As carreteras e os grandes pilotos

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As carreteras e os grandes pilotos

Em 07/08/2007, por Marco Antônio Damian


Marco Antonio Damian (*)


Em 26 de setembro de 1948 foi criada a Copa Rio Grande do Sul de Automobilismo Porto Alegre/Passo Fundo. Os 824 km ida e volta tinham o seguinte percurso: saída de Porto Alegre, São Leopoldo, Nova Petrópolis, Caxias do Sul, Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Marau, Casca, Guaporé, Bento Gonçalves, Farroupilha, Feliz, São Sebastião do Caí e a chegada a Porto Alegre. O vencedor, com seu Ford 1939, após 8 horas e 53 minutos na estrada, foi o passo-fundense Alcídio Schroeder, chamado de “Alcides Schleder”. Ficava mais fácil. Dessa forma, Passo Fundo conheceu seu primeiro herói e grande piloto. A vitória de Schroeder deu ânimo e motivação para que outros entusiastas passassem a competir, e, assim, Passo Fundo ingressou no cenário do automobilístico.

Com outros pilotos ingressando no circuito, a ARVO (Associação Rio-Grandense de Pilotos), que organizava as competições, criou outras provas de estrada incluindo Passo Fundo nos roteiros. Em 1950, foi corrida a 1ª Copa Festa da Uva, com os pilotos saindo de Caxias do Sul, vindo até Passo Fundo e retornando a Caxias do Sul. Nessa prova, formou-se a dupla Alcídio Schroeder e Orlando Menegaz, que chegaram em 3º lugar, pilotando o mesmo Ford 1939. Em 1951, a prova, para homenagear o pioneiro dos pilotos gaúchos, Norberto Jung, tinha o percurso Erechim/Passo Fundo/Cruz Alta, despontando outro talento passo-fundense, Aido Finardi, o rei das curvas.

As provas de estrada foram as primeiras que abrangiam Passo Fundo. A população esperava, por horas, a chegada dos carros, que, após uma breve parada na Avenida Brasil retornavam às esburacadas e empoeiradas estradas. Acompanhavam qualquer notícia porventura através de rádio, que cobrisse parte dos trechos percorridos. Eram vozes entusiasmadas de narradores como Ernani Behs, Ivan Castro (o Gordo), Mauricio Sirotski, Oscar Chaves Garcia (de Estrela, pai do comentarista político Alexandre Garcia) e outros tantos.

E vibrava com os heróis do volante, que corriam praticamente sem nenhuma segurança. Orlando Menegaz, talvez o maior piloto passo-fundense de todos os tempos, não tinha dó nem piedade do carro que dirigia. Andava sempre no limite, fosse qual fosse a conseqüência.

O campeonato gaúcho de automobilismo, disputado desde 1952, teve em 1954 a prova decisiva em Passo Fundo. A Av. Brasil foi o palco da corrida e um público estimado em mais de 20 mil pessoas se empilhava nos passeios e canteiros ao longo do percurso. Sem nenhuma proteção, cada espectador via as carreteras passarem a toda velocidade a sua frente. A prova foi vencida por Diogo Ellwanger, na categoria força livre, e Catharino Andreatta, na categoria standart.

Outra decisão na cidade ocorreu no campeonato gaúcho de 1957. Era o ano do centenário e 12 de outubro foi reservado para a final, mas choveu muito e alegando falta de segurança para si e para o público os pilotos se recusaram a participar. Foi transferida para o dia 2 de fevereiro de 1958, mas de certa forma esvaziada. Muitos pilotos se recusaram a decidir o campeonato no ano seguinte, mas a prova se realizou com cinco carros alinhados na Avenida Brasil, defronte ao Hotel Avenida, para a largada. A prova foi emocionante e outra vez um extraordinário público prestigiou o acontecimento.

O vencedor foi Orlando Menegaz, com seu Chevrolet nº 24. Nossos ídolos da velocidade marcaram efetivamente seus nomes na história com a conquista da sexta edição das Mil Milhas Brasileiras, em 1961. Uma equipe passofundense, tendo à frente Orlando Menegaz e Ítalo Bertão, trouxe o troféu mais cobiçado do automobilismo nacional.

Ainda nos anos 60, as velhas e vigorosas carreteras foram ficando para trás. Deram espaço para os DKWs, Simcas, Volkswagens (os fuscas), FNM/JK e Gordinis. O grande nome dessa geração foi Rui Menegaz, sobrinho de Orlando, vencedor de várias provas importantes e idealizador e projetista de um carro de corrida único, o Caninana.

As provas de rua se sucederam com carros mais velozes e pilotos tão furiosos quando os antigos heróis das carreteras. O público se acostumou em presenciar carros fazendo curvas em duas rodas na Av. Presidente Vargas, a primeira asfaltada, entrando na Rua Duque de Caxias. Velocidade até então inadmissível e muita adrenalina.

Acostumados com as provas de velocidade, também as corridas de lambretas e as gincanas em duplas mistas passaram a fazer parte da rotina nos domingos. Em 1966, aconteceram muitas provas. As 6 Horas de Passo Fundo, no dia 4 de dezembro, reuniu aproximadamente 30 mil pessoas ao longo do percurso. Vibraram com o Simca nº 74 de Rui Menegaz e Ronaldo Wesper, à segunda colocação geral, atrás do catarinense Plínio Laursen. A prova teve enorme grid. No dia 29 de setembro de 1968, ocorreu a última corrida de automóveis nas ruas de Passo Fundo. A prova 300 Km de Passo Fundo ou Prova Mário Menegaz, teve a vitória da dupla de Caxias do Sul, Juvenal Martini e Walter Dal Zotto, pilotando o Simca nº 77.

As corridas de rua foram proibidas em 1968, após os acidentes com morte ocorridos na prova 12 Horas de Porto Alegre, abrindo uma enorme lacuna a todos os amantes da era romântica do automobilismo.