Ele amou a comunidade até a morte
Ele amou a comunidade até a morte
Em 30/11/2013, por Welci Nascimento
PADRE PAULO JAQUES: Ele amou a comunidade até a morte
WELCI NASCIMENTO[1]
Fui residir com esposa e filhos na Vila Luisa, no inicio da década de 1970. Fomos até a capela são Judas Tadeu para assinar a nossa residência na Rua Marcelino Ramos, 1007. Na época não havia o templo que existe hoje. Havia, isto sim, um grande pavilhão de madeira, com portas e janelas também de madeira. Ao lado uma pequena casa, também de madeira que era a sede do grupo de Jesus. A frente havia uma quadra asfaltada para a prática de futebol de salão ao relento. Na lateral direita do pavilhão havia um espaço destinado aos idosos para a prática da bocha e carteado de canastra. Junto havia um pequeno bolicho, onde eram vendidos doces, salgados e uns tragos de pinga.
Não havia um metro sequer de ruas calçadas. Estas eram todas envaletadas, onde corriam dejetos que vinham lá do alto das ruas Morom e General Osório. Próximo à vila se localizava o presídio estadual. Os presidiários quando fugiam procuravam se esconder na baixada da Vila Luiza, que era considerada pela policia um lugar perigoso para morar.
Pois bem, foi para lá que foi designado o Padre Paulo Jaques, jovem recém-ordenado para evangelizar. Na vila não havia água encanada. Foi daí que o povo ajudou o Padre Jaques, perfurando um poço tradicional para encontrar água. A dedicação do Padre Jaques era exclusiva em favor da sua comunidade.
No inicio, quando praticamente faltava tudo para organizar na comunidade, ele permaneceria instalado no centro da cidade, recusando todo o tipo de ajuda. Aos poucos, com a participação popular, ele ia construindo junto com a comunidade. Levantaram um pavilhão grande. Ali acontecia de tudo. Seria para a realização de reuniões com o povo, de festas, de velórios, para a realização de bailes, exposição de peças teatrais e, aos sábados e domingos, para a celebração da eucaristia.
Pe. Paulo Jaques era amigo de todo mundo. Seu automóvel, usado, servia mais para conduzir doentes e necessitados de todo o bairro, levando as pessoas para hospitais, consultórios médicos e até fazendo favores comerciais. Não tinha dia nem hora para atender os que procuravam seus préstimos.
Com sua liderança conseguiu a instalação de um posto policial, através da Brigada Militar, um pequeno ambulatório médico, construiu uma área de lazer, com participação de um grupo de jovens. Com eles o padre criou um grupo teatral. Peças são apresentadas não só na comunidade, mas para os moradores do centro da cidade. O casamento, altos dos atos litúrgicos, como no natal e Paixão de Cristo, eram teatralizadov em vias publicas e no templo.
Os jovens e os idosos eram os focos principais do seu trabalho evangélico. – Precisamos saber ocupar o tempo dos jovens, dizia. O povo da Vila Luiza tinha um carinho especial pelo seu pastor. Havia uma perfeita dedicação entre povo e pastor.
O modo de evangelizar do padre, agindo e interagindo com o povo mudou o comportamento da comunidade. A baixada da Vila Luiza tinha a fama de ser um lugar perigoso para se morar, segundo a polícia. Tudo mudou.
Em 21 de setembro de 1970, o Padre Paulo Jaques morreu tragicamente, pelas mãos de um jovem, em pleno centro da cidade, no interior de uma sala de cinema na Avenida General Neto. Foi um choque muito forte para o povo daquela vila, que amava profundamente o seu pastor.
Referências
- ↑ Welci Nascimento, historiador e memorialista, é membro da Academia Passo-Fundense de Letras e do Instituto Histórico de Passo Fundo.