Rio Grande, de pé, pelo Brasil

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Rio Grande, de pé, pelo Brasil

Em 12/11/2013, por Fábio Daniel Giordani


Rio Grande, de pé, pelo Brasil[1]

Fábio Daniel Giordani[2]


Há oitenta e três anos Vargas encerrava seu manifesto com este apelo: “Rio Grande, de pé, pelo Brasil” e dava início a um movimento que se dizia regenerador, o qual postulava mudanças de ordem estrutural em um Brasil ainda agrário. O movimento deflagrado em três de outubro de 1930 em Porto Alegre avançou rapidamente pelo país, arregimentando soldados que partiam de todos os cantos do Brasil, incorporados ao trem da esperança que havia partido da capital gaúcha com destino ao palácio do Catete.

Esse fato pode ser verificado aqui em Passo Fundo, pois as páginas do jornal O Nacional dão conta da partida de um batalhão sob as ordens do Coronel Quim Cesar. A notícia veio estampada na página três do dia nove de outubro de 1930, sob o título “Passo Fundo na Revolução – O Embarque da força do coronel Quim Cesar”. O texto exaltava, é claro, os bravos filhos da terra que partiam sob o comando desse bravo, sereno e leal conterrâneo. A agitação toda ganhou enorme ênfase durante o período. Em todas as edições as notícias a respeito do levante tinham destaque, trazendo quase que em forma de diário o dia a dia dos combatentes passofundenses no front.

O que representava a Revolução de 1930?

O Brasil desse período tinha no café sua principal fonte de renda e por consequência disso o produto era o motor de seu progresso. A Revolução conseguiu atrair para si uma antiga reivindicação: a necessidade de reajustar a estrutura do país, cujo desenvolvimento passava essencialmente por um único gênero exportador.

A conspiração de 1930 começa a ser articulada a partir do desacerto na política do café com leite. Fato que rompeu com quatro décadas de revezamento entre paulistas e mineiros na presidência, uma mudança que já era prevista a partir do momento em que São Paulo não apoiou a candidatura dos mineiros ao pleito.

Portanto, o cenário para o sucesso da Revolução havia sido construído, bastava encontrar alguém que desse cara ao movimento. E este aspecto apontava para o novo, pois como era um levante que criticava velhos acordos, trazia consigo a emergência de apresentar novos atores políticos que não possuíssem sua figura vinculada a antigas práticas existentes, além do mais precisava naquele momento cair nas graças do povo.

Vargas reunia todas essas qualidades, aspectos que tornaram a sua ascensão plural e possível. Era o líder de uma geração de políticos gaúchos de extração urbana, embora viesse do campo. Era o presidente de um dos Estados fora do eixo São Paulo e Minas que detinha uma importância produtora eficiente, consolidada e muito bem definida. Getúlio definia o movimento como “regenerador”, de reconstrução nacional. E para realizá-lo, prometeu desde a anistia política, reformas eleitoral, judiciária, administrativa e tributária, apoio ao homem do campo, melhoria do sistema ferroviário e o reconhecimento do direito dos trabalhadores.

A atenção dedicada aos trabalhadores talvez tenha sido o grande trunfo em seu mandato, ele sabia que para poder implantar suas ideias era necessário que existisse paz com os movimentos operários, que no momento viviam um período de afloração, causando extremas agitações no país. A extrema sagacidade de manter sempre à mão alternativa mesmo que contraditória foi uma das marcas de sua trajetória.

Contudo, o movimento que fora vitorioso em 1930 inicialmente não representou uma mudança radical como se autodefinia (o que ocorreu foi apenas a substituição das forças oligárquicas). Em longo prazo sim, este movimento trouxe mudanças representativas ao país. É claro, o cenário mundial imprimia determinados aspectos, por exemplo, o fim das economias liberais a partir da forte intervenção estatal. Com a crise de 1929 as economias mundiais caminhavam para a efetivação dos regimes totalitários, o que implicava diretamente na condução dos rumos políticos e econômicos.

No campo político a história brasileira é cheia de controvérsias e fatos inusitados, pressupostos necessários para a construção de mitos. Assim o fez com Vargas, as controvérsias que existem em torno de sua figura suscitam inúmeras interpretações. Entretanto, o fato é que Getúlio conseguiu se tornar uma figura mítica, que se encontra entronizada no imaginário popular brasileiro, talvez a personalidade brasileira que mais desperte interesse em ser estudada no Brasil. E quanto mais esta tarefa é efetuada surgem novos elementos que são inseridos no conjunto de sua biografia política.

Isso muito em decorrência de uma série de realizações e tropeços ocorridos durante quinze anos de um governo que deveria inicialmente ser provisório. Vargas soube muito bem tirar proveito das oportunidades que a presidência lhe ofereceu. A partir de 1930, começa a conduzir sua política para a centralização do poder em suas mãos, suas ações estavam voltadas ao que mais tarde viria a transformar-se em uma ditadura.

Referências

  1. Fonte e Imagem: Acervo AHR - * O AHR destaca que os artigos publicados nessa seção expressam única e exclusivamente a opinião de seus autores.
  2. Acadêmico do 7º semestre curso de graduação em História da UPF (bolsista PIBIC/UPF)