Os 90 anos da Revolução de 1923 (Parte I)

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Os 90 anos da Revolução de 1923 (Parte I)

Em 19/04/2013, por José Ernani de Almeida


Os 90 anos da Revolução de 1923 (Parte I)[1]

por José Ernani de Almeida[2]

   

Revolução. A palavra tão conhecida e tão cara aos gaúchos, voltou, enfim, a ser pronunciada em 1923. Como em 1835 e em 1893,os gaúchos pegavam em armas. Em setembro de 1922, Borges de Medeiros iniciou uma consulta aos municípios do Rio Grande do Sul para saber se seus correligionários apoiariam, pela quinta vez, sua reeleição à presidência do Estado. O nosso estado era o único no país onde a Constituição garantia a reeleição do Presidente – assim era chamado o governador – toda a vez que obtivesse ¾ dos votos. Este polêmico dispositivo fora um dos motivos determinantes da sangrenta Revolução Federalista de 1893.A resposta à consulta de Borges foi positiva: apenas o general Antônio Neto e Armando Ferreira, genro do falecido Júlio de Castilhos, lhe negaram seu apoio. A proporção que a data da eleição se aproximava, os adversários se eriçavam: “ Não é um pleito que se aproxima é uma revolução que começa; não é um escrutínio entre dois nomes, é um duelo entre a ditadura e a liberdade”, bradou em plenário, o deputado federalista Artur Caetano”, segundo registrou o jornal Correio do Povo.

É importante destacar que, na época, o Rio Grande do Sul, vivia um verdadeiro colapso econômico, reflexo da crise mundial do pós-guerra e dos empréstimos tomados pelo governo estadual, que provocaram uma atmosfera de insatisfação coletiva. Estudantes, operários, comerciantes, empresários, produtores rurais, todos clamavam por mudanças urgentes. Os ruralistas, sem crédito, alarmados pela concorrência do gado platino, viam-se às voltas também com um surto de febre aftosa que dizimava seus rebanhos já maltratados por um inverno rigoroso, seguido de longo período de seca e de uma praga de gafanhotos. Os criadores rurais, reunidos em uma comissão de emergência, passaram a exigir de Borges de Medeiros uma medida de “salvação pública”, que consistiria na concessão de um crédito especial à categoria. O dinheiro, propuseram, podia vir de uma fatia dos gordos empréstimos internacionais destinados originalmente às obras de infraestrutura. Borges recusou, o que selou a ruptura definitiva com o governo, evocando o princípio positivista de que o Estado jamais deveria intervir na economia, a não ser em casos relacionados aos serviços públicos. Amparar os pecuaristas, no seu entender, significaria patrocinar um privilégio de classe.

Diante da recusa, a oposição começou a se articular: antigos federalistas, que iam desde os partidários do liberalismo de Silveira Martins, até os conservadores monarquistas, somando-se aos republicanos dissidentes. Quando faltavam menos de dois meses para a data marcada da eleição, o embaixador Joaquim Francisco de Assis Brasil, depois de calculada relutância inicial, aceitou disputar o governo rio-grandense. “Vamos à ação. Contai comigo”, respondeu Assis Brasil aos estudantes que haviam escrito um manifesto, em forma de apelo, para que concordasse em ser o candidato de consenso das oposições. “ Quando pego a rabiça do arado, vou até o fim do rego”, prometeu, segundo narra Glauco Carneiro, em Lusardo, o último caudilho. Assim, fica claro que razões econômicas e sociais, muito mais que as políticas, foram os fatores determinantes da Revolução de 1923.O Brasil vivia um novo momento e suas estruturas sociais eram arcaicas. O operariado estava ganhando consciência de classe, influenciado pelo anarquismo.

A mecanização na lavoura promovia uma migração do campo para a cidade. Os centros urbanos não ofereciam casas nem escolas para a grande massa que passou a ocupar a periferia das cidades, e o analfabetismo, atingia 64% da população gaúcha da época. Mesmo com este quadro dramático a reação dos governistas, entre eles João Neves da Fontoura, foi de desdém. “Estávamos convencidos de que iríamos pôr o adversário em nocaute, no primeiro round, ”escreveria ele em suas memórias. “ Ou como se dizia na gíria de carreiras, o cavalo contrário não daria para a saída”, comparou. Não foi, porém, o que se verificou durante a campanha. A candidatura de Assis Brasil, teve por toda a parte uma grande acolhida. No próximo artigo vamos abordar a eleição e seus desdobramentos, que acabaram levando á eclosão de uma nova guerra civil entre os rio-grandenses.

Referências

  1. Do Jornal O Nacional - Sexta-Feira, 19/04/2013 às 09:54
  2. Membro da Academia Passo Fundense de Letras