Centenário de nascimento de César Santos

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Centenário de nascimento de César Santos

Em 30/11/2004, por Antônio Augusto Meirelles Duarte


Centenário de nascimento do médico, cientista, líder político e implantador do ensino superior em Passo Fundo - César José dos Santos


MEIRELLES DUARTE[1]


O ano de 2004 marca o centenário de nascimento de uma personalidade que mesmo não tendo aqui nascido, deu à sua cidade adotiva o melhor de sua vida, o fruto de sua fulgurante inteligência e que não poderá, jamais, ser esquecido, nem agora como no futuro. O cientista e médico César Santos marcou o seu nome, intimamente vinculado a sua Passo Fundo, no mundo inteiro. Cursou duas faculdades: a de Farmácia, cuja conclusão conseguiu em 1932, e a de Medicina, formado que foi com distinção em 1933, ambas na capital do estado.

Para conseguir fazer frente a estes dois importantes cursos, foi professor da Escola Cruzeiro do Sul, onde deixou sua marca na comprovação dos seus conhecimentos e inteligência. Dois anos após formado médico, a Congregação da Faculdade lhe conferiu o prêmio Osvaldo Cruz, medalha de ouro por trabalho qualificado como "notável". Em 1937, conseguiu, com raro brilho, a aprovação para docente da mesma Faculdade de Medicina. O ano de 1945, foi o ano em que Passo Fundo o recebeu, quando, além de vir consorciar-se com dona Rosa Pereira, instalaria sua clínica com serviços de eletrocardiografia e eletroencefalografia, passando a sua instituição a gozar do mais alto conceito, neste e em vários outros estados da Federação.

Cientista de envergadura, figurou entre os poucos brasileiros de sua época que se fizeram ouvir em congressos internacionais. Em 1950, em Londres, seu trabalho sobre linfografia mereceu distinção especial, com diploma e medalhas que até hoje estão expostos na sala César Santos, na biblioteca de nossa universidade. Em 1965, esteve na Áustria, num curso avançado de aperfeiçoamento, e foi um dos presidentes do memorável Congresso Internacional de Radiologia de Roma. Tudo comprovado com medalhas e diplomas. Preparava-se para participar de um congresso em Tóquio, quando a doença, que o levou, se manifestou. E foi ele proibido pelos médicos de viajar. Foi ele, com a mais moderna clínica, na época, de todo o interior, pioneiro no tratamento do câncer. A tuberculose era o mal do século. Especializou-se no tratamento dessa doença e tornou-se o maior nome nessa especialidade.

Foi um político militante e de grande destaque. Participou da fundação do PTB de Getúlio Vargas, posteriormente do MDB. Foi deputado estadual e federal. Mantinha grande vínculo com os maiores líderes da política brasileira.

Getúlio Vargas foi seu hóspede, em 1950, quando aqui esteve em campanha política que terminaria elegendo-o Presidente da República. Também Leonel Brizola, como governador do estado, foi por várias vezes seu hóspede. Amante de Passo Fundo, ídolo de seu povo como médico humanitário que sempre foi. César Santos candidatou-se e elegeu-se prefeito no pleito de 1968, tendo Guaracy Marinho como vice. Nos dois primeiros anos, administrou a cidade, com especial carinho à saúde e à educação. Faleceu em 1970 e Guaracy Marinho completou o período executivo.

Foi o idealizador e o realizador do ensino superior em nossa cidade, lutando contra adversários políticos que tentaram roubar-lhe esta distinção, o que ninguém, em tempo algum, conseguirá. Todos os que passaram e continuam hoje presentes nos bancos universitários de nossa fulgurante universidade, devem ter sempre à frente a figura do pioneiro César Santos que, mesmo sofrendo injustas investidas, quando lhe tomaram as rédeas da universidade, jamais poderá ser esquecido ou ignorado.


Filho de Soledade

Nasceu em Soledade, nos campos de seu pai, pecuarista José Antônio dos Santos, e de dona Maria dos Santos, no dia 30 de março de 1904, há 100 anos. Sempre houve na família a promessa da torná-lo médico, pois, dispondo de meios, queria seu pai ter um filho numa posição de destaque. Ao concluir o curso primário, foi levado à capital, onde passou a freqüentar os melhores colégios que lá existiam. Após matriculou-se nas faculdades de Farmácia e Medicina, fazendo, concomitantemente os dois cursos. Concluiu a Farmácia em 1932 e a Medicina em 1933, sem qualquer reprovação. Já em 1934, defendeu tese de doutoramento, tendo sido aprovado com distinção, grau 10. Em 1935, foi-lhe conferido o prêmio "Osvaldo Cruz", medalha de ouro por trabalho notável. Em 1937, submeteu-se a concurso para docente na Faculdade de Medicina, sendo aprovado de forma brilhante. Todos esses títulos, devidamente comprovados por diplomas e medalhas, hoje estão na sala "César Santos", no campus da nossa universidade.


A família

Dr. César Santos consorciou-se com a senhora Rosa Pereira, em 22 de dezembro de 1945, em nossa cidade. Dona Rosa, hoje residindo com a filha em Porto Alegre, nasceu no dia 26 de fevereiro de 1918, estando com 86 anos. O casal teve os filhos, Radia, médica radiologista na capital, nascida no dia 13 de outubro de 1946, e César José dos Santos Filho, empresário aqui residente, nascido em 23 de setembro de 1959.


O pioneiro do ensino universitário

Nessa homenagem a César José dos Santos, pelo centenário do seu nascimento. Falaremos um pouco do seu pioneirismo, do seu sonho de Passo Fundo um dia desfrutar da uma universidade. Os caros leitores constatarão que, realmente, nosso homenageado deteve e mantém, até hoje, esse invejável pioneirismo que ninguém dele poderá tirar nem duvidar, apesar de tudo o que ocorreu anos mais tarde. Não queremos, por outro lado, ignorar os grandes nomes que vieram após César e Reyssoli Santos, numa seqüência de grandes administradores que muito lutaram para tornar o que hoje é a fulgurante Universidade de Passo Fundo, até o atual reitor. Rui Getúlio Soares.

O que promovemos é uma homenagem, no seu centenário, àquele que, um dia, foi além do sonho, tornando-o realidade, não cm benefício próprio, mas de milhares de jovens brasileiros: o ensino superior em Passo Fundo. Deixemos de lado momentos condenáveis, como as retomadas da então Sociedade Pró Universidade, para nos reportar aos dados que garantem o pioneirismo ao nosso homenageado.


A histórica Ata n° 1

Não precisamos ir ao fundo dos arquivos que tudo registraram nos órgãos de imprensa da cidade, para confirmarmos esse pioneirismo. Uma ata, há 54 anos lavrada, é suficiente para coroarmos a gigantesca obra de César Santos, até hoje desfrutada por milhares de jovens. Trata-se da Ata n° 1, datada de 24 de janeiro de 1950, e lavrada nos salões de festas do Clube Comercial. Vale não só por seu conteúdo, como, principalmente, pelas personalidades que prestigiaram e assinaram esse valiosíssimo documento.

"Perante grande número de representantes das classes culturais, industriais e comerciais, foi aberta a sessão pelo Dr. Rômulo Cardoso Teixeira que, incumbido pelos componentes da reunião, convidou Dr. César Santos para presidir os trabalhos. O Dr. César Santos expôs os motivos da reunião, fazendo ampla explanação sobre a finalidade e a possibilidade da fundação da Universidade de Passo Fundo. Após várias manifestações, o Dr. Francisco Antonino Xavier e Oliveira, proferiu empolgante discurso, congratulando-se com a idéia, afirmando que considerava a iniciativa um marco histórico para a vida intelectual de Passo Fundo. Falaram, ainda, o Dr. Celso Fiori e o Irmão Marista, Paulo Maria. Foi constituída uma comissão formada pelos senhores, Dr. Celso Fiori, Dr. Frederico Morsch, Irmão Paulo Maria, Dr. Francisco Antonino Xavier e Oliveira, Dr. Isaac Melzer, Juiz de Direito, Dr.Rômulo Texeira. Reverendo Sady Machado, Dr. Verdi De Césaro e Dr. César Santos. Por aclamação foi escolhido para presidir esta comissão, o Dr. César Santos." Assim segue a ata apontando as primeiras providências que a comissão adotou, sendo essa reunião considerada como o berço, o nascimento do ensino universitário em Passo Fundo.


Como César José dos Santos chegou à Prefeitura de Passo Fundo, em 1968, com Guaracy Marinho

Nessa matéria que marca o centenário de nascimento do médico, cientista, pioneiro do ensino superior e líder político, César José dos Santos, chegamos a 1968, ano que marcou sua consagração nos meios políticos municipais, depois de fundar e presidir, por muitos anos, o velho PTB, sendo absorvido, após a revolução, pelo MDB.


O convite

A legislação eleitoral, em 1968, permitia as sublegendas para cada partido, no número máximo de três. Assim partiram os dois partidos locais, ARENA e MDB, para a sucessão de Mário Menegaz e Adolfo João Floriani. Uma comissão de alto nível visitou César Santos em sua residência, contando, dentre outros, com os senhores Eleodoro Antunes Fernandes, Mauro Machado, Camilo Leôncio Ribeiro, Sabino Santos e vários outros. O convite foi formulado e, com a influência da sua esposa, dona Rosa Santos, César Santos terminou por aceitar a duríssima missão.


A sublegenda do MDB

O MDB tratou de constituir suas três sublegendas: uma tinha Wolmar Salton, com Nilo Zimermann, na vice; Sinval Bernardon, com Hilário Rebechi, na vice; César Santos, com Guaracy Marinho, na vice. A ARENA tinha Augusto Araújo Trein, com Romeu Martinelli, na vice; Adolfo João Floriani, com Ney Vaz da Silva, na vice; Anildo Sarturi, com Fidêncio Franciosi, na vice.


A vitória final

Os mais votados foram Augusto Trein e Romeu Martinelli, com 7.836 votos. César Santos e Guaracy Marinho foram os mais votados do MDB, com 5.559 votos. Na soma total, porém, o MDB conseguiu 14.047 votos, enquanto que a ARENA obteve 10.943. Assim foi eleito o médico e cientista, que confirmava também liderança política.


Posse e afastamento

César Santos recebeu a prefeitura do senhor Mário Mnenegaz. Havia um distanciamento entre os dois, pois fora o prefeito Menegaz quem ordenara a tomada, pelas máquinas e viaturas da prefeitura, das faculdades dirigidas por César Santos. Mesmo assim, na hora da passagem, a cordialidade falou mais alto. Infelizmente, César Santos não conseguiu cumprir o seu mandato, pois a enfermidade surgiu, inesperada, e o afastou para sempre. Diagnosticado o câncer, que ele combateu uma vida inteira, salvando centenas de vidas, terminou sendo ele próprio vitima desta gravíssima enfermidade. Caprichos do destino que ninguém consegue entender. Assumiu e completou o período executivo, o vice, Guaracy Barroso Marinho.

A morte de César Santos há 34 anos – homenagens em Passo Fundo e Soledade- os oradores

Na conclusão dessa matéria que marca os 100 anos de nascimento, e a morte, há 34 anos, do cientista, médico, líder político e pioneiro do ensino universitário. César José dos Santos, chegamos ao momento em que a cidade, o estado e o próprio Brasil choraram sua partida. Foi no dia 6 de maio de 1970, que o humanitário médico nos deixou para sempre.


Os últimos momentos

César Santos faleceu às 7h45 do dia 6 de maio de 1970, em sua residência, onde foi instalado um leito hospitalar. Assistido pelos médicos Sérgio Lângaro e Platão Vieira, ao seu lado, além da esposa, dos filhos e irmãos, lá se encontravam o vice-prefeito Guaracy Marinho e esposa, senhora Geny, o reverendo William Schissler Filho, da Igreja Metodista, e o padre Luiz Serraglio, da catedral. Além deles, o líder na Câmara, do MDB, vereador Meirelles Duarte; Ney Menna Barreto e esposa; deputado e irmão, Reyssoli José dos Santos; Florisbelo Ferreira; e vereador Ernesto Scortegagna.


Translado para a Prefeitura

As emissoras da cidade passaram a anunciar a morte de César Santos e interromperam suas programações. Logo, uma multidão aglomerou-se defronte à residência. Imediatamente, o vice, Guaracy Marinho, determinou que o salão nobre da velha prefeitura recebesse o corpo. Já às 8h30min, o esfinge, cercado por centenas de pessoas e uma verdadeira multidão em frente, foi exposto para a visitação da população.


Atos religiosos

No largo, em frente ao prédio da prefeitura, tiveram lugar os atos religiosos dirigidos pelos pastores William Schissler Filho, da Igreja Metodista, o bispo Dom Plínio Simões, da Igreja Episcopal, à qual pertencia o falecido, o padre Luiz Serraglio, e pastores episcopais de Erechim e Santa Maria.


As homenagens em Passo Fundo

O corpo de César Santos ficou todo o dia 6, durante a noite e a madrugada, no salão nobre da prefeitura. Os atos religiosos aconteceram no dia 7, por volta das 9h. Uma hora depois, iniciava a caminhada de partida para sempre do ilustre cidadão. Falando em nome da cidade, já que o vice-prefeito não tinha condições emocionais, o líder do MDB na Câmara, Meirelles Duarte, proferiu um discurso de improviso. Falando do alto da prefeitura, deu o adeus para sempre, apontando os prédios da universidade que, tanto quanto a população, choravam também a partida do seu criador. O corpo foi levado até o trevo do Boqueirão, pelas mãos de amigos e populares. A banda da Brigada Militar tocava, o tempo todo, a Marcha Fúnebre, de Chopin.


Chegada a Soledade

Assim que o corpo, acompanhado por 80 automóveis, chegava a Soledade, o prefeito em exercício, Trajano Porto Cardoso, abriu as portas do salão nobre da prefeitura. Grandes homenagens foram prestadas, quando brilhantes discursos foram proferidos, como o do próprio prefeito, do deputado Ivo Sprandel e do ministro do Tribunal de Contas. Gudbem Castanheira. O corpo, por volta das 15h, foi levado à matriz, onde houve um culto ecumênico.


No cemitério

Antes de baixar à sepultura o corpo de César Santos, foram prestadas as últimas homenagens nas mensagens comoventes do vice, Guaracy Marinho; de Rui Ortiz, presidente do MDB de Soledade; de João Chaves Campello, ex-prefeito de Soledade e cunhado, e de um representante da Loja Maçônica de Soledade – Loja Liberdade -, pois César Santos fora membro e um dos maiores beneméritos e benfeitores da Loja Concórdia do Sul. Partia, alvo das mais comoventes e merecidas homenagens, o grande cientista. César José dos Santos. E nós, com orgulho de ter com ele convivido, e pela admiração que sempre lhe devotamos, marcamos, com tudo o que nos foi dado e o que testemunhamos, essa homenagem, no ano do centenário do seu nascimento.

Referências

  1. Antônio Augusto Meirelles Duarte e advogado, jornalista e presidente da Academia Passo-Fundense de Letras