A Batalha do Pulador, cavalarianos rememorando a história

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A Batalha do Pulador, cavalarianos rememorando a história

Em 31/07/2001, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


A Batalha do Pulador[1]

Paulo Monteiro


No dia l° de julho de 2001 dois piquetes de cavaleiros encontraram-se no Distrito de Pulador, pela manhã. Um deles partira de Carazinho e o outro de Passo Fundo. Eram homens desarmados. Refaziam parte do trajeto feito há 107 anos por duas parcelas significativas dos exércitos em guerra civil: a Divisão do Norte, governista, comandada pelo general Rodrigues Lima, com a assistência imediata de Pinheiro Machado, e parte do Exército Libertador, sob o comando de Gumercindo Saraiva e Prestes Guimarães.

Nos albores do Século XXI tradicionalistas, a cavalo, iam lembrar um dos episódios mais sangrentos da história deste país dito pacífico, e que aconteceu durante quase todo o dia gélido de 27 de junho de 1894. A Divisão do Norte vinha na direção de Passo Fundo e os federalistas rumavam à Fronteira, pretendendo passar pelo Município de Passo Fundo, ao qual Carazinho pertencia.

Após atravessar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com forças que chegavam a mais de cinco mil homens, e ameaçar Curitiba, Gumercindo Saraiva retornava ao Rio Grande com um exército reduzido e esfarrapado. Realizava uma das maiores façanhas militares da História do Brasil, comparada à Retirada de Laguna, durante a Guerra contra o Paraguai, alguns anos antes, e à Coluna Prestes, três décadas depois.

Segundo Carlos Reverbel (MATARAGATOS E PICA-PAUS, L&PM Editores, Porto Alegre, 1985, p. 83), entre 10 e 15 de abril de 1984, Gumercindo preparou sua retirada de volta ao Rio Grande com um exército de mais de cinco mil homens, dividido em três colunas. Acossados por forças contrárias e enfrentando um terreno que lhes era adverso, os federalistas somente conseguiram chegar a Passo Fundo no dia 22 de junho, com a tropa reduzida a 1.600 homens. "Nesta altura – escreve Carlos Reverbel, p. 84 - veio ao seu encontro a força de Prestes Guimarães, que se mantivera em operações na região. Reunidas as duas colunas, o efetivo de Gumercindo subiu para três mil homens."

Foi exatamente essa força conjunta que, naquele 27 de junho, enfrentou a Divisão do Norte, bem equipada, pois dispunha até de artilharia pesada. Divisão que teve, inclusive, a oportunidade de escolher, do ponto de vista estratégico, o melhor local para esperar e travar batalha com os maragatos. O confronto, iniciado pelas 10 horas, durou até ao entardecer.

Os dados sobre o número de homens envolvidos e de vítimas são contraditórios. Ângelo Dourado, médico das forças revolucionárias, que prestou socorro aos feridos no Pulador, em seu livro OS VOLUNTÁRIOS DO MARTIRIO (Reprodução Fac-similar da Edição de 1896, Martins Livreiro-Editor, 3ª Edição, Porto Alegre, 1979, p.250), calcula em 1.600 homens a força maragata, 800 dos quais eram lanceiros comandados pelo passo-fundense Prestes Guimarães, e em 3 mil os combatentes pica-paus, distribuídos entre três quadrados de infantaria, com mil guerreiros cada.

Quanto ao número de feridos, Prestes Guimarães, em documento, cuja cópia me foi franqueada pelo historiador Ney Eduardo Possapp d Ávila, afirma que os revolucionários tiveram “88 mortos, contados insepultos no campo de batalha alguns dias depois, e quase 200 feridos, inclusive o valente Aparício Mello (sic), José Silveira Martins e tantos outros bravos”. Reverbel (p.85) diz que "As baixas, entre mortos e feridos, de ambos os lados, foram superiores a 500". Já Gumercindo Saraiva, segundo o médico federalista, que nos legou um diário da expedição, "julgava que as forças de Lima deviam ter mais de mil homens fora de combate.” (p. 253).

O mesmo Ângelo Dourado (p. 254) escreve: "No lugar denominado Tope, recebemos comunicações do coronel Veríssimo que continua no Passo Fundo, tendo sepultado os nossos mortos. Ele calcula o número de cadáveres deixado pelo inimigo em oitocentos, não podendo saber ao certo, porque muitos estavam confundidos com os nossos. As nossas perdas, incluindo os polacos que nos faltam, montam a 214. Temos, porém cinco feridos que não poderão viver.” (A ortografia foi atualizada por mim, PM).

Outra testemunha dos fatos, o major Vicente Ferreira Castro, paranaense que lutava nas forças federalistas, assim descreveu o resultado final da batalha: "Ganhamos fisicamente o combate, porém o perdemos moralmente, e quem sabe se será nossa perdição essa derrota. Morreram muitos oficiais, desde coronéis até alferes e muitos saíram feridos. Calculam que entre mortos e feridos temos 200 homens. A Primeira Brigada foi a que mais gente perdeu, pois só o Batalhão Silveira da Mota, o meu e o do Badziak, ficaram reduzidos à metade, pouco mais." (Vasco José Taborda Ribas, A GENTE PARANAENSE NA REVOLUÇÃO FEDERALISTA, in FONTES PAR A HISTÓRIA DA REVOLUÇÂO DE 1893. URCAMP Editora, Bagé. 1990. p. 209).

Logo abaixo, continuando em suas anotações de campanha, parece referir se a mesma fonte usada por Ângelo Dourado, mas os números são diferentes. Com data do dia 7 de julho, assim escreve: "Veio um próprio do Veríssimo, trazendo notícia exata do combate de 27. Dizia que tivemos 88 mortos e que o inimigo teve 700 mortos. Soube-se com certeza, que saíram feridos nesse combate, o gen. Lima e o cel. Firmino de Paula."

Luiz de Senna Guasina (DIÁRIO DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul/Edições Est. Porto Alegre. 1999) outro participante da Revolução e que dela se retirou por discordar das idéias que iam dominando os federalistas, com data de 30 de junho de 1894, cita o jornal La Prensa ter divulgado "que os revolucionários tiveram 600 monos e muitos mais feridos; que os governistas tiveram somente duzentas baixas (...)"

Assim, quando examinamos fontes da época em que ocorreu a Batalha de 27 de junho de 1894, podemos concluir que nela se envolveram ao redor de 4.600 homens, sendo 3.000 pica-paus. Sob o comando do general Rodrigues Lima, assistido por Pinheiro Machado, e 1.600 maragatos, 800 das forças que acompanharam Gumercindo Saraiva em seu retorno do Paraná, e 800 cavalarianos, sob as ordens de Prestes Guimarães. Os mortos, seguramente, "foram superiores a 500", como escreveu Carlos Reverbel. Pelo comparativo das informações disponíveis, devem ter sido 800, pelo menos, os combatentes que tombaram na Batalha do Pulador.

Referências

  1. Do Jornal Rotta Julho de 2001 - Do Jornal O Cidadão 14 de Julho de 2001 - e de O Nacional 18/07/2001