Centenário da colonização judaica no RS

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Centenário da colonização judaica no RS

Em 30/11/2004, por Daniel Viuniski


Centenário da colonização judaica no RS[1]

DANIEL VIUNISKI[2]

A presença judaica iniciou praticamente na época do descobrimento do Brasil. Muitos imigrantes judeus, em especial sob a direção de Fernando de Noronha, que era cristão-novo português, chegaram para a exploração do pau-brasil.

Mais tarde, na cultura e engenhos de cana, significativa foi a presença de judeus. Devido à intolerância religiosa, perseguições, e pelo desenvolvimento econômico de um grande número de judeus, a imigração passou a ser mais efetiva, para alguns países das Américas e, em especial, para a região norte-nordeste brasileira.

Com o crescimento do anti-semitismo na Europa, principalmente nas últimas décadas do século XIX, líderes judeus procuraram oferecer alternativas para aqueles que quisessem viver e educar seus filhos.

Alguns optaram pela criação de um Lar Judaico na Palestina. Outros resolveram investir em compras de terras na África do Sul, Estados Unidos, Argentina, Canadá, Ilha do Cipre e outros países.

Um empreendimento de colonização foi criado pela ICA (Jewish Colonization Association) em 1891. O Barão Maurice de Hirsch, doou dois milhões de libras esterlinas para essa ação filantrópica. A ICA comprou extensas terras na Argentina, no final do século XIX, trazendo milhares de imigrantes europeus.

No Brasil, com o apoio do governo, que concedeu isenções e facilidades, foi comprada uma propriedade em 1902, próxima a Santa Maria, localidade que recebeu o nome de Philipson.

As 40 primeiras famílias imigrantes chegaram em 1904 (razão da comemoração do centenário), vindos da Bessarábia, e foram instaladas em terras com 25 hectares cada. Mais tarde, em função do sucesso, uma centena de famílias estavam envolvidas em atividades laborias, tais como o plantio de fumo, trigo, erva-mate e outras f culturas, além da criação de gado leiteiro, chegando à organização até de uma cooperativa.

O povo judeu sempre foi conhecido como o povo do livro. Já em 1906, foi criada uma escola, com o atendimento de 3 professores, para mais de 50 alunos, ministrando aulas de idisch, hebraico e português.

A ICA, em 1910, comprou na região de Passo Fundo, 94 mil hectares, na localidade que recebeu o nome de Quatro Irmãos.

Inicialmente, 90 famílias instalaram-se nos núcleos de Baronesa Clara, Barão de Hirsch, Rio do Padre e em Quatro Irmãos. Posteriormente, em 1913, chegaram mais 150 famílias da Rússia. Quatro Irmãos tornou-se município em 1996.

Os colonos recém chegados encontraram muitas dificuldades, próprias da época e, em especial, pela distância, de maiores centros.

Por iniciativa dos imigrantes e da direção da ICA, criaram um hospital, escola, biblioteca, cemitério, e até uma usina de energia elétrica que, segundo consta, seria a primeira cooperativa do Brasil, além da abertura de estradas, incluindo uma ligação férrea de Erebango até Quatro Irmãos.

As famílias foram crescendo, com casamentos, nascimentos e chegada de outros imigrantes oriundos da Argentina e de Philipson. Como conseqüência, iniciou-se a formação de outros núcleos, em Erebango, Jacutinga, Erechim e Passo Fundo.

Posteriormente, o êxodo se deslocou para Porto Alegre,Curitiba e, principalmente, São Paulo.

A causa maior não foi a econômica, mas sim a busca pela formação educacional dos filhos. A não-existência, na época, de faculdades, levou os jovens para os maiores centros e, com eles, seus familiares.

Em Passo Fundo, a comunidade judaica chegou a contar com mais de 500 pessoas, por volta de 1950 e, atualmente, está reduzida a 15 famílias, ou seja, pouco mais de 40 pessoas.

Mesmo assim, os judeus mantêm sua sinagoga, com reuniões semanais em comemoração ao Shabat, e participação nas principais festas religiosas, tais como o Pessah (Páscoa) Rosch Hashaná (Ano Novo) e Yom Kipur (Dia do Perdão). Preservam também, com muito zelo e dedicação, seu cemitério.

Por terem participado ativamente no desenvolvimento cultural, econômico, social, a presente síntese tem a finalidade de servir, com a singela homenagem, a toda a coletividade judaica de Passo Fundo.

Referências

  1. Da Revista Água da Fonte nº 2
  2. Daniel Viuniski é advogado e membro da Academia Passo-Fundense de Letras.