Advogados, Médicos e Policiais
Advogados, Médicos e Policiais
Em 1952 por, Celso da Cunha Fiori
Programa Recordar é Viver – Celso da Cunha Fiori
Levado ao ar na Rádio ZYF-5, Radio Passo Fundo
Ano: 1952
Tema: Advogados - Médicos e Policiais
I
Meus prezados ouvintes: quero que todos os personagens mencionados nestas memórias, surjam daqui sorridentes e alegres, sem maldades e sem perfídias. Pelo menos é esta minha intenção, pois não quero que ninguém apareça como fantasma de uma época já morta.
Menciono, às vezes, até pessoas que o destino caprichoso tornou meus desafetos. Justifico meu procedimento pela razão insofismável de que não é possível falar de Passo Fundo sem falar de certos passofundenses. Há homens tão ligados à vida, à história, ao destino da cidade e do município, que nem fazendo um grande esforço é possível deixar de mencioná-los.
Como já tive a oportunidade de frisar, falando neste microfone, não desejo apresentar as memórias do programa ”Recordar é Viver”, como quem faz uma visita a um cemitério.
Esforço-me para que minhas crônicas, baseadas em fatos de mais de 20 anos passados, sirvam para comparar, pesar, estudar, meditar sobre problemas da atualidade, interessando velhos e moços. A história só tem interesse no passado como mestra do futuro. Futuro que nós queremos que seja próspero e feliz para os passofundenses.
Assim, quando falo nos velhos fordecos de bigode, dos primeiros proprietários, eu pretendo focalizar aspectos do presente e do futuro, os problemas já existentes de sinalização que se impõe e o do estacionamento que já preocupa.
Deixo também de levar em consideração o conselho que me enviou por carta um ouvinte, recomendando que não toque em política e em políticos. Continuarei a apresentar todos os fatos de que tenho memória, com seus personagens, revestidos da roupagem de respeito que nos merecem.
Wordel, antes que desfilem vultos e fatos que reuni para hoje , toque aquela valsa “Perdoa”
II
Puxa que tinha advogados em Passo Fundo! O pobre cliente que tivesse que fazer um inventário ou um simples e modesto arrolamento, tinha que escolher entre uma enorme relação, todos com placa na porta e em condições de atendê-lo, com ou sem diploma, porque naquele tempo vigorava o sistema de liberdade profissional, garantido pela Constituição Estadual de 14 de Julho.
Podia-se escolher o advogado à vontade:
- Zélio Coelho Leal
- Nei de Lima Costa
- Lacerda de Almeida Junior
- A. R. Weimann
- Nicolau Cristaldi (italiano)
- Lejandre das Chagas Pereira
- Renato Sá Brito
- João Batista Cúrio de Carvalho
- Faustino Rezende
- Clodoven Pires
- Moura Carneiro
- Moreno Araújo
- Brasílico Lima
- Walter Jobim (promotor e advogado)
- João de Paula
- Armando Carvalho
- Octávio de Abreu
- João Bigoes
- Arthur do Prado Sampaio
- Dario de Vascocelos Cristaldi
- Ney Lacerda
- Ludovico Dela Méa
- Antônio Bitencourt de Azambuja
Bons advogados! Havia entretanto alguns que os passofundenses diziam ter sido formados nas Universidades de São Miguel e Pulador.
Até nos distritos tinha advogados:
Em Marau: Antônio Dóro
Em Não Me Toque: Ivalino Brum e Artaxerxes Brum
Em homenagem a estes ilustres causídicos nossos músicos vão executar a “Valsa Bodas”.
III
E se você tivesse que consultar um médico, como se arranjaria?
Tivemos e temos aqui médicos ilustres:
- Prof. Dr. Fernando Benoni – médico operador
- Dino Caneva – também cirurgião
- Arthur Leite – médico da municipalidade, muito humanitário
- Raymundo dos Santos – parteiro
- J. Frederico Castelletti – clínico geral e radiologista
- Antônio Carlos Rebello Horta – médico de crianças
- Tenach Wilson de Souza – clínico geral
- G. Leuenberger – cirurgião
- Ursino A. Meirelles – clínico geral e partos
- Vasconcelos – moléstias internas
E o remédio? Iria comprar na Farmácia do Rui Vergueiro, ali na esquina da Avenida Brasil com a 15 de Novembro. Encontraria à saída, políticos e um cordão de “pegadores de bico” (hoje denominados “puxa-sacos).
Vamos agora ouvir a “Valsa Izolina”.
IV
Logo que aqui cheguei, iniciei minhas atividades no jornal então aqui editado, o valoroso “O Nacional” e como auxiliar do Dr. João Junqueira Rocha, que tinha um importante escritório de advocacia.
Como naquele tempo a polícia era municipal e, portanto, sob as ordens diretas do Intendente, tive que entrar em contato com este a quem ia reclamar ora sobre as prisões que decretava o delegado Gervasinho Annes, ora sobre as “bordoadas” que davam nos presos lá na cadeia.
Tenho a honra de ter sido quem fez acabar com uma “palmatória” que existia na parede da sala da guarda e que servia para dar “bolos” nos presos.
Os vultos mais proeminentes da polícia naquele tempo eram o velho Faustino Dias Soares, o carcereiro, função que não mais existe, o célebre Cabo Hilário e o Tenente Branco (Laureano de Morais Branco), comandante.
Mas como eu ia dizendo, vivia fazendo reclamações na prefeitura, ao Sr. Armando de Araújo Annes, quando certa vez, reclamando contra a péssima alimentação dos presos, ele me disse:
- “Olha moço, quando a gente começa a vida pensa que vai endireitar o mundo. Mas faz o papel de quem quer entrar no teatro quando todos estão saindo. Recebe porém tantos encontrões que termina voltando-se e seguindo normalmente com os demais”.
Mas, como velho cachorro comedor de ovelhas, eu sinto o impulso irresistível de hoje perguntar aos moços da imprensa e do foro: como anda a bóia fornecida aos presos? E a polícia não tem mais surrado ninguém? Não? Parabéns, estamos nos civilizando!
Vamos escutar agora o samba “O chapéu do alferes” .