Alguns feitos da maçonaria em Passo Fundo
Alguns feitos da maçonaria em Passo Fundo
Em 07/08/2007, por Sérgio André Maffessoni
Sérgio André Maffessoni
A maçonaria na cidade de Passo Fundo conta com quatro lojas instaladas, denominadas pela ordem de antigüidade: Loja Concórdia do Sul, Loja Luz do Planalto nº 65, Loja Antonino Xavier e Loja Estrela do Planalto.
A denominação “loja”, é importante esclarecer, teve origem na Idade Média, nas cabanas que os maçons pedreiros construíam para suas moradias em torno do sítio em que trabalhavam e que eram chamadas pelos ingleses de “lodges”, significando à época, o lugar para morar ou alojar os pedreiros. Modernamente, para os maçons, o termo loja é mais comumente usado para designar a construção em que eles se reúnem e, ainda, a própria reunião de um grupo de maçons.
A maçonaria na cidade de Passo Fundo teve seu primeiro marco físico há mais de 130 anos. No dia 29 de abril de 1876, sob o nome de Loja Concórdia III, instalou-se na Rua Paissandu, esquina com 10 de abril, antiga travessa do chafariz. Passados 12 anos, em 11 de maio de 1898, sucedendo a Loja Concórdia III, foi instalada a Loja Concórdia do Sul, em atividade até hoje.
Como curiosidade histórica, em 1901 a Loja Concórdia do Sul contava com 47 membros, sendo 38 brasileiros, seis italianos, dois portugueses e um espanhol. O membro mais idoso contava 64 anos e o mais jovem, 23. Exerciam as mais diversas atividades profissionais, sendo: 26 negociantes; seis empregados públicos; três artistas; dois fazendeiros; dois médicos; um advogado; um agrimensor; um alfaiate; um construtor; um criador; um curtidor; um proprietário e um seleiro, designações de como eram conhecidas então.
O primeiro fato muito relevante, deu-se pouco tempo depois da instalação da Loja Concórdia III, em plena Revolução Federalista de 1893. Em 27 de junho de 1894, na localidade de Pulador, ocorreu uma batalha entre as tropas federalistas e republicanas, engajando em luta aproximadamente 6.700 homens, com baixas estimadas em 10%. O número de feridos foi expressivo e, diante disso, segundo os registros da Loja Concórdia III, os maçons decidiram em ato humanitário, socorrer e abrigar no recinto da loja os soldados feridos que pudessem, com a peculiaridade de não discriminarem o lado pelo qual lutaram, fazendo a primeira reunião de inimigos ao lado do campo de batalha.
No ano de 1900, os maçons homenagearam os combatentes erigindo dois monumentos no local do combate, um para cada tropa, gravando o símbolo maçônico nos obeliscos, com uma particularidade: foram gravados invertidos. Um historiador maçônico afirma que a proposital inversão pretendeu simbolizar que os irmãos envolvidos na luta inverteram a filosofia da instituição, colocando a matéria acima do espírito, esquecendo a liberdade, igualdade, fraternidade e humanidade.
Relevância também teve o 17 de setembro de 1903, quando a educação no Brasil era fruto quase que exclusivo da iniciativa de sociedades religiosas. A Loja Concórdia do Sul instalou uma escola noturna na antiga Rua do Comércio, hoje Avenida Brasil, onde atualmente está edificado o Colégio Notre Dame. Essa escola não visava lucro e o intuito era oportunizar a escolarização das pessoas mais desassistidas.
Em 24 de dezembro de 1911, mantendo a postura de tentar ajudar naquilo que a sociedade mais carecia, a mesma loja inaugurou uma biblioteca. Fieis aos princípios da ordem maçônica, os seus integrantes em Passo Fundo na segunda década do século XX, junto de outros segmentos, decidiram que era hora da cidade ter um hospital e passaram a concentrar esforços nesse sentido. Com denodo e perseverança, apesar das precárias condições financeiras e da dificuldade na coleta de fundos, mesmo sem eles, em 20 de julho de 1914 instituíram o primeiro hospital do município, que levou o nome de Hospital de Caridade, e a partir de 1960, denominado Hospital da Cidade. Diante da triste realidade que foi a epidemia chamada de “gripe espanhola”, também atingindo Passo Fundo, os idealizadores do Hospital de Caridade construíram em regime de urgência um galpão anexo ao prédio do hospital ainda em obras, onde internaram 70 pessoas pobres para o tratamento da enfermidade.
A sociedade que mantém o hospital nunca visou lucros e desde sua fundação teve 14 presidentes, na sua quase totalidade maçons de Passo Fundo. Por derradeiro, é imperioso mencionar as primeiras tratativas para a implantação do ensino superior no município. De fato, na década de 50 do século XX, maçons estavam envolvidos na discussão sobre a importância de se dispor em Passo Fundo de cursos de ensino superior, só existentes então nas capitais dos Estados e em algumas raras cidades do interior.
Mais uma vez a tarefa parecia ir além das possibilidades fáticas dos idealizadores, no entanto, como se o desafio fosse o combustível para impulsionar as idéias e os desígnios daqueles homens, foi criada a Sociedade Pró-Universidade e, em 1956, instalado o primeiro curso superior da cidade, a Faculdade de Direito, mantida por essa sociedade.
Ainda que talvez não tivessem idealizado tanto, essa iniciativa foi o embrião da Universidade de Passo Fundo, pois dessa ação, em 1967, com a fusão da Sociedade Pró-Universidade com o Consórcio Universitário Católico, criou-se a Fundação Universidade de Passo Fundo, mantenedora da universidade, cuja importância é dispensável referir.
Foram esses alguns feitos que demonstram o quanto foi relevante a maçonaria para o desenvolvimento de Passo Fundo. Deixamos propositadamente de citar nomes, já que a maçonaria não se faz de identidades civis, mas de idéias e de ideais.