A família Bernardon e o comércio de bebidas

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A família Bernardon e o comércio de bebidas

Em 2010, por Pedro Ari Veríssimo da Fonseca


Meu pai chamava-se Clemente Bernardon. Por volta do ano de 1932, ele veio para Passo Fundo. Veio de Guaporé e construiu uma casa em Passo Fundo. Meu avô veio da Itália com cinco filhos. E depois, aqui no Brasil, gerou mais filhos. Meu pai era o nenê da família, só que, hoje, dos Bernardon, só restou eu. Nasci em Guaporé, na Linha 11, hoje Serafina Corrêa. Guaporé vinha até Vila Maria. Ao chegar a Passo Fundo, meu pai construiu uma casa onde é o Z. D. Costi, num terreno inclinado, onde não tinha nada. Um dia, eu perguntei ao papai: ‘por que o senhor preferiu esse terreno se há tanto terreno bom num local plano? Por que o senhor não comprou mais no centro?’. Ele me respondeu que não ia construir uma casa que não tivesse porão.

Ele fez uns negócios com um cunhado dele que não deram certo. Meu pai tinha um caminhãozinho. Ele transportava banana daqui para Guaporé e trazia vinho de lá. Banana nas colônias era uma novidade. Só que não havia estradas. Em tempo seco, ele fazia a viagem em dois dias, mas, no inverno, em dias chuvosos, ele levava até oito dias de viagem. As bananas apodreciam, e o negócio não deu certo.

Na década de 30, quando nós botamos uma casa de comércio aqui em Passo Fundo, fomos pra Barra do Jacaré, levados pelo Costi. Os Costi eram três irmãos, lá a uns três quilômetros de Encantado, na barranca do rio Taquari, tinha um matadouro, um frigorífico. E dali eles transportavam os produtos para Porto Alegre. Eles tinham o comércio em toda essa região de Soledade a Anta Gorda. Em Putinga era o porto pra lá. Toda a mercadoria para Porto Alegre passava pela Barra do Jacaré. E lá ele passava de barco. O rio Taquari era navegável até Mussum. Na barranca do Jacaré, havia os trapiches, movimentados por tração de cavalos, e então nós largávamos em cima dos barcos os sacos de mercadorias, banha e tudo que é produto colonial.

Na barranca do rio Jacaré havia um hotel muito velho. O Benvenuti, irmão do Demétrio Costi, disse: ‘eu vou resolver o problema, vou construir um hotel de material.

Vou buscar a Carolina’. Carolina era a minha mãe, que era muito amiga dos Costi, se criaram juntos ali no Mussum. Aí ele foi buscar minha mãe, levou-a com toda a família pra instalar o hotel. Minha mãe disse: ‘o que Benvenuti quer nesse hotel aí?

Eu não vou’. Ele insistiu: ‘Mas, Carolina, todos os que vão para Porto Alegre passam por ali. Vou botar tudo novo, no hotel’. Ela pensou que ele fosse comprar a existência, de novo, e repetiu: ‘não, não, não!’. Aí ele falou de novo e a convenceu.

A minha mãe era excelente cozinheira, era uma coisa muito séria. Ela servia 15-16 qualidades de comidas na mesa. Minha mãe é Patussi. A família inteira Patussi é cozinheira. Mas o meu irmão, o mais velho, não queria. Éramos todos homens. Naquele tempo, não tinha esse negócio de empregada. Então, quando minha mãe ficava meio doente, nós fazíamos de tudo, até lavar o chão. E tinha que ser num capricho que pode existir outro no mundo, mas igual a minha mãe, não! O nome do hotel era Hotel do Costi, Hotel da Barra. E a minha mãe era uma coisa assim, que igual a ela não tem, não tem! Era demais, demais, demais... Ela pegava a lenha, lavava e botava no depósito. Ela dizia: ‘na hora que eu tenho que pegá-la, não me sujo’. Ela abria a gaveta daquelas cômodas e tinha de ver, tudo lavado e dobrado. ‘Mãe, machuquei o dedo!’ Ela vinha com uns paninhos, bem limpinhos, e botava no dedo. Ela guardava na cômoda as faixas de enfaixar crianças quando bem pequenininhas. Eu me lembro das faixas brancas que vinham assim escritas, bordadas. E todo mundo usava isso aí.

As faixas bordadas vinham da Itália. Minha mãe era Patussi, Carolina Patussi, tenho uma foto dela com os irmãos.

Naquela região, ali atrás do Hospital da Cidade, ali, tinha uma praça muito boa, de italianos. Ali tinha bastante italianos. Tinha o Barlei... Vieram morar todos em roda do Menegaz & Giavarina. Aí, sabe o que acontecia? Havia um vício pessoal, que eles iam à bodega tomar um copo de vinho. E diziam: ‘Ah, eu quero o vinho de Guaporé, não tem? Então eu não venho mais aqui’. O bodegueiro não comprava porque era mais caro. Aí, o bodegueiro começou a nos chamar e comprar. Foi indo, foi indo, e aumentou o movimento. E ficamos donos do campinho. Tomamos conta da praça. Chegamos a vender quatro, cinco barris de cachaça por semana. Sempre foi o maior comércio o de cachaça. Hoje entrou a vodca, não sei bem...

Na década de 1940, tinha aqui a cervejaria Serrana do Bade & Barbieux. Ele nos pagava para vender. Eu ia com a gaiota e pegava duas, três caixas de 12 e uma de 18 garrafas. Mas sempre às três e meia da tarde, porque quatros horas o pessoal lá de cima, das lojas, descia todo lá embaixo. Lá tinha duas senhoras que vinham com um tabuleiro vender pastéis e umas empadas. Então, o Bado oferecia umas garrafas de chope, e o pessoal das lojas descia para comer pastel e tomar chope. Eu aproveitava, ia lá de carroça pra buscar cerveja e comer pastel com chope. Foi aí que nós começamos a pensar em botar uma fábrica de refrigerantes.

E começamos. Nós tínhamos uma pipazinha de madeira como caixa d’água. A caixa d’água era cheia com a água do poço puxada a balde. Com o balde cheio, subia-se por uma escadinha até a caixa, e lá despejava a água até enchê-la. A água descia da caixa pela gravidade até o tanque. Trabalhávamos noite e dia. Quando chegava ali pelas duas horas da madrugada, tínhamos que reencher a caixa para continuar a filtragem para ter água pela manhã e fazermos o refrigerante. O ácido cítrico, usado nos refrigerantes, era importado. Adicionavam-se, naquela água filtrada, 32 quilos de açúcar, e botava-se a ferver, para se fazer o xarope. Como o açúcar, mesmo o de melhor qualidade, é muito sujo, subia e flutuava uma espuma escura, quase preta. Para retirar a sujeira flutuante, adicionavam-se claras de ovos batidas. Despejava-se as claras na água fervendo. Aí subiam todas as impurezas do açúcar, e ficava uma espuma escura.

Essa espuma era retirada com uma escumadeira. Ficava a calda bem limpa. As impurezas grudavam nas claras e o xarope ficava bem limpinho. Nessa calda, adicionava-se o ácido cítrico e essência de laranja, limão, abacaxi, guaraná... Numa garrafa de 500 ml, colocava-se 50 ml do xarope. Somente a laranjinha era feita com suco de laranja vindo de Jaraguá do Sul em garrafões de 36 litros pasteurizados. Adicionava-se açúcar, depois eram enchidas garrafas de 250 ml com 50 ml de suco de frutas, e, novamente, pasteurizada, colocando-se as garrafas fechadas dentro de um tanque raso e elevadas à temperatura de 90 graus. Os refrigerantes eram engarrafados somente em garrafas pequenas, porque as garrafas grandes são menos resistentes ao calor e estouram, ademais, eram destinadas às crianças.

Nós tínhamos uma pipazinha de madeira como caixa d’água. A caixa d’água era cheia com a água do poço puxada a balde. Com o balde cheio, subia-se por uma escadinha até a caixa, e lá despejava a água até enchê-la. A água descia da caixa pela gravidade até o tanque. Trabalhávamos noite e dia. Quando chegava ali pelas duas horas da madrugada, tínhamos que reencher a caixa para continuar a filtragem para ter água pela manhã e fazermos o refrigerante. O ácido cítrico, usado nos refrigerantes, era importado. Adicionavam-se, naquela água filtrada, 32 quilos de açúcar, e botava-se a ferver, para se fazer o xarope. Como o açúcar, mesmo o de melhor qualidade, é muito sujo, subia e flutuava uma espuma escura, quase preta. Para retirar a sujeira flutuante, adicionavam-se claras de ovos batidas. Despejava-se as claras na água fervendo. Aí subiam todas as impurezas do açúcar, e ficava uma espuma escura.

Essa espuma era retirada com uma escumadeira. Ficava a calda bem limpa. As impurezas grudavam nas claras e o xarope ficava bem limpinho. Nessa calda, adicionavase o ácido cítrico e essência de laranja, limão, abacaxi, guaraná... Numa garrafa de 500 ml, colocava-se 50 ml do xarope. Somente a laranjinha era feita com suco de laranja vindo de Jaraguá do Sul em garrafões de 36 litros pasteurizados. Adicionavase açúcar, depois eram enchidas garrafas de 250 ml com 50 ml de suco de frutas, e, novamente, pasteurizada, colocando-se as garrafas fechadas dentro de um tanque raso e elevadas à temperatura de 90 graus. Os refrigerantes eram engarrafados somente em garrafas pequenas, porque as garrafas grandes são menos resistentes ao calor e estouram, ademais, eram destinadas às crianças.

Começamos a fazer propaganda de venda nas vilas, domingo de manhã. Já existia a Rádio Passo Fundo. Então, o Maurício Sirostsky transmitia os programas das vilas. O Mauricio distribuía refrigerantes para a criançada. E a Minuano se tornou uma empresa grande. A fórmula do Minuano Limão foi o Von Doble que fez, em Porto Alegre. Era muito boa.

Passaram-se os anos, a eletricidade veio, e o refrigerante Minuano se expandiu muito, e estava incomodando a Coca-Cola, que acabou comprando. E fechou a nossa fábrica.

Na década de 1930 e 40, não tinha indústria de porte, em Passo Fundo. As compras da população eram feitas em cadernetas. E as compras em cadernetas eram pagas no fim do mês. Os colonos vendiam seus produtos e, muitas vezes, deixavam o dinheiro com o comprador, levando para casa somente o necessário. O Alberto Scortegagna sempre conta que o pai dele, seu Inocêncio, sempre tinha muito dinheiro em casa. Seu Inocêncio tinha indústria de banha e trazia o dinheiro para pagar os porcos que comprava para abater todos os dias. Acontecia que os fornecedores de porcos não levavam o dinheiro. Ele se obrigou a reforçar uma peça da casa dele com grades de ferro, para guardar dinheiro.

As fontes de dinheiro que movimentavam o comércio eram a Viação Férrea, o Quartel do Exército e a Brigada Militar. Seus funcionários e seus familiares gastavam os vencimentos no comércio local. A Viação Férrea era a maior. Então, juntando tudo isso, era um dinheiro certo. A Viação Férrea tinha uma cooperativa muito forte. Então, quando chegava o fim do mês, largava o dinheiro. O trem pagador é que vinha pagando os ferroviários, de estação em estação, desde Santa Maria. O trem tinha uma administração do negócio: um vagão era o escritório, onde ficava o dinheiro; outro era o restaurante e outro era dos funcionários. Então, logicamente, era o dinheiro que corria em maior quantidade. Os ferroviários compravam o rancho na cooperativa da Viação Férrea, mas compravam também no comércio. Aí, circulava o dinheiro. Na cooperativa, eles compravam o que precisassem, e a cooperativa anotava no talão de compras os produtos não-perecíveis. Para a compra da carne, os ferroviários recebiam um vale, de acordo com a classificação da carne, de primeira e de segunda. E o açougue recebia da cooperativa. Havia o pessoal móvel como os guarda-freios e os tucos. E eram também os que recebiam a menor remuneração. Estes compravam muitos biscoitos e bolachas para levar na viagem. Então, era comum o comprador pedir ‘10 quilos de guarda-freios’; e outro pedir ‘me dá cinco saquinhos de mulher de tuco’. Tanto os biscoitos quanto as bolachas eram grandes. O saquinho que embalava as bolachas “mulher de tuco” era de brim escuro listrado. Elas descosturavam os saquinhos e faziam roupinhas para as crianças.

Naquele período, não havia supermercado. O rancho daquela época era feijão, arroz, banha e outras mercadorias. Quando chegava a quinta-feira, ali de São Roque, Santo Antônio e São Valentin, do lado da Vila Rosso, vinham aquelas carroças, mas era uma barbaridade de carroças, puxadas por dois cavalos, dois burros, carregadas de queijo, manteiga, verduras, batata, mandioca. Traziam tudo que era produto colonial, e banha, muita banha, coisa de louco; atrás da carroça, vinha uma baita gaiola de galinhas. Depois vieram os armazéns: o Vitório Verardi, o Atílio Pavan, o Busato, o Max Ávila; abaixo do Rosseto, tinha o Lago &Gehn; no Boqueirão, o Atílio Stefani. Aqui no Centro, tinha o armazém do Sirotsky, mas era diferente. Não era armazém para pobre. Este, do seu José Sirotsky, tinha sardela, um peixe que vinha numa lata, cheia de sal. Estava escrito, em cima da lata, sardela. Tudo na salmoura. O Sirotsky tinha produtos importados.

As mercadorias que vinham pelos trens eram distribuídas no comércio pelo Pantaleão Bolner, pai do Claudião. O Bolner tinha quatro ou cinco caminhões velhos para fazer esse serviço. Praticamente, só o Pantaleão Bolner descarregava os vagões. E a quantidade de mercadoria que vinha era muito grande. Tinha as oficinas do trem. Aquilo era muito grande. O trem daquela época tinha todos os freios e mancais de metal. A oficina sempre tinha muitas locomotivas e muitos carros para manutenção das máquinas e troca dos mancais. Tinha o carinho da diretoria. Eram umas camionetas com rodas de ferro, próprias para andar nos trilhos em alta velocidade. Nelas, os engenheiros e as chefias faziam a fiscalização da ferrovia. Os lastros traziam trilhos e dormentes para manutenção da ferrovia. Eram os lastros que supriam as locomotivas de nós-de-pinho e das madeiras para aquecer a fornalha, deixando a lenha e os nós nas estações de reabastecimento. Os lastreiros, como se chamavam os trabalhadores encarregados de carregar os vagões do lastro, eram numerosos. Um trem com 10-12 vagões de lastro precisava de numerosa mão de obra para carregar.

“Tinha o trólei, era um carro composto de um lastro e de quadro rodas de trem, movimentado pela força humana com uma vara, a qual os condutores firmavam na terra e impulsionavam o trólei, carregado de dormentes, pregos e trilhos. À medida que encontravam dormentes apodrecidos ou queimados pelas brasas expelidas pelas próprias locomotivas, ou pregos frouxos ou soltos, iam substituindo-os. Um trólei podia chegar a 60-70 quilômetros por hora. Nos pontos de trabalho, eles levantavam o lastro vazio do trólei e retiravam as rodas de cima dos trilhos, deixando livre a ferrovia. Tinha o pessoal para suprir os trens de carga, de passageiros, os conferentes, o pessoal de manutenção. O suporte humano de uma estação ferroviária, sede de manutenção como Passo Fundo, era numeroso. Daí a importância da chegada do trem pagador a Passo Fundo. E ainda mais, todo o pessoal das estações ferroviárias da redondeza vinha fazer compras aqui. O comércio se preparava para o dia do trem pagador. Não existiam lojas de vendas a prestação. Lojas de roupas, de tecidos, roupas prontas. As principais eram as lojas São Paulo, Rayon, a Casa Mundial, as dos judeus. Mas a que tinha melhor sortimento de mercadoria, secos e molhados, e vendia mesmo, era a do Abraão Madalosso, pai do Dr. Carlos Madalosso. Esse homem tinha o preço dele que era bom demais. Bem mais barato. Então, pessoas do interior, de outras cidades, vinham comprar no Abraão Madalosso. A loja dele ficava na rua que vai para o cemitério. Ele ia para São Paulo comprar. Ele tinha um cuecão duplo.

Então, ele enchia aquele cuecão tudo de dinheiro e ia pra São Paulo comprar. Ele chegava naquela cidade e procurava o menor preço. As fábricas davam prazo pra ele pagar, mas ele comprava a vista, pra pegar o desconto, e contratava um caminhão para trazer a mercadoria.

Desde menino, eu conheci o Costi. Como esse homem trabalhava! A capacidade de trabalhar do seu Demétrio Costi era uma coisa muito séria. O Demétrio não tinha estudo. Na época, a formação era nada. Aqui ninguém tinha estudo. E ele era um homem que se levantava às quatro da madrugada e ia lá para o escritório dele, e de lá ele controlava tudo... Ele passava nas graxas... passava todo o frigorífico. Ele contava as caixas pra botar banha pra transportar para São Paulo e sabia quantos pregos gastou e quantos pacotes de banha as caixas continham.

E agora tudo aquilo foi a leilão... Alguma coisa está errada... Naquela época, os comerciantes de Passo Fundo que eu conheci eram quase todos semi-analfabetos. Sabiam desenhar o nome e só. Mas a preocupação deles era botar todos os filhos no colégio. Naquele tempo, não tinha faculdade. Uma ocasião, o Pratini de Morais veio a Passo Fundo, e deu uma bolsa de estudo na Fundação Getúlio Vargas para o Ivânio Bernardon, meu sobrinho. Depois é que vieram essas faculdades e todos estudavam. Quando esses rapazes que eram preparados assumiam as empresas da família, quebravam. O Costi tinha um filho, e o resto eram filhas.

Tinha os genros formados. Eu acho o seguinte, que não tem faculdade que ensine a ser comerciante.

Aqui tinha um senhor, Cesário Rosseto. Ele era forte com ferragens, e tudo o que ele tinha era importado: soda, breu, tudo o que era chapa, zinco, cobre etc.

Então, tinha que fazer importação, ir ao Banco do Brasil, na CACEX, e depositar o dinheiro. Eu me lembro que demorava seis meses para chegar a mercadoria. Vinha gente de Caxias para fazer parceria com ele, porque ele tinha condições de importar.

Ele era ferreiro e tinha uma ferraria. Nas horas em que não estava atendendo fregueses, ele fazia foices, enxadas, martelos, facões, pra vender para os colonos. Eu um dia fui lá pra buscar uma pecinha de uma bomba, e ele estava lá dentro. Eu disse pra ele: ‘Seu Cesário, que sapato bonito!’. Um sapato que veio com uma sola grande; o sapato era marrom com branco. Eu achei estranho ele usar um sapato daqueles no serviço. Ele respondeu: ‘Estou usando pra não botar fora aquilo que os filhos não querem mais usar’. Hoje deveria ser uma potência, mas o que aconteceu é que não seguiram, não houve entrosamento, não sei o que houve.

Eu estudei no Conceição, em frente ao Hospital São Vicente. Ia de carroça, na carroça do Vitório Verardi. O Vitório tinha quatro filhos, o Antônio, o Hiran, o Valdemar e o Heitor, que era o mais novo. O armazém dele era lá na Presidente Vargas.

Então, ele vinha trazer os filhos e vinha juntando piás pelo caminho, o Egídio Reolon, o Pascoal Patussi, eu e outros. A carroça era aberta. Nos dias de chuva, nós vínhamos de capa, capa espanhola, algumas forradas de baeta vermelha, e chapéu ou guarda-chuva. Quando a carroça não estava disponível, nos dias de chuva, íamos a pé, amassando barro. Todo mundo chegava atrasado à aula. A carroça era puxada por duas mulas, muita lindas! O carroceiro era o Guilherme Formiguieri. O colégio era dois turnos. Aí, ao meio-dia, quem tinha poder aquisitivo comia na pensão do Bonato, que era atendida por sua esposa, a dona Nicéia; outros levavam marmita; outros iam correndo almoçar em casa e voltavam. O tempo para o almoço era muito pequeno. Na hora da saída, a carroça estava esperando, mas nem sempre.