Revolução de 1930: aspectos locais

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Revolução de 1930: aspectos locais

Em 07/08/2007, por Alberto Antônio Rebonatto


Alberto Antônio Rebonatto[1]


As eleições presidenciais de 1º de março de 1930 não foram favoráveis à Aliança Liberal. A apuração conferiu 1.091.700 votos a Júlio Prestes e 737.000 a Getúlio Vargas. O resultado foi recebido com desconfiança e protestos. A famigerada degola, processo em que os eleitos da Aliança Liberal eram substituídos por candidatos governistas, por meio da fraude na apuração dos votos, imperava em todo o país. Esses fatos, aliados à comoção causada pelo assassinato de João Pessoa, definiram a eclosão do movimento revolucionário, a partir de planejamento elaborado no Rio Grande do Sul. A tática usada era o convite às unidades militares federais para que se associassem ao movimento. Entendiam os revolucionários que a adesão do 8º Regimento de Infantaria de Passo Fundo era fundamental para a causa, por se tratar da unidade mais próxima de Santa Catarina, que facilitaria a passagem das tropas para o Paraná, e porque seu comandante, coronel Estevão Leitão de Carvalho, desfrutava de grande prestígio no seio das Forças Armadas. A primeira tentativa de engajar o coronel Leitão e sua unidade ao movimento ocorreu em 4 de agosto. Em 16 de setembro, nova tentativa. Dessa vez, Virgílio portava uma carta de Getúlio Vargas com mais um pedido de adesão e o convite para que o coronel Leitão assumisse a chefia do Estado-Maior do exército revolucionário. Ante a segunda negativa, foi solicitada sua neutralidade, também recusada. Leitão reafirmou seu dever de soldado fiel ao governo. Os contatos continuaram através de correspondência. Virgilio chegou a dizer em carta de 30 de setembro que “o seu dever – perdoe-me a franqueza – é ficar ao lado da nação e a nação está conosco.” O coronel Estevão, também por carta, respondeu em 3 de outubro: [...] “se a nação está consigo, se ela quer, por uma revolução, quebrar os moldes políticos que livremente escolheu e condensou na Constituição que nos rege, que o faça. A nação é livre de fazê-lo. O soldado, não.”

Ante a impossibilidade de contar com a ajuda do coronel Leitão, os revolucionários, lideradas por Nicolau de Araújo Vergueiro, prepararam-se para tomar o quartel. Para alertar a população, às 17 horas do dia 3 de outubro, foi distribuído por toda a cidade o seguinte comunicado:

Ao povo de Passo Fundo Governador Civil desta Praça, em nome da Revolução brasileira, cumpre-me fazer a presente proclamação, menos de exposição de motivos que de palavra de calma, ordem e respeito. Povo da minha terra confia na ação da tua gente, porque é ter confiança em ti mesmo. O exército, que é tirado do teu seio, está conosco em sua quase totalidade. A nossa vitória é certa, como é certo que o povo do Brasil é livre. Tem calma. Não desesperes porque a nossa ação é patriótica. Será punido sumária e severamente todo aquele que praticar qualquer ato de desrespeito ou depredação. A esta hora, todo o Rio Grande, como todo o Brasil, num vibrante hino de civismo, avança com a bandeira da liberdade à frente, contra as muralhas do despotismo, para destruir com a labareda dos seus ideais, a bastilha onde os maus brasileiros, políticos profissionais, vêm tramando a nossa infelicidade. Tudo por um novo Brasil, são e redimido (Passo Fundo, 3 de outubro de 1.930 – dr. Nicolau de Araújo Vergueiro).


Logo após, a movimentação de tropas civis armadas, que já era grande, intensificouse; a prefeitura proibiu o fornecimento de alimentos ao quartel; o cabo encarregado da correspondência foi preso durante a tomada dos correios por civis armados; a energia elétrica e o telefone do regimento foram cortados. Os revolucionários se dividiram em 4 grupos: o primeiro, sob o comando do coronel Edmundo Dalmácio de Oliveira, ocupou a linha férrea, da Rua Uruguai até os fundos do Quartel; o segundo, comandado pelo coronel Quim César, posicionou-se na zona sul, da Rua Uruguai até o chafariz; o terceiro, sob as ordens do coronel Marcos Bandeira, colocou-se a oeste do quartel, e, o quarto grupo, sob o comando do coronel Pires e Lacerda de Almeida Junior, completou a cerco até suas tropas se unirem às do coronel Edmundo. Houve violenta troca de tiros.

Os revoltosos dispunham de 200 mil tiros, além de armas modernas, de fabricação alemã. Possuíam mais poder de fogo do que a unidade do Exército. A refrega durou várias horas. Morreram em combate os cabos Amantino Albuquerque, de 19 anos, de Campo do Meio, e Sady Freitas Vieira, mais dois soldados que não foram identificados. Além da troca de tiros, houve verdadeira guerra de informações. Chegou um telegrama que informou a adesão ao movimento do general Gil de Almeida, comandante da 3ª Região Militar. O coronel Leitão chegou a anunciar que também se integrava, mas voltou atrás ao descobrir que a informação era falsa.

Às três horas da manhã de 4 de outubro prevaleceu o bom-senso. Sitiantes e sitiados assinaram acordo. Os oficiais legalistas se entregaram e foram aprisionados, o regimento foi dissolvido e o quartel entregue ao Nicolau Vergueiro. A revolução conseguiu o caminho livre para as tropas e ponto de apoio para as que vinham da Fronteira e Missões buscando se integrarem ao exército revolucionário.

Não se registrou durante a tomada do regimento qualquer ato de vandalismo. A partir de 4 de outubro, começaram a ser formados em Passo Fundo corpos de voluntários para se juntarem às tropas combatentes. Um, com o nome de João Pessoa, foi convocado e organizado por Álvaro Schell de Quadros e Victorino Reveilleau; outro, pelo líder libertador Quim César. Cada passagem de tropas e cada embarque de voluntários era motivo de festa na gare da Viação Férrea, com direito a discursos, hinos, banda de música e longas despedidas. Passo Fundo aderiu e se integrou totalmente ao vitorioso movimento revolucionário de 1930.

Referências

  1. Acadêmico, membro da Academia Passo Fundense de Letras