Daniel e Francisca Betts: missionários metodistas estadunidenses em Passo Fundo
Daniel e Francisca Betts: missionários metodistas estadunidenses em Passo Fundo
Em 2019, por Roberto Biluczyk
Roberto Biluczyk[1]
O metodismo, surgido como um movimento de renovação da fé anglicana, deu seus primeiros passos junto à Universidade de Oxford, onde estudantes, liderados por Charles Wesley (1707-1788) e John Wesley (1703-1791), promoviam reuniões de estudo da Bíblia. Nos Estados Unidos, em 1784, a Igreja Metodista se tornou uma religião independente.
A promoção do trabalho missionário, especialmente voltado à evangelização e à educação, é um dos preceitos da religião. Desse modo, a Igreja Metodista se instalou em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, chegando ao Rio Grande do Sul em 1885, constituindo aos poucos novas obras, com apoio de missionários, em sua maioria, oriundos dos Estados Unidos.
Em 1919, dois novos missionários estadunidenses foram habilitados ao serviço no Brasil. Daniel Lander Betts (1887-1965) e Fannie Virginia Scott (1896-1983). Naturais do Estado da Carolina do Sul, EUA, haviam sido delegados para trabalhar em Juiz de Fora/MG e Piracicaba/SP, respectivamente. Conforme a historiografia metodista, Daniel e Fannie se conheceram em Nova York, quando estavam prestes a embarcar no navio que os traria para o Brasil.
Da longa viagem, os missionários sairiam noivos. Fannie, no entanto, deveria aguardar o término de seu primeiro contrato de trabalho – cinco anos – para poder se casar. A obrigação foi, afinal, dispensada pelo bispo estadunidense John Monroe Moore (1867-1948), responsável pela religião no Brasil. Moore incentivou e realizou o casamento de Daniel e Fannie, em 25 de novembro de 1920.
Ao se casarem, os missionários foram transferidos para Passo Fundo, onde trabalhariam por quatro anos no Instituto Gymnasial – atual Instituto Educacional Metodista (IE) –, fundado no início de 1920 pelo colega de missão, Jerome Walter Daniel (1884-1955). Na escola, ele atuaria como diretor geral e ela como supervisora do internato e professora. Betts também acumularia a liderança local da Igreja Metodista. Em Passo Fundo, Fannie passou a ser conhecida como Francisca Betts, nome que utilizou até o fim de sua vida. Na cidade, nasceriam dois de seus quatro filhos.
Na gestão de Daniel Lander Betts foram concluídos e inaugurados, entre 1922 e 1923, os dois imponentes edifícios do educandário, um deles ainda existente na atualidade. A historiadora Delma Rosendo Gehm (1917-2008) ainda lhe atribui a concepção do primeiro transporte escolar em Passo Fundo. Uma diligência conduzia alunos e professores, do Centro para o Boqueirão e vice-versa, encurtando distâncias entre os pontos. Sua ação como gestor foi fundamental para o desenvolvimento da escola em suas atividades iniciais.
Após cerca de dois anos longe da cidade, o casal Betts retornou a Passo Fundo em fins de 1926, permanecendo até o final de 1928. O jornal O Nacional, em 25 de janeiro de 1928, divulgava amplo anúncio do Instituto Gymnasial, detalhando o grupo de quinze professores que lecionaria na instituição naquele ano. Betts, além de dirigir o educandário, ministraria aulas de Instrução Cívica, Latim e Datilografia, enquanto Francisca seria a professora do jardim de infância.
Daniel e Francisca Betts continuariam suas missões nos anos seguintes em diversas localidades do país, como Uruguaiana/RS, Porto União/SC e Curitiba/PR. Em meados dos anos 1940, passariam a atuar em Porto Alegre, retornando para Passo Fundo em 1952, no comando da escola que ajudaram a edificar, cobrindo um ano de licença do diretor William Richard Schisler (1889-1971) e de sua esposa, Frances Purcell Schisler (1889-1983).
O falecimento de D. L. Betts, em 05 de outubro de 1965, seria destacado em O Nacional no dia seguinte, pela proeminência do Reverendo junto à área educacional e à Igreja Metodista do Brasil. Segundo o jornal, Betts era alvo de admiração “não só pelo seu espírito cavalheiresco e atitudes cordiais, mas também pela cultura que sempre demonstrou nas lides educacionais”.
Francisca continuaria a viver em Porto Alegre, atuando em atividades da Igreja, falecendo em 20 de novembro de 1983. No Brasil, o casal Betts encontrou possibilidade de colocar em prática o conjunto de ideias defendido por sua religião, alcançando sucesso em suas ações.
Referências
- ↑ Mestrando em História – PPGH-UPF