As jornadas literárias e a Capital Nacional da Literatura

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As jornadas literárias e a Capital Nacional da Literatura

Em 07/08/2007, por Tânia Mariza Kuchenbecker Rosing


Tania Mariza Kuchenbecker Rösing


Quando se fala em Passo Fundo fora do Rio Grande do Sul e nos meios intelectuais latino-americano, europeu, canadense, norte-americano, há uma ligação direta da cidade com as jornadas literárias, movimentação cultural inusitada com 26 anos, promovida pela Universidade de Passo Fundo e pela Prefeitura Municipal. Exatamente quando nossa cidade comemora 150 anos de existência. É preciso resgatar a história dos ciclos de desenvolvimento da cidade, de ações na área educacional, cultural e social, especialmente considerando o trabalho de 39 anos da UPF a serviço da transformação e do aprimoramento local e regional.

Passo Fundo realiza uma ação cultural diferente: divulga antecipadamente as obras dos autores convidados, estimula a leitura, fomenta o debate interdisciplinar do conteúdo das obras à luz de um tema central. Colocar frente a frente autor e leitor pressupõe iniciar esse diálogo anteriormente, na etapa da pré-jornada, através do contato com as obras desse autor. As jornadas literárias objetivam a formação de um leitor crítico que priorize o texto literário, passando, também, a se constituir num intérprete das linguagens veiculadas em diferentes suportes e das peculiares a manifestações culturais como a dança, o teatro, o cinema, a pintura, a escultura, a fotografia, a arquitetura, a arte circense.

Em 1981, o escritor Josué Guimarães e sua esposa Nydia visitavam seus cunhados Caio e Heracy Machado. Na conversa que mantivemos, Josué me perguntou sobre a UPF, curso de Letras. Respondi-lhe que a situação do Curso era rotineira. As ações culturais só aconteciam na capital. Manifestei-lhe um desejo: organizar um evento com a participação de escritores gaúchos, empregando metodologia diferenciada: a leitura antecipada de suas obras. Josué apoiou a iniciativa e a 1ª Jornada Sul-Rio-Grandense de Literatura foi realizada no prédio onde funciona a Faculdade de Medicina, no centro da cidade, com a presença dos escritores Armindo Trevisan, Antônio Carlos Rezende, Josué Guimarães, Moacyr Scliar, Carlos Nejar, Cyro Martins, Mário Quintana, Sérgio Capparelli e Deonísio da Silva, em agosto daquele mesmo ano, com um público de 750 pessoas.

Ao término, fizemos a avaliação. Josué sugeriu, em função do grande sucesso, que o evento fosse nacional e bienal. Realizamos novamente a pré-jornada, preparando os leitores.

Em agosto de 1983, acontecia a 1ª Jornada Nacional de Literatura: Antônio Callado, Millôr Fernandes, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Luis Fernando Verissimo, Luiz Antônio de Assis Brasil, Lya Luft, Orígenes Lessa e um público de 1.100 pessoas no Play Center do Juvenil.

Em 1982, a Associação de Leitura do Brasil, responsável pela realização do COLE na Unicamp – Congresso de Leitura do Brasil –, através de Ezequiel Theodoro da Silva, sugeriu a realização do Seminário Regional de Leitura em Passo Fundo, atividade a ser desenvolvida em diferentes regiões brasileiras. Aceitamos o desafio. Pesquisadores do centro do país vieram a Passo Fundo. O evento foi realizado no Cine Teatro Pampa durante o dia e à noite, na Catedral Nossa Senhora Aparecida com mais de mil pessoas.

De 1984 a 1987, a UPF participou do Programa Salas de Leitura, instituído pela FAE/MEC – Fundação de Assistência do Educando. Instalamos, na região, 1.127 salas de leitura. Paralelamente, conseguimos trazer o Projeto Encontro Marcado (IBM-Brasil), com a vinda dos escritores Ferreira Gullar, Rubem Braga, Ignácio de Loyola Brandão, Márcio Souza, Oswaldo França Júnior e Thiago de Melo.

Foi criado o Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura – em funcionamento há dez anos no Campus I. Como laboratório do curso de Letras, propicia o desenvolvimento de práticas leitoras multimidiais para crianças, pré-adolescentes, adolescentes e adultos durante toda a semana, nos três turnos.

Outro desdobramento das jornadas foi a criação da 1ª Jornadinha, em 2001, atendendo aos interesses e às necessidades específicas de alunos de 1ª a 4ª séries, de 5ª a 8ª séries e de Ensino Médio.

Surgiram bibliotecas, livrarias, ações em municípios, envolvendo autores e artistas presentes nas jornadas literárias em seus 26 anos de ação ininterrupta, resultado do trabalho realizado por uma equipe interinstitucional e interdisciplinar comprometida com o ato de ler e com o potencial da leitura no desenvolvimento do cidadão crítico.

Essa movimentação cultural permanente e inovadora (por onde já passaram 576 escritores e pesquisadores), transformou Passo Fundo em Capital Nacional da Literatura, através da lei federal nº 11.264, sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, título defendido na Câmara Municipal por Marcos Cittolin, na Câmara Federal pelo deputado Beto Albuquerque e no Senado, pelo senador Sérgio Zambiasi. As jornadas literárias fazem parte do Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul, através da lei 12.295, de 21 de junho de 2005, proposta pelo deputado Giovani Cherini.