A educadora Maria Fialho Crusius

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A educadora Maria Fialho Crusius

Em 07/08/2007, por Paulo Sérgio Crusius


Paulo Sérgio Crusius

“[...] Alfabetizei durante muitos anos e este magistério deixou profundas raízes no sentido de que ficou em mim a necessidade de amar as crianças e de dar a elas tudo que estivesse ao meu alcance e que viesse em proveito do ensino que de mim recebiam... todas me entusiasmavam pelo bem que me queriam, pela vontade de aprender [...]”. (M.F.C.)


Nascida em 26 de fevereiro de 1914 em São Luís Gonzaga (RS), Maria adquiriu o hábito da leitura escutando histórias contadas por sua mãe. No ano de 1932 concluiu o curso de magistério em São Leopoldo no momento em que nascia a Cruzada Nacional de Educação para Combate do Analfabetismo. Iniciou sua carreira em Boa Esperança (atualmente Colorado), tendo posteriormente trabalhado nas principais escolas de Passo Fundo, e também a Universidade de Passo Fundo.

As interrogações de como ensinar eram muitas e a afligiam. “Qual seria a melhor cartilha ?” “[...] como e o que deveria trabalhar nas primeiras horas de aula?” “[...] como fazer para os alunos escreverem corretamente?” Ela observava, ouvia, estudava, buscava, discutia e com carinho e mansidão de alma tentava sempre modificar a forma de ensinar.

Referia que as situações que mais a estimulavam no magistério eram alfabetizar as crianças e ensinar matemática, buscando o que hoje se conhece como alfabetismo funcional, preocupando-se especialmente com a “alfabetização matemática”, conceituação sugerida para os estudos iniciais dessa ciência.

Maria Fialho Crusius (Dona Maria, como era conhecida por todos), refletiu e interiorizou profundamente o significado da alfabetização que ela, em não aceitando restringir-se somente ao ler e escrever, promoveu a educação através de suas atividades e projetos à frente do seu tempo.

Já sabia que a alfabetização era a mola propulsora do desenvolvimento humano. Buscava desde então que seus alunos tivessem a capacidade de utilizar a leitura, a escrita e informações numéricas, usando essas habilidades para aprender a se desenvolver ao longo da vida. Assim em 1947, servindo o projeto de educação de adultos, iniciou voluntariamente no “antigo quartel do 20” a contribuição para ensinar adultos a ler e escrever.

Embora bastante simples no formato, essa atividade se constituiu numa nova postura da cidade e região frente ao analfabetismo.

Entendia o estudo como trabalho difícil, exigindo uma postura crítica e sistemática para obter a disciplina intelectual, proporcionando aos alfabetizandos a oportunidade de atitudes frente ao mundo e demonstrando sempre uma grande humildade em face do saber.

Por isso, soube compreender e criticar para construir a dinamização frente ao aprendizado, buscando constantemente soluções para melhoria da qualidade na educação.

Em 1975, ao fundar o Laboratório de Matemática da UPF, demonstrou, baseando-se na teoria de Piaget, que ao ensinar nada se dá pronto; se faz com que os alunos, de acordo com seu nível de desenvolvimento, realizem atividades partindo da ação, levando-os a construírem por si mesmos os conceitos da escrita e da matemática pela ativação da própria inteligência. “[...] Com isso, pretende-se que os alunos reinventem, por elaboração da inteligência, a história dos processos de formação dos conceitos, vindo de suas origens fundamentais para chegar à abstração, à generalização, à sistematização e à capacidade de operacionalizar-los conscientemente. Com isso, pretende-se desenvolver, gradativamente, o espírito de crítica [...]” (M.F.C.)

Conceitos esses que certamente constituem a base sólida das sociedades bem estruturadas econômica, cultural ou socialmente.

Ao longo de sua existência, o Laboratório de Educação Matemática apresentou metodologia inovadora, mudando o eixo tradicional do ensino centrado no professor para um voltado ao aluno e à forma como esse aprende (o que causava certa dificuldade inicial aos professores que aderiam ao método). O seu arrojo inicial deu margem a uma maturidade teórica percebida hoje. Serviu de fonte inspiradora para a criação dos Laboratórios de Matemática na Unisinos e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Reverenciando a significativa atuação e papel pioneiro da professora Maria Fialho Crusius, tanto na divulgação de idéias, como nas metodologias educacionais, obteve o reconhecimento da sociedade por meio da outorga de títulos, tais como: “Cidadão Passo-Fundense” (1990), pela Câmara de Vereadores de Passo Fundo; “Professor Emérito” (1991), pela Secretária de Estado da Educação do Estado RS; “Professor Emérito” (1993), pela Universidade de Passo Fundo; “Homenagem de honra na entrega de certificados a quinhentas mulheres alfabetizadas – Projeto Especial do MEC” (1997), Porto Alegre.

Referências