Cemitério... Local de memória

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Cemitério... Local de memória

Em 15/03/2014, por Gabriela de Andrade Porto


Sábado, 15/03/2014 às 09:49,

Gabriela de Andrade Porto[1]

por Arquivo Histórico Regional[2]


É comum ouvirmos a seguinte frase: “Para conhecer uma cidade, basta conhecer seu cemitério”. Se levássemos essa frase ao pé da letra e pedíssemos para que algumas pessoas de outras cidades visitassem o Cemitério da Vila Vera Cruz localizado na cidade de Passo Fundo, qual seria a visão que estes visitantes teriam da cidade? E qual é a visão que os próprios moradores têm do seu maior e mais antigo cemitério ainda existente?

Precisamos estar atentos à situação em que se encontra atualmente esse espaço de memória. A maioria dos moradores da cidade desconhece sua importância histórica, valor patrimonial, cultural e educacional, e por isso não valoriza seu estado de destruição e de decomposição em que se encontram seus túmulos e monumentos importantes.

Para a Constituição Federal o patrimônio cultural não é apenas o resultado de algo que o homem criou, mas sim todo o processo de construção deste material. Se analisarmos os cemitérios como um patrimônio cultural ele se encaixa perfeitamente dentro dessa lei, pois há elementos materiais (arquitetura tumular, espaços verdes, estátuas...) e imateriais (valor histórico, importância das pessoas que ali foram enterradas, a história da cidade...).

Em uma pesquisa feita verbalmente, em junho de 2013 com cem moradores do município, obtivemos os seguintes resultados: 61% das pessoas entrevistadas responderam que o cemitério é apenas um local para enterrar e visitar seus entes queridos; 20% têm em mente o cemitério como um lugar triste e de saudade; 9% afirmaram que além das práticas fúnebres os cemitérios podem proporcionar tranquilidade e sossego aos seus visitantes; 8% das pessoas entrevistas responderam que o cemitério pode ser uma fonte de pesquisa; e, 2% pensa que o cemitério pode ser um local de turismo para conhecer um pouco a história da cidade.

Esses dados nos mostram que para que as pessoas possam passar a ver um cemitério como um lugar com valor patrimonial é necessário que ocorra uma mudança sociocultural, pois, é evidente a resistência da maioria das pessoas em ver nesses locais diversas finalidades e sentimentos além das práticas fúnebres. Em suma, é necessário que haja um amadurecimento no pensamento de cada indivíduo, pois, de modo geral, é lenta a mudança de atitudes do homem diante da morte.

A mentalidade é um pensamento muito arraigado, cultivado por gerações e muito difícil de ser transformado. As pessoas deveriam deixar de ver o cemitério só como um lugar de dor e de saudade, porque ali são enterradas as pessoas que lhes se caras, mas também como um local de memória, de história. Local onde podem ser analisadas de forma presente os contornos políticos, sociais e culturais de uma comunidade, é complexa a desconstrução de uma mentalidade, pois ela é secular e hereditária.

No cemitério da Vila Vera Cruz é possível analisarmos através dos túmulos e agrupamentos vários aspectos da cultura passo-fundense, como as tradicionais famílias – Annes, Xavier e Oliveira, Neves, Vergueiro, entre tantas outras. Também , as crenças religiosas (através das frases e imagens presentes nas lápides), o poder econômico (pelos materiais e arquitetura dos túmulos). Os mais antigos túmulos se encontram nas proximidades do Mausoléu, na região central do cemitério que atualmente se encontra praticamente lotado.

Um dos problemas que esse local vem enfrentando, e é bastante visível: são os efeitos do tempo nos túmulos. Os mais antigos sofrem de problemas como infiltração, pintura , ausência de letras para identificação, rachaduras... Mesmo com diversas placas colocadas nos túmulos mais antigos com os seguintes dizeres: ”Este espaço faz parte da nossa história, ajude-nos a preservá-lo” há muito tempo não é feita nenhuma manutenção para preservá-los.

Fica aqui o chamamento à comunidade para que o cemitério seja visto de maneira mais ampla e reflexiva pela população passo-fundense.

Referências

  1. Acadêmica do 6º semestre curso de graduação em História da UPF (estagiária AHR)
  2. Fonte: Acervo AHR * O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores.