Ferrovia L-35
Ferrovia L-35
Em 07/08/2007, por Santo Claudino Verzeleti
Santo Claudino Verzeleti
A construção do tronco sul de uma estrada de ferro, ligando os municípios de Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre, Passo Fundo, Iraí e Foz do Iguaçu, seria a redenção do sistema ferroviário do centro do Estado e o conectaria com os países andinos.
Por esse motivo foi iniciada a edificação do principal trecho, Passo Fundo/Porto Alegre, da L-35, também chamada “Ferrovia do Trigo”, atualmente “EF-491”.
Resultado de um projeto de alta tecnologia, de traçado retilíneo e construída para bitola estreita, apresentava infra-estrutura para implantação imediata de bitola larga e, em razão disso, projetaram-se inúmeros túneis e viadutos gigantes, tornando seu custo extremamente elevado. Devido ao excessivo ônus, o Ministério dos Transportes encomendou à Empresa de Assessoria e Planejamento (Asspan), um estudo sobre a viabilidade econômica da Ferrovia do Trigo. O resultado do trabalho sugeriu a impossibilidade da sua conclusão, ocorrida em 1988.
O efeito foi imediato. Em carta-circular aos empresários da região, o engenheiro-chefe do Distrito Ferroviário, com sede em Porto Alegre, comunicava o encerramento dos trabalhos na L-35, e das respectivas medições, para acerto final com as empreiteiras. Formou-se assim o consenso geral de que a Ferrovia do Trigo estava definitivamente sepultada.
Foi quando Salim Buaes empunhou a bandeira da missão quase impossível, qual era a de concluir a ferrovia Passo Fundo/Porto Alegre. Diretor da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas da adolescente Universidade de Passo Fundo, Buaes assumiu o comando da ingente tarefa. Em seminário na universidade, com os participantes desesperançosos, foram criadas várias comissões de trabalho. As pesquisas ficaram por conta das faculdades de Economia e Agronomia.
Certa feita, estávamos em audiência com o ministro dos Transportes, Mário Andreazza, no Rio de Janeiro, quando Salim Buaes iniciou a exposição de nosso objetivo.
O ministro atalhou, claro e incisivo: a prioridade do Ministério dos Transportes, no Rio Grande do Sul, era a barragem no Rio Taquari, tornando-o navegável do porto de Estrela até a capital e, em decorrência, até o porto de Rio Grande. Com as pesquisas em mão,
Salim provou ao ministro que 52% da produção de grãos, no Estado do Rio Grande do Sul concentrava-se nas regiões do Planalto Médio e das Missões, na ponta norte da L-35, e que Porto Alegre restaria prejudicada sem esta ferrovia.
A etapa seguinte foi trazer para o campo de luta a imprensa e as lideranças do Estado, com toda a comunidade apoiando o projeto.
O sonho da Ferrovia do Trigo renasceu ao ser instalado, em Passo Fundo, o Pólo Petrolífero, que passou a distribuir produtos de petróleo para todo o Norte do Estado e Oeste catarinense, com uma enorme economia nos fretes.
E a L-35, hoje EF-491, desvencilhada da mentalidade estreita da administração estatal, veio a ser um dos maiores empreendimentos econômicos, oportunizando um desenvolvimento considerável para a toda a região. A participação do povo qualificou os argumentos de sua efetivação. No plenário da Assembléia Legislativa, o deputado Darcilo Giacomazzi pronunciou-se a respeito da L-35, aplaudindo as reportagens do jornalista Antonio Carlos Ribeiro, que demonstrou a viabilidade econômica da ferrovia, contestando o Ministério dos Transportes. O jornal Correio do Povo abraçou a causa com um trabalho magnífico, que fez despertar o governo federal e, especialmente, o Congresso Nacional, quanto à relevância do projeto.
Tais manifestações motivaram também o apoio de entidades representativas do município e de toda a região circunvizinha. Entre elas: a Universidade de Passo Fundo, a Prefeitura Municipal e outras de destacada atuação na vida política local e regional.
Entretanto, o impasse da ligação ferroviária com Passo Fundo permanecia, a despeito de o Correio do Povo, em várias edições do jornal, emitir comentários contundentes acerca da odisséia da ferrovia que não chegava ao fim.
Por sua vez, O Nacional e o Diário da Manhã, de Passo Fundo, hipotecaram solidariedade à causa, com manchetes favoráveis ao clamor do povo.
Finalmente, depois de quase meio século, a importante estrada tornou-se realidade. Sem sombra de dúvidas, um marco no desenvolvimento econômico de grande extensão do Rio Grande do Sul, que, por este feito, muito deve a Eurico Gaspar Dutra, Clovis Pestana, Ernesto Geisel, Dirceu Nogueira, Murilo Coutinho Annes, Salim Buaes e Mário Menegaz.
A inauguração aconteceu durante a administração municipal Wolmar Salton/ Firmino Duro, e possibilitou a Passo Fundo tornar-se um dos maiores centro agroindustrial e comercial do interior do Rio Grande do Sul.