A visita triunfal a Passo Fundo
A visita triunfal a Passo Fundo
Em 07/08/2007, por Rogério Moraes Sikora
Rogério Moraes Sikora (*)
Leonel de Moura Brizola sempre teve grande identificação com Passo Fundo, onde mantinha grande contingente de simpatizantes, correligionários e eleitores. Essa idolatria por Brizola certamente é reforçada por ter nascido no povoado de Cruzinha, que pertenceu a Passo Fundo até 1931, quando passou à jurisdição de Carazinho.
Com a anistia brasileira em 1979, Brizola retornou ao Brasil. No ano de 1989, candidatou-se à presidência da República, nas primeiras eleições diretas, após o golpe militar de 1964. Nessa época, havia grande agitação nos meios políticos, após tantos anos sem os eleitores poderem escolher o maior mandatário do país. Em pouco tempo, as campanhas dos mais diversos candidatos tomaram as ruas de todo o Brasil empolgando até mesmo os eleitores mais desesperançosos com a política.
Brizola passa a percorrer todo o Brasil, levando sua campanha, a qual rapidamente se torna uma das favoritas dos eleitores. Com a proximidade da data das eleições, em 15 de novembro, havia grande expectativa quanto à possibilidade de Brizola visitar Passo Fundo, terra de onde saiu há décadas, para talvez se tornar o presidente da República.
No dia 20 de outubro de 1989, reúnem-se com a direção estadual do PDT o deputado estadual Éden Pedroso, o ex-prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise e Matheus Schmitt especialmente para tratar da vinda de Brizola a Passo Fundo. Nos dias que a antecederam, a visita de Brizola era o tema preferido dos eleitores e políticos nos cafés, partidos políticos, rodas de amigos e no meio universitário.
Finalmente, no dia 1º de novembro de 1989, a cidade já acordava na mais ansiosa expectativa, aguardando o comício que Brizola faria naquela noite. Dezenas de militantes já se mobilizavam, desde às 17 horas junto ao Altar da Pátria, em frente à Academia Passo-Fundense de Letras. As horas pareciam passar lentamente, para todos aqueles que depositavam suas esperanças no experiente político e para todos aqueles que o acompanhavam, desde os tempos do velho PTB.
Sua chegada estava prevista para 19 horas e 30 minutos. Nessa hora, as ruas da cidade estavam tomadas por populares, especialmente, no Altar da Pátria e junto ao Parque da Gare, onde uma imensa multidão cantava hinos da campanha. Dezenas de ônibus e caminhões se dirigiam ao Parque da Gare trazendo eleitores e simpatizantes. Pontualmente, às 21 horas, a chegada de Brizola é anunciada por estrondosa e demorada queima de fogos, cujo foguetório se estendeu por vários minutos e deixou grande nuvem de fumaça no centro da cidade.
A partir do Boqueirão, em cima de um pequeno caminhão, acompanhado por Aírton Dipp, Éden Pedroso, Augusto Trein e vereadores, Brizola inicia a carreata, aberta por centenas de motoqueiros, que o conduziria até o centro da cidade. O percurso entre o Boqueirão e o Altar da Pátria, o qual poderia ser feito, facilmente, em poucos minutos, exigiu mais de sessenta minutos trafegando.
Ao longo do percurso, todas as calçadas, em ambos os lados, estavam tomadas por eleitores que acenavam, agitavam bandeiras e mostravam cartazes da campanha, tornando a pista de rolamento em estreito corredor humano, o qual obrigava o caminhão que conduzia Brizola a manter baixíssima velocidade. Muito sorridente, Brizola parecia tranqüilo, acenava e dava atenção a todos, demonstrando não estar com pressa e nem estar incomodado com a lentidão da carreata.
Finalmente, às 22 horas, Brizola chega ao Altar da Pátria. O anúncio de sua chegada fez o povo delirar. Todos queriam tocá-lo, vê-lo de perto, trocar algumas palavras, se possível. Em seu discurso, o qual durou uma hora, Brizola disse que se sentia satisfeito e emocionado de estar novamente em Passo Fundo. Ao longo do discurso Brizola foi ovacionado muitas e demoradas vezes, terminando por dizer; “Estou do lado do povo”, sendo aplaudido, ininterruptamente por muitos minutos, e aos gritos de “Brizola! Brizola!”.
Na luta política brasileira, Brizola destacou-se como o principal adversário do governo militar em declínio, com tão grande apoio popular, o que o levou a promover a maior carreata e o maior comício que a cidade já viu.