A Batalha do Pulador: A simples evocação dos heróis de 93 fazia estremecer a ditadura getuliana

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A Batalha do Pulador: A simples evocação dos heróis de 93 fazia estremecer a ditadura getuliana

Em 26/06/1948, por Gomercindo dos Reis


A Batalha do Pulador: A simples evocação dos heróis de 93 fazia estremecer a ditadura getuliana[1]

GOMERCINDO DOS REIS, In memoriam[2]

Transcrito por Paulo Domingos da Silva Monteiro


Corno o povo do Rio Grande do Sul e do Brasil teve conhecimento, a 27 de junho de 1944, comemoramos o cinqüentenário do combate de Pulador.

Para tomarem parte, ou, pelo menos, se fazerem representar nessa homenagem à memória daqueles bravos que se bateram pelos seus ideais, convidamos o sr. Getúlio Vargas e altas autoridades do país.

Para que a solenidade tivesse o brilho merecido, dirigimos um atencioso convite a Ernesto Dornelles, pedindo a cooperação do Governo do Estado.

Porém, tivemos grande surpresa, quando recebemos um lacônico ofício da Secretaria do Palácio, dizendo que o sr. Interventor "havia tomado conhecimento da homenagem." E nada mais dizia no referido ofício. Agora podeis julgar o procedimento dos presidencialistas...

Getúlio Vargas e Ernesto Dorneiles tinham obrigação, o dever sagrado, de mandar prestar honras militares à memória daqueles bravos, porque, nesse memorável combate, tomaram parte colunas do próprio Exército Nacional.

Nessa batalha, a maior que se travou no Brasil, chocaram-se 8 mil homens, mais ou menos 4 mil de cada lado, ficando mil e cem mortos no campo de luta.

Quando a comissão promotora da homenagem esperava uma atitude honesta e digna do governo, dando um belo exemplo de civismo em nossa pátria, sabem qual foi o procedimento de Ernesto Dornelles?

- Mandou a polícia seguir os nossos passos... Éramos vigiados pelos esbirros da malfadada ditadura getuliana! A nossa correspondência telegráfica era controlada pelas autoridades...

A estrada de ferro não queria fornecer o trem expresso para conduzir o povo desta cidade às coxilhas de Pulador. Para conseguirmos esse meio de transporte, fomos obrigados a dirigir uma infinidade de telegramas ao diretor da Viação Férrea do Rio Grande do Sul.

Dois investigadores da polícia de Porto Alegre estiveram no local da homenagem, observando o que se passava...

Em vista da grave situação, da rigorosa vigilância policial, fez uso da palavra, nessa solenidade, um só orador, o ilustre passo-fundense Sr. Francisco Antonino Xavier e Oliveira.

Getúlio Vargas e Ernesto Dornelles tinham o indeclinável dever de prestar um tributo de respeito e admiração à memória daqueles bravos da Força Pública do Estado e do Exército Nacional, que tombaram numa luta ingrata, em defesa do governo de Júlio Prates de Castilhos e do regime presidencialista.

Desse falido presidencialismo que combatemos naquela época, estamos combatendo hoje e continuaremos combatendo amanhã! Dessa forma de governo, que, lamentavelmente, prevaleceu no Brasil, a custa do sangue daqueles heróis!

E então, como recompensa, depois de cinqüenta anos, o governo brasileiro, chefiado por Getúlio Vargas, negou apoio à modesta homenagem que "pica-paus" e "maragatos" prestavam, indistintamente, à memória daqueles bravos!

Onde está a recompensa ao devotamento cívico daqueles mártires da República? Onde está a consciência cívica dos adeptos do presidencialismo, desse regime falido, que tem feito a desgraça da nossa pátria?

Será que os ossos e a memória dos "maragatos" que jazem na vala comum, à beira da estrada de Pulador, oferecem perigo à ditadura getuliana?

Será que a idéia parlamentarista, que germinou naqueles cérebros, hoje corroídos pela terra, com as mandíbulas escancaradas, ainda fazia tremer os déspotas, os tiranos, os abusadores do povo brasileiro?

Será que os ditatoriais ainda enxergavam o exército de Gomercindo Saraiva, desfilando pelos pampas e pelos sertões de Santa Catarina e Paraná, tendo à frente a Bandeira Federalista de Gaspar da Silveira Martins?

Será que os gozadores da ditadura de ontem ainda estavam vendo a barca Marajó, rebelada nas águas do Guaíba, canhoneando o Palácio do Governo e alarmando a Capital Gaúcha? Será que os exploradores do povo brasileiro estavam vendo Saldanha da Gama, Custódio de Mello e tantos outros, na Baía da Guanabara, com a Marinha de Guerra rebelada, canhoneando as fortalezas e desafiando o governo de Floriano Peixoto?

Será que os seguidores do presidencialismo, ainda ouviam, apavorados, a fuzilaria, o troar dos canhões, o chocar das lanças e o tropel da cavalaria daquele exército revolucionário?

Ernesto Dornelles negou apoio à homenagem que "pica-paus" e "maragatos" prestavam à memória daqueles bravos! Não admira o seu procedimento, porque os interventores do Estado Novo não passavam de meros joguetes de Getúlio Vargas...

Era isso que pretendíamos dizer aos nossos correligionários, com referência àquela homenagem, que foi desagradável aos dirigentes da ditadura, porém, que teve o acatamento do povo e da imprensa do Rio grande do Sul.

Passo Fundo, 26 de junho de 1948.

Referências

  1. O artigo acima foi transcrito do jornal O NACIONAL, de Passo Fundo, edição de 26 de junho de 1948, p. 8.
  2. Gomercindo dos Reis (1898-1965), jornalista, poeta, polemista, veterano da Revolução de 1923, foi um dos líderes do Partido Libertador em Passo Fundo e pertenceu à Academia Passo-Fundense de Letras. É o atual patrono da cadeira 32, que tem como titular o acadêmico Paulo Monteiro.