A Crise dos Demissionários

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A Crise dos Demissionários

Em 19/08/2014, por Helena Teston


A Crise dos Demissionários[1]

Parte I (publicada em 29/07/2014)

Helena Teston[2]

Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas nomeou seus homens de confiança para os cargos estratégicos do novo governo. Osvaldo Aranha, Batista Luzardo, Mauricio Cardoso, Lindolpho Collor e os demais correligionários do Partido Republicano e da Aliança Liberal colocaram em prática a Revolução e buscavam uma mudança no panorama político brasileiro. Nos primeiros momentos, a expectativa que a vez do estado extremo-sulino havia chegado animou os representantes rio-grandenses. Alijado do processo político devido à aliança entre São Paulo e Minas Gerais, agora o Rio Grande do Sul poderia desfrutar de todos os benefícios que existem quando se está nos postos de poder. Entretanto, as primeiras medidas tomadas pelo novo presidente e a aproximação com o movimento dos tenentes dão indícios contrários ao que seus companheiros esperavam.

No início de 1932, o jornal Diário Carioca começa a veicular duras críticas a ala tenentista do governo. Este mesmo jornal apoiou a candidatura da Aliança Liberal em 1929, bem como manteve seu apoio desde o principio até a vitória da Revolução de 1930. Quando ocorre o rompimento definitivo entre os dois lados, nos primeiros dias de março, alas ligadas ao Exército e aos tenentes que ocupavam cargos no Governo atacaram e depredaram a sede do jornal, ação conhecida como “empastelamento”.

Batista Luzardo, chefe de Polícia do Distrito Federal, e Mauricio Cardoso, Ministro da Justiça, procuraram apurar as responsabilidades, sendo, no entanto, desautorizados por Vargas a continuar as investigações. Em razão dessa medida, demitiram-se de seus cargos, sendo acompanhados pelos demais rio-grandenses do governo.

Nas edições dos primeiros dias de março de 1932, as folhas do jornal O Nacional são tomadas pela repercussão das demissões, que ficou conhecida como Crise dos Demissionários. Na edição do dia três, o jornal aborda em duas seções o fato: “Devido ao caso do Diário Carioca, afirma que o sr. Mauricio Cardoso exonerou-se e que todos os membros gaúchos do governo seguirão esse seu gesto.”,  “Ter-se-á dado cisão entre os gaúchos e o sr. Getúlio Vargas? Notícias que causam apreensões”.   


Parte II (publicada em 19/08/2014)

As colunas que repercutem o caso nos dias seguintes demonstram o discurso regionalista da época, manifestado através da exaltação das qualidades que os homens gaúchos possuíam, a sua responsabilidade” de salvarem o país” e como isso só aconteceria através de suas ações: “A notícia explosiva de hoje, sobre a renúncia dos ministros e altas autoridades rio-grandenses do governo provisório, é faustosa e desoladora: faustosa por vir comprovar o idealismo gaúcho na luta pela regeneração da República e grandeza da Pátria, e seu desapego aos cargos; desoladora pelo futuro que se antepõe ao, rio-grandense também, homem que é o chefe do governo nacional e que perde o apoio de seus co-estadoanos.”

Na edição do dia sete de março, toda a capa é destinada ao momento de crise vivido pelo Governo Provisório: “Fazemos votos pois, para que os homens do Rio Grande, olhando desapaixonadamente a situação, como é de esperar de seu patriotismo, de seu espírito de  sacrifício ao bem coletivo, encarem a matéria por esse lado, pondo de parte qualquer manifestação exaltada que poderia arrastar o Rio Grande e o Brasil, á ruína completa.[...] A responsabilidade pelos destinos brasileiros ainda continua a pesar, e hoje mais do que nunca, sobre ombros de rio-grandenses bem intencionados.”

No dia dez de março, uma coluna faz um apelo para que a conturbação política se desfaça sem originar danos significativos para o Rio Grande do Sul, exaltando novamente a grandeza do estado: “Tão grave se apresentou a situação que, passado o primeiro momento de espanto, todos os espíritos se imbuíram da necessidade de um apaziguamento, de uma solução pacífica e imediata. Como conceber o Rio Grande em oposição a um governo que é obra sua, ocupado, em seu supremo posto, por um rio-grandense, que tão bem soube resguardar a dignidade de seu estado, na campanha liberal? Como julgar possível que o Sr. Getúlio Vargas pudesse continuar a governar, rompido com o seu partido, com a sua gente [...]”

A Crise dos Demissionários foi um dos acontecimentos que influenciaram a eclosão da Revolução Constitucionalista em julho de 1932, quando os paulistas assim como os membros exonerados do governo, lutavam contra o expressivo aumento de tenentes nos altos escalões do governo getulista bem como almejava a reconstitucionalização do país.

Referências

  1. Fonte: Acervo do AHR - * O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores
  2. Mestranda em História – PPGH UPF