Ernani Guaragna Fornari
Ernani Fornari | |
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Nome completo | Ernani Guaragna Fornari |
Nascimento | 15 de dezembro de 1899 |
Local | Rio Grande/RS |
Morte | 8 de junho de 1964 |
Local | Rio de Janeiro/RJ |
Ocupação |
Ernani Guaragna Fornari nasceu em Rio Grande, 15 de dezembro de 1899, faleceu no Rio de Janeiro, 8 de junho de 1964, foi um escritor, poeta, teatrólogo e historiador brasileiro, cuja obra literária transita entre o Simbolismo e o Modernismo.
Filho de um imigrante italiano de hábitos boêmios, teve uma infância pobre. Iniciou sua carreira de escritor com a poesia, publicando sua primeira obra em 1925, Missal da ternura e da humildade., aderindo a uma estética modernista posteriormente, escrevendo, também, poemas em prosa. Também publicou livros de contos, como o Guerra das fechaduras, em 1931; romances, O homem que era dois, em 1935; e peças de teatro.
Biografia
A tarefa de escrever sobre Ernani Guadagna Fornari concretizou-se à medida em que fui conhecendo o grande romancista, poeta, dramaturgo, político, homem honrado, crítico do seu tempo e democrata. Sabia que encontraria beleza na obra dele e o que me surpreendeu foi sua fidelidade às convicções que defendia, sem cair no pragmatismo de abandonar ou aderir a fileiras partidárias, para sua promoção pessoal. Percebi tratar-se de uma pessoa fiel aos outros, mas, principalmente à sua ética pessoal. Após ter um bom conteúdo sobre suas obras e biografia, pareceu mais apropriado inserir o leitor no contexto da época e das circunstâncias em que vivia Ernani.
Vejamos:
Houve, no final do Século XIX, uma ruptura na concepção de mundo, o que foi transportado para as artes. Estabeleceu-se a crise existencial pós-industrialização. O movimento correu ao contrário da lógica capitalista e refletiu a inquietude do antipositivismo e antimaterialismo. Houve um levante simbolista na França com Rimbaud, Baudelaire, Mallarmé, Valéri e Verlaine, que inauguraram uma forma de dizer sem dizer, de abusar do símbolo para dizer, pois este fala mais do que as palavras. O movimento sugere, esconde, cria uma forma camuflada do dizer poético. Os simbolistas não revelam diretamente os sentimentos. Os franceses fizeram escola no Brasil, de norte a sul. No Rio Grande do Sul, os simbolistas mais importantes foram Felipe D?Oliveira e Eduardo Guimaraens. No nordeste, prosperou Augusto dos Anjos.
A República e a escravidão fizeram com que os simbolistas brasileiros, mesmo bebendo da escola francesa, conseguissem identidade e características que só podiam ser concebidas no Brasil da época, tornando-se uma variedade tropical. O simbolismo conseguiu grande visibilidade com Ernani Fornari. Este escritor nasceu em 15 de dezembro de 1899, em Rio Grande (RS), é filho de Maria do Carmo Guadagna e Aristides Fornari, imigrantes italianos. Tinha três irmãos: Othelo, Norma e Fausto, nascidos na Itália. O pai era militante anarquista, fato que o fez deixar a família para lutar por seus ideais na Itália, o que gerou um enorme sentimento de mágoa com relação a ele, por parte de Ernani.
Ernani estudou em Rio Grande, depois no Seminário Santo Antonio em Garibaldi e em Porto Alegre. Em Garibaldi, entrou em contato com as belezas da serra rio-grandense, fato que proporcionou-lhe material para escrever Trem da Serra. Em 1920, trabalhou na Viação Férrea em Bento Gonçalves, onde participou do processo de encurtamento das distâncias, uma dinâmica cultural propiciada pelas estradas de ferro; em 1923, no Correio Mercantil de Pelotas, trabalhou na redação.
Ernani começou sua obra literária em uma época de cisão entre o pensamento tecnocrata e materialista, para mergulhar na estética moderna. Publicou seu livro de poesias Missal de ternura e humildade, obra influenciada pelo Simbolismo, porém sugerindo sua entrada inexorável no Modernismo. O eminente espírito simbolista pode-se observar em Eu, poema de sua obra inaugural, o qual mostra o trânsito de Fornari pelo clima da época, marcado por Freud. Ele parte do Eu, passa pelo EGO, aviva o maniqueísmo e imprime fortemente o dualismo do santo e do profano.
Fornari mostrou seu agnosticismo em seus poemas, como no Compensações. Oscilou entre fé e razão em um processo dicotômico. E, em 1924, começou uma fase de prestígio intelectual e tornou-se figura importante na Porto Alegre de meados da década de 1920. Dirigiu a revista Máscara, na qual atuou também como ilustrador e permaneceu em Porto Alegre por dez anos. Colaborou, nessa época, com diversos periódicos, como Diário de Notícias, Jornal da Manhã, Revista do Mês e Revista do Globo. Faz parte da geração modernista, junto com Erico Verissimo, Mansueto Bernardi, Augusto Meyer, Vargas Netto, Olmiro de Oliveira e outras figuras importantes.
Em 1925, casou-se, aos vinte e seis anos, com Lorena Aguiar Pereira, de Santa Vitória do Palmar, com quem teve os filhos Zoé e Cláudio Rubens.
Ernani participou ativamente do movimento modernista, procurando não dogmatizá-lo, embora tivesse um papel de participação cultural e ideológica, junto com Mário de Andrade (Macunaíma), Oswald de Andrade (Manifesto antropofágico), Paulo Prado (Retratos do Brasil). Lançou uma nova região geopolítica na literatura, com 32 poemas líricos, usando elementos da serra gaúcha, o imigrante e o caboclo como um novo tipo étnico brasileiro.
Ernani, a exemplo de Baudelaire, rompeu com o espírito conservador da época e inovou, tratando de temas existenciais e sociais, como a escravidão, tendo como foco a realidade brasileira. Praia dos milagres é composto por prosas poéticas já publicadas na imprensa.
Iniciou sua carreira política como secretário do interior, em 1934, e, em 1935 seguiu com a família para o Rio de Janeiro, a fim de integrar o governo de Getúlio Vargas. Retirou-se, em 1939, por não concordar com a postura ditatorial do governo. Simultaneamente, publicou o romance O homem que era dois e a peça Nada, representada com sucesso e reeditada três vezes.
A peça Iaiá Boneca foi encenada pela Companhia Brasileira de Comédia, dirigida por Oduvaldo Vianna. Percorreu o país e teve tanto sucesso, que Ari Barroso compôs a marchinha de Carnaval Iaiá Boneca.
Ernani tinha um profundo sentimento de lealdade para com Getúlio Vargas, o que não o impediu de desligar-se e passar a ocupar o cargo de secretário do Instituto Brasileiro para a Educação, Ciência e Cultura (Comissão Nacional da Unesco). Em 1940, publicou a peça Sinhá moça chorou, a mais importante de sua carreira. A estreia foi encenada por Dulcina de Morais e teve prêmio da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Sinhá moça chorou deu tranquilidade financeira à família Fornari e é levada até hoje com sucesso.
A fundação da Revista Cocktail permitiu que Ernani continuasse seu trabalho de jornalista e, em 1947, publicasse a peça Quando se vive outra vez, assim como, em 1951, publicou Sem rumo. Mudou-se para Portugal em 1954 para assumir o cargo de secretário geral da Embaixada do Brasil em Lisboa. Aposentou-se em 1960 e publicou o Incrível padre Landell de Moura, pessoa que batizara seus filhos e muito amigo da família.
O Rio de Janeiro foi o cenário da morte de Ernani Fornari, no dia 8 de junho de 1964. Deixou várias obras inéditas: Teoria da bengalada (de contos); Quatro poemas brasileiros (seleção de poesias, escritas em tom de pastiche e ironia, inaugurando um novo conceito de poesia) e Os filhos julgam e Veranico de maio (peças teatrais).
Títulos, prêmios e honrarias
Patrono APLetras
- 1939 - Sabino Ribas Santos, Acadêmico ocupante da cadeira APLetras nº 17[1]
- 1961 - Patrono da APLetras cadeira nº 17[2]
- 1961 - Paulo Giongo, Acadêmico ocupante da cadeira APLetras nº 17[3]
- 2001 - Ana Carolina Martins da Silva, Acadêmico ocupante da cadeira APLetras nº 17[4]
- 2010 - Sueli Gehlen Frosi, Acadêmico ocupante da cadeira APLetras nº 17[5]
Conteúdos de seu acervo
Conteúdos relacionados
Referências
- ↑ SANTOS, Sabino R. (1965). Academia Passo Fundense de Letras: Breve Histórico. Passo Fundo: NI. 80 páginas. 38
- ↑ SANTOS, Sabino R. (1965). Academia Passo Fundense de Letras: Breve Histórico. -Passo Fundo: NI. 80 páginas Digitalizado. p.30-33 - 37
- ↑ SANTOS, Sabino R. (1965). Academia Passo Fundense de Letras: Breve Histórico. Passo Fundo: NI. 80 páginas. 30-33
- ↑ LECH, Osvandré LC. (2013). 75 anos da Academia Passo-Fundense de Letras. Passo Fundo: Méritos. 312 páginas 54
- ↑ LECH, Osvandré LC. (2013). 75 anos da Academia Passo-Fundense de Letras. Passo Fundo: Méritos. 312 páginas 54