A história de um amor forjado na guerra

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A história de um amor forjado na guerra

Em 31/12/2003, por Jabs Paim Bandeira


A história de um amor forjado na guerra


JABS PAIM BANDEIRA


Anita é o diminutivo carinhoso de Ana, em italiano, o que equivale, em português, a Aninha. Já em japonês, Ana (Hana), quer dizer flor. Antes de conhecer Garibaldi ela era chamada de Aninha, tendo Garibaldi passado a chamá-la de Anita. Assim sendo, Garibaldi colheu sua flor no jardim, em Laguna, a mais linda de todas, cujo amor foi temperado pela tomada de Laguna, Guerra dos Farrapos, consolidação da república uruguaia e unificação da república italiana, portando um amor forjado nas guerras e revoluções. Anita viveu sempre com Garibaldi, até o fim de seus dias, quando morreu, em Ravena, na Itália. Um grande amor que, passados mais de 150 anos, ainda continua vivo no coração de brasileiros, italianos e uruguaios. Vale a pena transcrever este legado de Garibaldi, quando se refere, em suas memórias, a seu tesouro, seu amor e sua Anita:

"Era-me necessário amor de alguém, e que este amor não tardasse a chegar.

Ora, a amizade é um fruto do tempo, ao passo que o amor é um clarão, por vezes filho da tormenta. Mas que importa, sou desses homens que preferem tormentas, quaisquer que sejam elas, às calmarias da vida ou às bonanças do coração. Eu carecia de uma presença feminina. Somente uma mulher poderia consolar-me. Uma mulher sumo refúgio, único anjo alentador, estrela da tempestade. Uma mulher cuja divina aparição jamais imploramos embalde, quando imploramos com o coração e, sobretudo, quando imploramos no infortúnio. Era arraigado a esses pensamentos que, da minha cabina no ltaparica, eu dirigia meu olhar à ribeira. O morro da barra encontrava-se próximo e, de meu bordo, eu descobria as belas jovens ocupadas em seus diversos afazeres domésticos. Uma delas atraía-me mais especialmente que as outras. Dada a ordem de desembarque, tomei o caminho da casa sobre a qual, havia já algum tempo, fixava-se toda a minha atenção. O meu coração disparava, mas também encerrava, malgrado a sua comoção, uma dessas resoluções que jamais esmorecem. Um homem (eu já avistara) convidou-me a entrar. Tentasse fazê-lo bruscamente, ele me teria impedido. "Virgem criatura, tu serás minha", foi o que disse ao ter a jovem diante de mim. E com tais palavras eu forjava uma aliança que somente a morte haveria de romper. Eu encontrava um tesouro interdito, mas um tesouro de tal valor! Se algum erro foi cometido, por ele só eu devo responder. E um erro teve lugar porque, ao se enlaçarem, dois corações dilaceraram a alma de um inocente. Mas ela está morta, e ele vingado (sic). Onde me foi dado a conhecer a dimensão da culpa? Lá, nas embocaduras do Eridan, no dia em que, esperando disputá-la com a morte, eu segurava convulsionado seu pulso, sentindo-lhe os últimos batimentos; no dia em que eu inspirava o seu hálito fugidio, em que eu colhia com meus lábios a sua respiração ofegante; e em que beijava o luto! Lábios desfalecidos em que cingia - oh! dor! - um cadáver; e em que chorava as lágrimas do desespero."

Como vimos, uma linda história de amor construída num período de infortúnio, sob o tiroteio do fuzil e do canhão, atormentada pelo sangue derramado dos irmãos de causa, mas que seguiam a luta, até a primeira perda importante, a morte de Anita, em Ravena, nas embocaduras do rio Eridan, na Itália. Esse episódio não levou, nem separou Anita de Garibaldi, pelo contrário, eternizou na perenidade do tempo, por séculos afora, um relacionamento, no início proibido, mas mais tarde abençoado por Deus e reconhecido pelos homens, e cantado em versos e prosas pelos historiadores.