudo de caso. O estudo da função forte do futebol numa pequena cidade, ajudando seus habitantes a digerir uma tragédia.

Os dados pacienciosamente coletados e habilmente colocados no papel por Marco Antonio Damian preenchem uma grande lacuna. De agora em diante, e para sempre, teremos uma fonte de pesquisa à mão. Sabemos quem foram os homens do futebol, os imprescindíveis homens do futebol.

Ao autor, o nosso muito obrigado.

Índice

  • PREFÁCIO 9
  • APRESENTAÇÃO 13
  • Capítulo I 15
  • OS CLUBES 17
  • Sport Club Gaúcho 20
  • Grêmio Esportivo e Recreativo 14 de Julho 30
  • Riograndese Foot Ball Club 38
  • Sport Club Cruzeiro 42
  • Independente Grêmio Atlético de Amadores 45
  • Esporte Clube Atlético 49
  • Esporte Clube Passo Fundo 52
  • Capítulo II 57
  • GRANDES JOGOS 59
  • Sport Club Gaúcho e a campanha de 39 60
  • 14 de Julho x Internacional 65
  • Independente x Grêmio 68
  • 14 de Julho x Veterano 71
  • Seleção de Passo Fundo x Olaria RJ 75
  • 14 de Julho x Gaúcho 78
  • 14 de Julho x Avenida 81
  • Gaúcho x Palmeiras 85
  • Gaúcho x Uruguaiana 88
  • Gaúcho x Grêmio 91
  • Capítulo III 95
  • JOGADORES E TÉCNICOS 97
  • Capítulo IV 129

A CRÔNICA ESPORTIVA 131

Conteúdos relacionados

Referências