A estátua gigante de Nossa Senhora do Rocio na Serra do Mar
A estátua gigante de Nossa Senhora do Rocio na Serra do Mar
Em 04/12/1981, por Aramis Milarch
A estátua gigante de N. S. do Rocio na Serra do Mar[1]
Aramis Milarch
Na altura do km 21 da BR-277, no pico da Pedra Queimada e ao pé do "Gigante Adormecido", na Serra do Mar, uma imagem de 40 metros de altura de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Paraná, estará a 715 metros sobre o nível do mar - podendo ser vista de todo o litoral. Seus cabelos, construídos com tubos de órgão, emitirão melodias com o sopro só vento e uma programação especial fará com que ao entardecer, ao redor de 60 kilômetros se ouça os acordes do Ave Maria, de Haendel.
Não se trata de um projeto mirabolante. Apenas uma idéia prática, e que não implicará em investimento de nenhum cruzeiro do governo do Estado. A exemplo do Cristo, que o ex-deputado fazendeiro e escrito bissexto Antônio Lustosa de Oliveira, de Guarapuava, mandou erguer no alto da Serra de São Luiz do Purunã, também [às] margens da CR-277, município de Ponta Grossa, a estátua de Nossa Senhora do Rocio será edificada através da iniciativa de dois empresários e, naturalmente a indispensável participação da comunidade - com o aval da Igreja.
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Ainda este ano, os empresários Antônio Delgado, 37 anos, nascido em Lisboa, mas desde 1944, morando no Brasil e o comendador Erno Alfredo Bender, gaúcho de Santa Rosa, 50 anos, desde 1963 em Curitiba, querem fundar a Confraria Nossa Senhora do Rocio, uma sociedade sem fins lucrativos que cuidará da construção da estátua da padroeira. De princípio, existe o compromisso do empresário Franz Kuter, prefeito da cidade de Thine, da República Federal da Alemanha, em oferecer uma boa parcela de Cr$ 30 milhões - orçamento de hoje - que a obra exigirá. Dom Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba e dom Bernardo Nolker, bispo de Paranaguá - diocese onde se localizará a estátua, receberam com simpatia a idéia e ao lado da estátua, será construída uma basílica.
Bender e Delgado, proprietários de uma área de 385 hectares (3.850.000 m2) na Serra do Mar, ao desativarem as atividades de extração de madeiras na região, tiveram a idéia de implantar o primeiro clube-fazenda do Paraná - a exemplo dos que começar a se desenvolver em outros Estados. E mais do que um clube - a Estância Pousada da Serra, com centenas de chalés residenciais para uso dos sócios, infra-estrutura de serviços, restaurante-boate etc. - idealizaram um grande marco que se torne uma atração turística.
A primeira idéia foi uma estátua de João Paulo II, mas frente a polêmica que a desastrosa imagem do Papa, provocou em Curitiba, surgiu uma sugestão melhor: uma homenagem a N. S. do Rocio, padroeira do Paraná.
O projeto da estátua foi desenvolvido pelo arquiteto e escultor Paulo de Siqueira, residente em Chapecó, SC, conhecido por seus trabalhos em sucata. Com estrutura de concreto armado, mas utilizando também ferro e sucata - o que é baratear o custo, a estátua será a maior do Brasil, já que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro - que acaba de completar seu cinqüentenário de inauguração, tem 39 metros.
Elevador interno permitirá o acesso até o topo da estátua e na área que Bender e Delgado doarão para o projeto, será implantado um complexo para receber milhares de visitantes: um teleférico, apt-hotel, restaurante etc. Para a inauguração da estátua prevista para 1985, já está havendo contatos com o Vaticano, para que a iluminação seja acionada pelo Santo Papa, a exemplo do que ocorreu agora, nos festejos dos 50 anos do Cristo Redentor.
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Em Guaratuba, desde 1955, no alto do morro do Brejetuba, já existe uma imagem do Cristo. Em União da Vitória, também há uma grande estátua religiosa. A construída pelo fazendeiro Antônio Lustosa foi inaugurada há algum tempo e representou uma forma de gratidão daquele [próspero] empresário ao Paraná. Agora, a imagem de Nossa Senhora do Rocio terá características especiais, inclusive a de utilização de um órgão natural, que com o próprio vento, emitirá músicas em toda da região, teoricamente atingindo um raio de 60 quilômetros.
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Madeireiro há mais de uma geração, o gaúcho Erno Alfredo Bender diversificou seus empreendimentos nos últimos anos. Consciente da necessidade de preservar o que resta da Serra do Mar, preferiu reservar a área de mais de 100 alqueires que possui, para o plantio de cem mil pés que Kiri e encontrar uma forma mais ecológica de utilizar o espaço. A idéia inicial era lotear a antiga fazenda em pequenas [chácaras], mas animado por seu sócio, Antônio Delgado, das possibilidades de implantar um clube-fazenda, até agora inexistente no Paraná, há 3 semanas começou a vender os títulos de sócio usuário (Cr$ 120 mil) e residencial (Cr$ 400 mil), já conseguindo, sem ainda deslanchar a campanha publicitária, mais de 300 membros. "Existe uma grande vontade das pessoas que habitam as cidades em se voltarem aos espaços naturais, na serra, e a Pousada da Serra preencherá este vazio", explica Bender. Uma antiga serraria, movida com roda dágua, está sendo transformada num restaurante-boate, para começar a operar ainda neste verão e amanhã o pintor João Osório Brzezinski, presidente da Associação de Asa Delta do Paraná, terá a oferta para utilizar o futuro campo de decolagem que o Pousada da Serra vai construir. Há meses que Brzezinski, pioneiro do arriscado esporte da asa-voadora entre nós, vem tentando convencer o empresário Hans Klaus Garbers, proprietário de uma imensa área na Serra do Mar, a permitir que na mesma seja implantada um campo de decolagem dos "homens pássaros". Garbers - que é o presidente do Clube Concórdia há 20 anos - não concorda, por uma razão: o governo criou o Parque do Marumbi, que atinge sua área, mas até agora não recebeu um centavo de indenização. Teme que se atividades esportivas foram desenvolvidas em sua propriedade, o processo de indenização se tornará mais difícil. Assim, agora os "homens pássaros" liderados por Brezezinski", vão ganhar uma pista de lançamento oficial, que permitirá saltos de 700 metros de altura, com pouco na praia do Leste - há apenas 22 km da Pousada da Serra.
Referências
- ↑ Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente no jornal "Estado do Paraná", Caderno ou Suplemento: Almanaque, Coluna ou Seção: Tablóide, Página: 6, Data: 04/12/1981