À ASSEMBLEIA DE DEUS VEM COMIGO, OUVIR A PALAVRA DE DEUS

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À ASSEMBLEIA DE DEUS VEM COMIGO, OUVIR A PALAVRA DE DEUS

Em 31/10/2019, por Augusto Diehl Guedes


“À ASSEMBLEIA DE DEUS VEM COMIGO, OUVIR A PALAVRA DE DEUS”: apontamentos acerca da inserção, expansão e conformação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Passo Fundo (1936-1963)


Augusto Diehl Guedes[1]


Resumo: Os estudos da História das religiões e religiosidades têm constantemente apresentado a pluralidade como um fator inerente ao campo religioso brasileiro. Entender essa realidade é buscar compreender quais foram os agentes que (re)configuraram e ainda (re)configuram diferentes delineamentos para esse campo tão significativo na percepção das histórias dos grupos humanos. Nesse sentido, ante as comemorações no campo da historiografia passo-fundense e a proposta dessa coletânea, lança-se a discutir os primeiros anos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Passo Fundo, como uma difusora das crenças pentecostais. Para tanto, intenta-se evidenciar quem foram os sujeitos que a constituíram, bem como analisar aspectos da sua história entre os anos de 1936-1963, recorte estabelecido a partir do primeiro caderno de matrícula de membros da igreja. Esse trabalho apresenta-se como um esforço de evidenciar e compreender outros grupos religiosos passo-fundenses para além da matriz católica na região do Planalto Médio.


Palavras-chave: Protestantismo. Assembleia de Deus. Igreja Evangélica.


Introdução


Desde o primeiro censo religioso brasileiro, realizado no ano de 1872[2], durante o período do Brasil Imperial, e ainda antes disso, o catolicismo tem se configurado como a confissão religiosa que mais possui adeptos em território nacional. Entretanto, é também o grupo religioso que mais perdeu adeptos a cada censo realizado, o que evidencia um crescimento de outras matrizes no campo religioso brasileiro. Entendê-las e discuti-las consiste na busca da compreensão de parte das dinâmicas que envolvem a própria história nacional. Nos últimos 500 anos, viu-se, para além das crenças indígenas das inúmeras nações que ocupavam esse território, a chegada do catolicismo ibérico, dos judaísmos e dos cristãos novos, dos primeiros protestantes – calvinistas, anglicanos, luteranos –, das crenças africanas, dos metodistas, congregacionais e presbiterianos, dos espiritismos, dos pentecostalismos, das crenças budistas, esotéricas, dos islamismos, religiões orientais e também da não crença.

Dentre essas matrizes religiosas, as igrejas evangélicas, instaladas de forma efetiva há cerca de 200 anos, têm se destacado, seja pelo seu número de adeptos, com aproximadamente um quarto da população do país, e em constante crescimento, seja pela presença nos mais diversos espaços que antes lhes eram vedados ou de difícil acesso (para uma minoria religiosa), como a política, a economia, a cultura, as mídias e outros âmbitos da sociedade. Esse fenômeno pode ser verificado tanto na escala nacional quanto estadual e municipal.

Assim, passadas as comemorações encetadas pelos 500 anos da Reforma Luterana (1517-2017), deve-se considerar que os protestantismos brasileiros são múltiplos[3]. Entende-se que essas igrejas comungam em pelo menos três premissas: a justificação pela fé, o sacerdócio universal de todo cristão e a infalibilidade da Bíblia Sagrada (Delumeau, 1989, p. 59). Observando a pluralidade própria dos protestantismos, as igrejas pentecostais são as que têm apresentado maiores taxas de crescimento e atualmente representam a maior parte das igrejas protestantes, dentre elas a Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD) desponta como a segunda maior confissão religiosa no Brasil, com cerca de 12 milhões de membros (IBGE, 2010) e com presença em todos os estados brasileiros de maneira efetiva e consolidada.

Compreender a história de uma instituição já centenária como a IEAD e a sua configuração em território nacional, constituem-se como fatores fundamentais para o campo religioso brasileiro. Em vista disso, atentando para as dinâmicas locais, a presente proposta consiste em analisar a presença dessa instituição religiosa na região de Passo Fundo/RS. Entendendo-a a partir das dinâmicas do campo religioso de Bourdieu[4], toma-se como fonte principal o primeiro caderno de matrícula de membros da igreja, que confere a essa pesquisa o recorte temporal (1936-1963), ao que se somam fotografias, a história oficial, o estatuto e a revisão de literatura[5] para auxiliar na compreensão acerca da inserção e da (con)formação inicial dessa comunidade na região do Planalto Médio sul-rio-grandense.


“Porta que abriu e nunca mais fechou” [6]: a presença da IEAD no Brasil e no Rio Grande do Sul


Em 19 de novembro de 1910, provenientes dos Estados Unidos, desembarcaram no porto de Belém (PA) dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, e lá se estabeleceram junto a uma igreja batista com vínculos suecos, dirigida pelo Pr. Erik Nilsson. A doutrina por eles pregada – o pentecostalismo – levou a uma cisão na igreja local, criando uma nova igreja no Brasil, a Assembleia de Deus[7].

O pentecostalismo se caracteriza como a crença, dentro do protestantismo, na continuidade de dons “carismáticos” registrados na Bíblia, aos quais a igreja contemporânea teria ainda acesso. Essa compreensão teológica, que nasceu na Escola de Topeka (Kansas/EUA) e foi potencializada na Apostolic Faith Mission (Los Angeles/EUA)[8], levou as igrejas estadunidenses na virada do século XIX para o XX a vivenciarem cultos marcados por êxtases, curas e demais experiências tidas pelos fiéis como sobrenaturais e legitimadoras dessa fé. Assim, pastores e pastoras fundaram novas igrejas que atingiram inúmeros países, como no caso do Brasil. Historiadores e sociólogos concordam a respeito das características desse pentecostalismo nascente que chega ao Brasil denominado de “Pentecostalismo Clássico” ou de “primeira onda”, visto que é marcado pela simplicidade da mensagem (para todos os públicos) trazida por imigrantes, dando ênfase ao adventismo (iminente retorno de Jesus Cristo) e à glossolalia (batismo no Espírito Santo). Portanto, criam-se comunidades a partir da atuação de leigos[9], principalmente nas periferias e no meio rural (Freston, 1994; Mariano, 2014; Siepierski, 2008)[10].

A pregação das IEADs estava dirigida às camadas mais pobres da população, fator que impulsionou seu crescimento (Alencar, 2005, p. 46), inclusive ao proporcionar a atuação de leigos nas comunidades, até mesmo em cargos de liderança, o que é uma marca do pentecostalismo. A sua expansão deveu-se, dentre inúmeros fatores, à agência dos fiéis no evangelismo pessoal ao divulgar a sua fé no seu círculo de convivência (ROLIM, 1985, p. 46). A respeito dos pentecostais, toma-se as considerações feitas por Dreher com relação aos protestantes brasileiros desse contexto e que se aplicam à realidade que é estudada (apesar das generalizações). Assim, pode-se traçar alguns delineamentos dos pentecostais como sujeitos de

participação na vida da Igreja, testemunho público da fé; [...]; pratica a temperança: não bebe, não fuma, [...]; [no caso pentecostal] não [busca] transforma[r] a sociedade [entendido por um viés de projeto político], mas a condena por causa de seus vícios. É contra carnaval, baile e festa. [...]. A igreja é considerada espiritual, nada tendo a ver com este mundo; ao invés do caráter profético, surge nesse protestantismo o institucionalismo (Dreher, 2002, p. 131).

Com uma identidade muito bem firmada enquanto grupo religioso, permeada por compreensões sobrenaturais sobre si e acerca do grupo[11], uma das marcas da expansão assembleiana pelo Brasil foi o evangelismo pessoal, seja ele gestado pela instituição ou pela ação deliberada dos leigos. Até o ano de 1956 a IEAD já estava presente em todos os estados brasileiros, inclusive no Distrito Federal.

Cerca de 45%[12] dos estados brasileiros tiveram a instalação da primeira congregação da IEAD “por meio de seus adeptos, leigos, que migraram para essas regiões e ali começaram a pregar sua convicção religiosa. Muitos destes (i)migrantes que se deslocaram, o fizeram por razões econômicas e não com um intuito proselitista, missionário” (Guedes, 2017, p. 519). Nos outros 14 estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Sul, e no Distrito Federal a lógica de implantação da primeira comunidade se deu através do envio de pastores ou missionários que tinham por intuito implantar novas igrejas.

No Rio Grande do Sul, a instalação da primeira igreja aconteceu por meio do envio do casal de missionários suecos Gustav e Herwig Nordlund à capital, Porto Alegre, em 2 de fevereiro de 1924. Vindos da Suécia em 1922, passaram pelos EUA e depois residiram em Belém (PA), local onde trabalharam por um período de oito meses. O primeiro culto em terras porto-alegrenses aconteceu em 15 de abril de 1924, com a presença de quatro pessoas. No mesmo ano, em 19 de outubro, o batismo de dez pessoas no rio Guaíba foi o marco da fundação oficial da igreja em terras sulinas. Ressalta-se que o crescimento do grupo é evidenciado pela mudança, em 1926, para um templo que comportava 200 pessoas, transferência esta que só foi possibilitada por doações de amigos do casal nos EUA e na Suécia (Lopes, 2008, p. 26).

Contudo, cabe destacar duas questões nas quais a IEAD no Rio Grande do Sul se difere do restante do país. A primeira refere-se à permanência dos suecos na direção da igreja, com Gustavo Nordlund e seu sucessor Nils Taranger, desde 1924 até 1988. Quanto à segunda questão, observa-se a expansão da igreja de forma mais coordenada a partir da instituição, com ações evangelísticas, diferente do que aconteceu nas regiões Norte e Nordeste (Lopes, 2008). O evangelismo pessoal continuou sendo a marca da ação prosélita, todavia, consistia em um investimento organizado eclesiasticamente pró-expansão da doutrina assembleiana.

Um ponto marcante na história da IEAD no estado foi a inauguração, em 26 de fevereiro de 1939, de um templo com capacidade para 2.000 pessoas[13], o maior da igreja até a época em todo o Brasil. A esse respeito, o periódico oficial da IEAD no Brasil, o Mensageiro da Paz, noticiou o acontecimento na capa da edição da primeira quinzena de abril de 1939, como confere-se na sequência.

A imagem estampada na capa reforça a ideia da multidão comportada pela igreja e que se fazia presente na celebração pela inauguração do novo templo. Na página de número seis da mesma edição, um dos articulistas do jornal, Pr. Samuel Nyström, destacou a grande assistência da celebração que fora presidida pelo Pr. Gustav Nordlund, e apresentou a construção como o esforço das IEADs do estado do Rio Grande do Sul, como verificado no trecho a seguir:

Foi uma grande vitória, que o Senhor concedeu ás Assembléas de Deus, no Rio Grande do Sul, ás quais deu um amplo salão para a pregação do Evangelho de Cristo, na capital do Estado. Todas as assembléas no Estado têm, assim, parte na obra efetuada, e, por isso, se alegram com a assembléa local sôbre á vitória conseguida (1939, p. 6).

Nos anos de 1940, a IEAD de Porto Alegre teve diversas congregações a ela vinculadas fundadas no estado. O Pr. Frederico Linck listou 32 igrejas[14] criadas até aquele momento com o objetivo de expandir o grupo por todo o Rio Grande do Sul e que estavam filiadas a IEAD de Porto Alegre, dentre as quais encontram-se Passo Fundo e Cruz Alta, na região do Planalto Médio (1957, p. 304).

Os anos seguintes foram assinalados por uma crise política que levou a saída do casal Nordlund da direção da igreja em Porto Alegre. Isso posto, concorda-se com Lopes ao entender que “os motivos da saída de Nordlund foram políticos. Havia um movimento dissidente na Assembléia de Deus gaúcha que intentava assumir o comando da denominação” (Lopes, 2008, p. 28).

Com a saída de Nordlund, três pastores sul-rio-grandenses, Jesuíno de Lima, Manoel Dorneles e Orvalino Lemos, indicaram o nome do Pr. Nils Taranger, pastor em Bagé/RS desde 1948, para assumir a igreja em Porto Alegre. A administração do novo pastor resolveu as dissidências no estado por meio da implementação do modelo administrativo ainda presente e tem a sua gestão marcada pela criação da Convenção das Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembleia de Deus no Estado do Rio Grande do Sul (CIEPADERGS), em 1957, mesmo ano em que criou 17 campos autônomos da IEAD no Rio Grande do Sul (Lopes, 2008, p. 29). Segundo o Estatuto da ADPF, são eles: Alegrete, Cachoeira do Sul, Caxias do Sul, Cruz Alta, Ijuí, Itacurubi, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Porto Alegre, Rio Grande, Saltinho, Santa Maria, Santa Rosa, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, Três Passos e Uruguaiana. Assim, com a criação de campos autônomos da igreja pelo estado, legou-se maior autonomia para as igrejas locais, o que teria favorecido o desenvolvimento desses grupos.

Com base nos levantamentos do Pr. Linck[15], 30 anos após a instalação da IEAD no estado, contabilizavam-se mais de 100 mil membros, com cerca 500 obreiros “nativos” e aproximadamente 120 templos e capelas, que pertenciam, em sua maioria, à instituição, sendo alguns alugados (1957, p. 309)[16].

Assim, compreendeu-se até o momento o cenário que foi sendo estabelecido pela atuação dos assembleianos no Brasil e sua inserção no estado sul-rio-grandense. Postas essas questões, direcionar-se-á para a compreensão da fundação e expansão da IEAD na cidade de Passo Fundo.


“Em cada povoado tem uma igreja”[17]: aspectos da IEAD em terras passo-fundenses (1936-1963)


No contexto da instalação da nova igreja em Passo Fundo na década de 1930, a cidade vivenciava um momento de crescimento e desenvolvimento econômico proporcionado tanto pelas madeireiras, pela produção de milho e trigo, quanto pela crescente indústria de frigoríficos, olarias e serrarias (Miranda; Machado, 2005). O campo religioso que se apresentava também era diverso. Para além da presença católica já estabelecida (século XIX), notabiliza-se as crenças afro-brasileiras (século XIX), a presença do espiritismo (1902-1903), dos judeus (1912), bem como de quiromantes e astrólogos itinerantes.

A presença de outras igrejas evangélicas também deve ser considerada. O pioneirismo protestante se deu com os metodistas que instalaram sua igreja no ano de 1912, mas já estavam presentes na cidade desde 1904 com as primeiras visitas de pastores de Cruz Alta/RS à cidade (Medeiros, 2007, p. 101). Em 1936, a Assembleia de Deus representou a segunda igreja protestante a se instalar no município, seguida pela comunidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (1937)[18]. Já nos anos 1950, ocorreu o estabelecimento de duas outras igrejas: a Igreja Batista Independente (1953) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (1959)[19].

Como já registrado, um dos fatores que levaram à expansão das IEADs em território nacional fora o evangelismo pessoal, o que também ocorreu no estado sulino. Assim, nos primeiros 25 anos da IEAD no estado, igrejas foram fundadas em pelo menos 17 cidades[20], a saber: Porto Alegre (1924), Santa Maria (1927), Caxias do Sul (1928-1931), Porto Lucena (1931-1932), São Luiz Gonzaga (1933-1934), Cruz Alta (1935), Palmeira das Missões (1935-1936), Passo Fundo (1936), Rio Grande (1937-1943), Uruguaiana (1937-1938), Nonoai (1938), Ijuí (1940-1942), Santo Ângelo (1940), Alegrete (1946), Cachoeira do Sul (1946) e Três Passos (data não obtida).

Com base na listagem anterior, percebe-se que Passo Fundo foi a oitava cidade em que uma igreja Assembleia de Deus se instalou. Entretanto, a sua fundação está relacionada à atuação do sujeito leigo dentro da igreja, e não a projetos arquitetados pela instituição. Assim,

[...] a data que assinala o início das atividades da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Passo Fundo é o dia 19 de maio de 1936, quando o irmão Oscar Ferreira, diácono da Igreja Assembleia de Deus (telegrafista da Ferrovia) foi transferido provisoriamente para Passo Fundo (por motivos do trabalho). Ele veio com sua família. Uma vez em Passo Fundo, o irmão Oscar anunciava a Jesus através do evangelismo pessoal (IEADPF, 2014, p. 11).

Corrobora com essa leitura o fato de os primeiros sete membros arrolados no Caderno de Matrícula terem sido ferroviários ou pessoas ligadas a eles. Então, foram recebidos como os primeiros membros da IEAD em Passo Fundo, por meio do batismo nas águas[21], no dia 21 de junho de 1936, Etelvina S. Ramos, 37 anos e casada, João S. Ramos, ferroviário e casado, Demétrio Bolner, 40 anos, casado e ferroviário, Celina Bolner, 31 anos e casada, Maria Joaquina, 69 anos e viúva, Marcelino Freitas, ferroviário e casado, e Catharina Freitas, casada (Caderno de Matrícula, 1936-1963), abrindo oficialmente a igreja na cidade.

Para a realização do batismo era necessária a presença de um ministro ordenado, o que se deu pela presença do Pr. Tomé de Souza, primeiro pastor da IEADPF, enviado pela igreja da cidade de Santa Maria, de forma provisória. Em 1937, a IEAD de Porto Alegre enviou o Pr. Emiliano Araújo Lopes para coordenar a igreja em Passo Fundo (IEADPF, 2014, p. 11)[22].

Posto isso, o que se verifica no caso de Passo Fundo é o que Rolim (1985) denominou de nucleação (formação de pequenos núcleos), ou seja, uma vez que

[...] cada crente é um porta-voz de sua fé. Aonde chega semeia sua crença como uma planta nova. E aqui entre o segundo elemento vivido pelas populações nortistas e nordestinas, sobretudo a imigração inter-regional. Cada crente que se desloca carrega consigo sua igreja para plantá-la no lugar onde vai morar. Não espera a construção de um templo, nem mesmo pela chegada de um pastor. Estabelece o culto em sua própria casa, nas periferias das cidades ou vilas, ou mesmo na área rural (Rolim, 1985, p. 46)

Entendendo que o pentecostalismo é um meio em que as experiências cotidianas são valorizadas pela comunidade de fiéis e cridas como perpassadas do sobrenatural, muitos destes sujeitos interpretam essa experiência “como um mandato para o evangelismo” (Araújo, 2014, p. 289), uma missão. Foi através dessa perspectiva que um ferroviário integrante da IEAD em Santa Maria/RS iniciou suas prédicas com um pequeno grupo em sua casa. Destaca-se, também, que não há registros precisos de onde teria sido a primeira igreja, mas pelo que as fontes indicam, poderia ter sido na Rua Fagundes dos Reis, próximo da Vila Rodrigues, região onde muitos ferroviários residiam na cidade.

Vale ressaltar que a principal fonte é o primeiro Caderno de Matrícula de Membros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Passo Fundo (IEADPF). Nela, encontram-se arroladas 3.092 pessoas que foram batizadas entre 21 de junho de 1936 e 22 de outubro de 1963, compreendendo um período de 27 anos. O caderno contém os seguintes registros: números (de registro como membro), nomes, idade (data de nascimento), nacionalidade, batismo (data), profissão, residência (localidade ou município em que reside), estado civil, “eliminação” – subdividida em data e causa da exclusão do membro – e observação (Caderno de Matrícula, 1936-1963).

Então, partindo da análise dos dados contidos no caderno, busca-se evidenciar algumas questões acerca da história dessa comunidade na cidade de Passo Fundo. Por exemplo, dentre os membros, diversos não possuem todas as colunas preenchidas. Ademais, salienta-se que o número de 3.092 ressalta o ingresso de novos membros, mas nem sempre a permanência vitalícia destes na igreja. No ano de 1967, o número de membros em comunhão foi cedido pelo Pr. Nils Taranger às pesquisas do Pr. William R. Read.[23] Esses dados foram tabelados em um gráfico para que se compreenda o crescimento vivenciado pela IEADPF[24]. Como evidenciado no Gráfico 1, verifica-se que a expansão da instituição e o recebimento de novos membros foram constantes durante o período estudado, o que permite perceber uma aceitabilidade da fé pentecostal na comunidade de Passo Fundo. Todavia, sublinha-se que as crianças não são contabilizadas nesses dados, posto que a IEAD não possui a prática de batizar crianças, fazendo-o geralmente depois dos 10-12 anos de idade. Além disso, ao observar quem eram os sujeitos que compõem a comunidade assembleiana em Passo Fundo, a maioria absoluta era composta de brasileiros, com a exceção de alguns poloneses (4), russos (3), alemães (2) e uruguaios (2).[25]

Para mais, os batismos eram realizados várias vezes por ano, tendo relação direta com o crescimento da adesão à fé assembleiana. Em 1936, primeiro ano da comunidade, foram realizados dois batismos (junho e agosto). No segundo ano, o número subiu para seis (janeiro, abril, julho, outubro, novembro e dezembro), mantendo-o para o ano de 1938 (março, maio, agosto, setembro, novembro e dezembro).

Na imagem a seguir (Figura 1) tem-se o primeiro registro fotográfico de um batismo assembleiano em Passo Fundo. Em concordância com as informações do caderno de membros, compreende-se que esse batismo ocorreu em 29 de maio de 1938. No meio da fotografia, em posição de destaque, é possível verificar a presença do Pr. Emiliano Araújo Lopes, responsável pela igreja na cidade entre os anos de 1937-1941 e de novembro de 1943 a fevereiro de 1953. As roupas dos candidatos ao batismo são batas brancas, uma referência explícita à simbologia de pureza e à santificação do rito.

Salienta-se que a comunidade era formada por aproximadamente 63% de mulheres. Apesar destas não terem lugar na hierarquia assembleiana, eram ativas nas classes das Escolas Bíblicas Dominicais[26] e nos círculos de oração, grupos nos quais oravam, cantavam e compartilhavam suas vivências. Mello (2011, p. 30) considera que a adesão das mulheres ao pentecostalismo nesse contexto permite uma maior participação na esfera pública, uma vez que por meio da evangelização e do trabalho desempenhado na congregação a mulher tem maior atuação na sociedade.

Em relação ao estado civil de seus membros, boa parte dos assembleianos, tanto homens quanto mulheres, eram solteiros (49%). Casados constituíam cerca de 46%, e viúvos, 5%[27]. Quanto à profissão, a maioria das mulheres eram classificadas como “domésticas”, ou seja, donas de casa[28]. As profissões que se destacaram foram: agricultores, operários, seguidos por ferroviários e militares. Indicando uma inserção no meio rural da região. Além destes, jornaleiros, pedreiros, mecânicos, motoristas, comerciantes e evangelistas, ao que se somam guardas noturno, industriais, alfaiates, costureiras, marceneiros, carpinteiros, estudantes, professoras, industriais, alfaiates, pintores, funcionários públicos, niqueladores, latoeiros, secretária, eletricista, entre outros, compunham a IEADPF. Para Guedes (2017, p. 53) isso remete tanto ao crescimento econômico e populacional e à diversificação do trabalho no município no qual a IEAD integra quanto ao aumento dos setores industrial e de prestação de serviços.

Deve-se ressaltar que os membros da IEADPF, naquela conjuntura, não faziam parte do restrito grupo da elite política e econômica passo-fundense. Um dos motivos que reforçam essa compreensão é a parca repercussão da IEAD nos periódicos O Nacional e Diário da Manhã, principais jornais da região. Apenas duas notícias foram identificadas[29] no período entre 1936-1963. A primeira foi veiculada em 25 de maio de 1946 e convidava para a inauguração de um templo da IEADPF, “conhecida em todo o mundo”, na esquina das ruas Moron e Vinte de Setembro, publicada no O Nacional[30]. A segunda veiculação é de novembro de 1957 sobre um congresso realizado na IEADPF, noticiada pelo Diário da Manhã.

A década de 1950 marcou três fatores importantes para a igreja local. Inicialmente, em 22 de outubro de 1950 foi construído o templo na Rua Moron, 2560, no Boqueirão (Figura 2), durante a administração do Pr. Emiliano Lopes. O segundo momento foi em janeiro de 1954 quando o Pr. Germano Domingo Zucchi[31] assumiu a igreja, o pastor liderou a comunidade por maior tempo, 42 anos (IEADPF, 2014, p. 11-13). Por fim, em 1957, o Pr. Nils Taranger concedeu à IEADPF sua emancipação eclesiástica da igreja em Porto Alegre, conferindo autonomia jurídico-administrativa a ela, momento este em que passou a ser a sede da Assembleia de Deus na região norte do estado (Guedes, 2017, p. 55).

Além disso, vale mencionar que os membros da Assembleia de Deus em Passo Fundo não residiam apenas na cidade ou na área urbana do município. Ao mapear os lugares de residência, 41 localidades foram apontadas no caderno de matrícula, algumas cidades e outras ainda distritos. A acentuada presença de localidades do interior corrobora com o entendimento da presença de muitos agricultores entre os membros da IEADPF, o que evidencia o esforço destes agentes assembleianos em ocupar espaços que talvez não tivessem tanta concorrência religiosa ou conota que a presença de outras instituições não fosse tão sensível ao meio rural. As localidades com maior presença eram: Passo Fundo (755) Nonoai (243), Carazinho (231), Erechim (227), Sarandi (209), Votouro (136), Cacique Doble (127), Três Palmeiras (109), Getúlio Vargas (90) e Faxinalzinho (67)[32]

Nessa perspectiva, verifica-se uma dispersão e expansão de uma igreja formada por pessoas que não compunham a elite social da cidade, dentre elas agricultores, operários e donas de casa, em múltiplos espaços, principalmente os periféricos. De acordo com Alencar (2010, p. 156), um dos fatores de expansão das IEADs no Brasil era a possibilidade de grupos segregados pela sociedade não somente participarem dos cultos, mas também cantarem, pregarem, glorificarem; o membro “era a igreja”. Essa postura não se restringiu somente à AD, mas revela o investimento religioso na tentativa de angariar novos adeptos entre esses grupos sociais. Partindo da ideia do livre acesso ao “poder divido”, sem a mediação dos produtores de bens sagrados, a liberdade de se expressar e até de ingressar na hierarquia da instituição, são fatores a serem considerados como valorizadores do indivíduo (Alencar, 2010, p. 44; Dreher, 2013, p. 476).

A última parte do caderno tratava das eliminações dos membros[33], o que poderia acontecer por falecimento, transferência, desobediência (expulso) ou por desistência pessoal do membro (deste último não se encontra registro). Destaca-se que foram registrados pelo menos 255 membros que foram excluídos pelo motivo de “desobediência” entre os anos de 1936-1963. As maiores parcelas foram nos anos de 1942 (21), 1947 (13), 1960 (17) e 1961[34] (17) períodos em que Emiliano Lopes e Germano Zucchi foram pastores. As causas não são especificadas, isto é, não eram assinaladas quais foram as faltas cometidas pelos ex-membros. Sendo assim, depreende-se que isso possa estar vinculado àquilo que está estabelecido no Estatuto, mas também não se desconsidera a desobediência ao pastor da igreja.

Dentre os excluídos, um caso chamou a atenção. Uma mulher de 54 anos, membro desde 1937, residente em Passo Fundo, casada e que foi excluída em 1940. Segundo os registros, teve em sua matrícula escrita a palavra “cigarro”, o que pode indicar a causa da sua eliminação do rol de membros da igreja. Logo, esse fato indica para certa rigidez das regras de comportamento impostas ao grupo. Contudo, esse tema ainda merece ser mais bem estudado, buscando entender como se dava a reconciliação e verificando se houve alguma liderança que se rebelou e deu origem a um novo grupo nesse período.

Ressalta-se que não há registros de que esses ex-assembleianos tenham aderido a outro grupo religioso. Para mais, a mobilidade dos membros da AD no estado também é percebida, dado que 196 membros vieram transferidos para a ADPF, e outros 235, oriundos de Passo Fundo, entraram em outras IEADs.


Considerações finais


Como pode-se perceber, os dados analisados durante esse trabalho permitem ainda múltiplas pesquisas; portanto, não se pretende esgotar as fontes ou encerrar o tema. Com base na observação de sua formação histórica, da (con)formação da sua membresia e da sua operatividade prosélita, compreende-se que a Assembleia de Deus chegou e se expandiu não somente em Passo Fundo no princípio do século XX, mas também em toda a região norte do estado, tendo atingido parcelas significativas da população e se consolidando ante um cenário religioso plural. Nesse processo de expansão, a marca do evangelismo pessoal fora mantida. Assim, assembleianos, agentes de sua fé, foram ativos na evangelização e divulgação de sua fé ante, sobretudo, trabalhadores que constituíam seus vínculos de sociabilidade e (re)construíram uma nova conformação religiosa para o município de Passo Fundo.


Referências

  1. [1] Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo – UPF e graduado em Licenciatura em História pela UPF, integrante do Laboratório de Estudo das Crenças (LEC) e do Núcleo de Estudos de Memória e Cultura (NEMEC). É também secretário do Grupo de Trabalho de História das Religiões e religiosidades da ANPUH-RS. E-mail: augustodguedes@hotmail.com.
  2. [2] Apesar das deficiências e limitações apresentadas nos e dos censos, os entende-se como significativos para a compreensão de alguns aspectos quantitativos do campo religioso. Evidencia-se que no contexto (1872), a liberdade de confissão religiosa era muito diferente da atualidade, sendo ainda o catolicismo a religião oficial do Império do Brasil.
  3. [3] Com base nestas crenças, distinguimos cinco tipos de protestantismos. Inicialmente, o “protestantismo de imigração”, representado por anglicanos e luteranos, principalmente, foram grupos que se preocuparam em acompanhar e assistir espiritualmente as comunidades étnicas que vieram ao Brasil durante o séc. XIX. Já o “protestantismo de missão” constitui-se pelos grupos principalmente estadunidenses que vieram para o país entre 1835-1859 com intuito proselitista, dentre os quais evidenciamos metodistas, batistas, congregacionais, presbiterianos e episcopais (Dreher, 2002, p. 120). O “pentecostalismo”, das igrejas Congregação Cristã no Brasil, Assembleia de Deus, Quadrangular, Brasil para Cristo e Deus é Amor, designa o terceiro tipo dos protestantismos, inserido no Brasil a partir de 1910. Por sua vez o “neopentecostalismo”, com centralidade na teologia da prosperidade, exorcismos, confissão positiva e cura divina, é o quarto tipo dos protestantismos, desenvolvido a partir de 1977 com as igrejas Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus e Apostólica Renascer em Cristo. Por fim a “transconfessionalidade” protestante é conformada por grupos dissidentes do protestantismo histórico (de missão e imigração), que de caráter agora interdenominacional buscam atuar em projetos missionários e evangelísticos, preconizando novas formas de manifestação e compreensão da fé, além de grupos que aderiram a Teologia da Libertação ou a concepções semelhantes (DREHER, 2002, p. 120-121).
  4. [4] Partindo de Bourdieu (2015, p. 39), entendemos que campo religioso é o espaço dinâmico produzido pelas relações de poder envolvendo a ação dos agentes religiosos, inicialmente para com os leigos, mas também dentre seus pares. Entre si, esses agentes, que consistem no corpo de especialistas (padres, pastores, médiuns, ialorixás, etc.), lutam pela ampliação de sua influência no campo para garantir o seu monopólio. No caso brasileiro, sacerdotes do clero católico romano empreenderam, desde a época da colonização, estratégias para manter, expandir e consolidar o domínio católico no país, inclusive buscando influenciar outros campos e não somente o religioso, uma vez que nenhum campo é autônomo, mas está vinculado aos demais, como o político, artístico, intelectual, cultural, econômico, entre outros.
  5. [5] É importante agradecer ao Pastor João Maria Hermel, Pastor Presidente da IEADPF na época inicial da pesquisa, e ao Pastor Ângelo Zanfir da Silva, atual Pastor Presidente da IEADPF Sul, pela confiança de terem nos recebido no templo sede e permitido que a pesquisa fosse realizada por meio da consulta e digitalização dos documentos, bem como a Alan Chiamenti Machado pela disponibilização das fotografias e a Daniel Jesus da Rosa pelas conversas e indicações, sem as quais seria difícil o desenvolvimento desse trabalho.
  6. [6] Trecho do “Hino do Centenário” da IEAD.
  7. [7] Inicialmente, o grupo adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, mudando-o apenas em 1918 para Assembleia de Deus. Ambos os nomes eram também de igrejas estadunidenses.
  8. [8] Para saber mais sobre o chamado “Avivamento da Rua Azusa” ver em: ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 3. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2014.
  9. [9] Com base em Bourdieu (2007, p. 39) depreende-se que os leigos são aqueles que no processo de monopolização da gestão dos bens de salvação, foram destituídos da capacidade de criação. Seu oposto são os agentes religiosos, um corpo de especialistas do sagrado, podendo ser entendidos, neste caso de estudo, como os pastores.
  10. [10] Em 1910 foi fundada a primeira igreja pentecostal no Brasil – a Congregação Cristã no Brasil – fundada por dois imigrantes italianos que estavam nos EUA, Luigi Francescon e Giácomo Lombardi, na cidade de São Paulo, inicialmente para a comunidade de imigrantes italianos, sendo posteriormente ampliada também para os brasileiros (Araújo, 2014, p. 202).
  11. [11] Como apresentado no título deste trabalho: “À Assembleia de Deus vem comigo ouvir a Palavra de Deus”, trecho de um hino da Harpa Cristã (hinário oficial das IEADs no Brasil), que indica uma autocompreensão legitimadora do processo evangelístico pela presença de Cristo e de sua palavra junto ao fiel.
  12. [12] Foram eles Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Piauí, Rondônia, Amazonas, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Sergipe, Santa Catarina, Goiás (Guedes, 2017, p. 519).
  13. [13] No salão principal de cultos, fora os demais espaços e salas disponíveis.
  14. [14] Eram as seguintes igrejas: Caxias do Sul, Taquari, Pega-fogo, São Francisco de Paula, Cachoeira do Sul, Jaguarão, Santa Maria, Cacequi, Alegrete, Uruguaiana, Itaquí, São Borja, Itacurubi, Timbaúba, Itaquarichim, Rincão dos Mirandas, Cândida Vargas, São Luiz Gonzaga, Santo Ângelo, Pôrto Lucena, Linha saltinho, Ijuí, Ramada, Cruz Alta, Potreiro Bonito, Ribeirão Bonito, Boi Preto, Costa da Serra, Rincão da Timbaúva, Alto Uruguai e Passo Fundo.
  15. [15] Toma-se esses dados como indicativos, uma vez que Frederico Linck era pastor da denominação e fala do lugar religioso.
  16. [16] A gestão do Pr. Nils Taranger que se estendeu até 1988 se destacou também por uma maior inserção nos meios midiáticos, com a criação do programa radiofônico Boas Novas, através da Rádio Farroupilha AM, além da revista de mesmo nome, a fundação do asilo Gustavo Nordlund, da clínica e abrigo Lar Esperança e do Instituto Bíblico Esperança, para a formação de quadros capacitados para a igreja, todos fundados na década de 1960 (Lopes, 2008, p. 30).
  17. [17] Trecho do “Hino do Centenário” da IEAD.
  18. [18] Notabilizou-se que a Igreja Luterana já tinha um grupo de senhoras luteranas (a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas - OASE) por volta de 1928. Entretanto, optou-se por tomar a data utilizada pela própria igreja (1937) uma vez que foi nela a fundação oficial da comunidade em Passo Fundo.
  19. [19] Não foram obtidas informações sobre conflitos entre membros da IEAD e algum outro grupo religioso na cidade neste período, o que não significa que não ocorreram, visto que o campo religioso se pauta também pela concorrência (Bourdieu, 2007).
  20. [20] Os dados foram obtidos através da obra de Machado (2014), que se importou em reunir informações sobre as primeiras igrejas no estado extremo sulino.
  21. [21] Ressalta-se que, de tradição batista, o batismo nas águas é o meio para recepção do fiel como membro de fato na instituição. Casos em que a pessoa viera de outras igrejas evangélicas se faz apenas um reconhecimento, sem precisar ser novamente batizada.
  22. [22] Outros pastores conduziram a igreja na cidade por pouco tempo. São eles: Pr. Júlio Adão Michel (05/1941-04/1943), Pr. Orvalino Lemos (04/1943-11/1943), Pr. Teodoro Borges (01-02/1952), Pr. Ramão Marques (02/1952-12/1952) e Pr. Noé Camargo (06/1953-01/1954).
  23. [23] William Read foi pastor presbiteriano, estadunidense, e desenvolveu diversas pesquisas a respeito do protestantismo no Brasil e na América Latina, dos quais destacamos a obra produzida dois anos após a obtenção dos dados: READ, William; MONTERROSO, Victor; JOHNSON, Harmon. O Crescimento da Igreja na América Latina. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1969.
  24. [24] Uma vez que os dados cedidos a William Read não conferem com os números obtidos junto ao caderno (apresentam menos membros que os arrolados), tomam-se essas informações para delinear um gráfico representativo do crescimento da IEADPF.
  25. [25] Como as datas da vinda destes ao Brasil não foram registradas não se pode afirmar os motivos que levaram à migração. Entretanto, depreende-se que eventos como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Revolução Russa (1917) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) possam ter alguma relação com o deslocamento desses sujeitos.
  26. [26] As Escolas Bíblicas Dominicais são encontros de instrução bíblica, realizadas em diversas igrejas evangélicas, geralmente nos domingos pela manhã, com o intuito de difundir e ensinar a sua fé aos seus membros e a quem mais se interessar.
  27. [27] Esse número de solteiros nos aponta para a formação de casais entre jovens assembleianos, uma vez que o casamento com alguém da própria igreja era preconizado pela instituição, gerando um fortalecimento da própria igreja.
  28. [28] Dado o contexto ainda excludente das mulheres para o mercado de trabalho.
  29. [29] Utilizou-se o mapeamento das matrizes religiosas do município de Passo Fundo desenvolvido por bolsistas e voluntários do projeto “Religiosidade e Cultura: possibilidades de pesquisa”, sob a orientação da Profª. Drª. Gizele Zanotto.
  30. [30] Sobre esse templo não se encontrou registros, uma vez que o templo atual, inaugurado em 1950, fica na rua Moron nº 2560, esquina com a rua 7 de Agosto. Entendemos que se trata de um equívoco, dado que os endereços estão distantes em um quarteirão.
  31. [31] Em seus 42 anos de pastorado iniciou o trabalho da IEADPF em 22 municípios da região, além de fundar o Lar Emiliano Lopes como abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade social. (ADPF, 2014, p. 12). Sublinhamos que Zucchi é o único líder assembleiano a ter seu nome homenageado em um dos topônimos da cidade, com uma praça no Conjunto Habitacional Edmundo Trein (Miranda; Mendes, 2011, p. 129).
  32. [32] As demais localidades registradas são: “Reserva”, Barracão, São José, Iraí, Coxilha, Lagoa Vermelha, São Luiz, São José do Ouro, “M. Senero”, Engenho Menegheti, Engenho Englert, Santa Bárbara, Não Me Toque, “P. Entrada”, Viadutos, Capoere, São Bento, Pinheiro Marcado, Espigão Alto, “Casa Zuela”, Coroado, Machadinho, Palmeira Estação, Marcelino Ramos, Linha do Fundo, “Linha do Trem ‘Dada’”, Santa Rosa, Ijuí, Pulador, Quatro Irmãos, Ribeirão Bonito e Água Santa.
  33. [33] A respeito disso, o Estatuto da ADPF, no artigo 11, determina que aqueles que não tiverem uma conduta “conforme os preceitos bíblicos”, abandonarem a igreja, “promover[em] dissidência manifesta ou se rebelarem contra a autoridade da igreja, do Ministério ou das Assembléias”, ou praticarem adultério, fornicação, prostituição, zoofilia, relação sexual entre pessoas do mesmo sexo, homicídio e sua tentativa, furto ou roubo, rebelião, “feitiçaria e suas ramificações” e crimes hediondos perderão a sua condição de membros, sendo destituídos de algum cargo se assim estiverem ocupando” (IEADPF, 2006, p. 3).
  34. [34] Dado que as causas não são explicitadas torna-se difícil a análise dos dados. Procurou-se grupos sectários da AD que se originaram nesse período, mas não foram encontrados.