A Praça Marechal Floriano e seu perdido esplendor
A Praça Marechal Floriano e seu perdido esplendor
Em 30/10/2010, por Luiz Juarez Nogueira de Azevedo
A Praça Marechal Floriano e seu perdido esplendor
Luiz Juarez Nogueira de Azevedo*
Em seus começos mais remotos, por volta de 1910, a praça Marechal Floriano era um campo inóspito, onde a antiga Intendência havia plantado mudas de árvores ornamentais. Era fechada com cerca de arame farpado para evitar que o gado solto nas áreas contíguas — campos abertos e sem donos — a invadisse e frustrasse as incipientes tentativas de ajardinamento e arborização.
Mas a praça de que me lembro é outra, já magnificamente urbanizada, que conheci a partir dos anos 1950. Seu prestígio e esplendor vinham desde os anos 1930, o que manteve mais ou menos até a década de 1970. Era circundada por construções de extremo bom gosto, térreas ou assobradadas, que a picareta do “progresso” implacavelmente destruiu e desfigurou.
A praça era realmente o centro econômico e social da cidade. Era nela que se manifestava a alma da urbs, seu caráter, humor e alegria. Estavam ali os principais bancos — o do Comércio e o da Província, além do Industrial e do Agrícola Mercantil. Ali havia os cafés Elite e Colombo, sucedido pelo Haiti, vindo depois o Oasis e o Sonora, além do Bar Independência. Na praça estavam as grandes lojas — a Floriani, a São Paulo, a Casa Rádio, a Casa D’Arienzo, o Novo Bazar, a Casa das Sedas e A Moda, a Casa Edi, a Casa Sonora, além da Farmácia Serrana. Havia os cinemas, primeiro o Coliseu (substituído pelo Real), o Imperial e finalmente o Pampa, do outro lado da praça. O imponente Clube Caixeiral. Nela se edificou a majestosa catedral, aberta por volta de 1950.
O mais interessante era ver o elemento humano que a ocupava. Havia os senhores sisudos e enchapelados que lotavam os cafés, principalmente o mítico Café Elite, e as elegantes senhoras que buscavam as novidades da moda nos magazines do entorno. Havia figuras típicas, como o guardinha Peri, os pipoqueiros, o seu João dos Amendoins e o homem das casquinhas, os conhecidos desocupados, os mendigos, os aposentados e os vendedores de bilhetes de loteria, entre tantos. Aos domingos, depois que foi inaugurada a catedral, a praça passou a ainda mais a ser frequentada pelos passofundenses. De manhã para as missas, à tarde para as matinês, passeios e cafés e à noite para os cinemas. Enquanto os pais assentavam-se nos bancos da praça ou às mesas dos cafés, aproveitando as tardes amenas e luminosas, as crianças folgavam livremente em brincadeiras e correrias por suas calçadas, gramados e alamedas.
O bom era ver o footing antes da entrada dos cinemas, que se repetia todas as noites e nos domingos começava pela manhã, com a missa das 9 horas na catedral, prosseguindo até o horário em que os espetáculos terminavam. As mais belas jovens da terra eram vistas ali nesses horários, antes dos espetáculos cinematográficos, e nas manhãs de domingo, depois da missa das 10 horas, em passos ritmados, num incessante desfile, indo e vindo pela ala direita da Avenida General Neto. Os moços e até os não tão moços se postavam nas alas externas, sobre os canteiros e o meio fio da calçada, para vê-las, admirá-las e dirigir-lhes algum ousado galanteio.
Aos sábados pela manhã, quase ao meio-dia, havia um espetáculo à parte. Multidões de alunos uniformizados dos principais educandários — Osvaldo Cruz, Conceição, Notre Dame e IE — na saída das aulas, ocupavam o lado da praça em frente à catedral.
Era um momento mágico: No cenário havia sol, luz, as árvores, os perfumes das flores, o canto dos pássaros, as vozes e a alegria da juventude. Éramos felizes e não sabíamos.
* Membro da Academia Passofundense de Letras