A revolução que iniciou em Passo Fundo

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A revolução que iniciou em Passo Fundo

Em 07/08/2007, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


A revolução que iniciou em Passo Fundo

Paulo Monteiro[1]


Nas eleições para presidente (governador) do Estado, realizadas em 25 de novembro de 1922, entre Borges de Medeiros, que concorria à reeleição, e Assis Brasil, pela oposição, aconteceram denúncias de fraudes, durante as votações e de falsificação dos resultados finais pela comissão competente da Assembléia Legislativa. Um dos mais combativos líderes da oposição (libertadores) era Artur Caetano da Silva, deputado passofundense.

A Revolução de 1923 foi tramada por três homens: o deputado Arthur Caetano, que sublevaria Passo Fundo e região, Batista Luzardo, de Uruguaiana e Alegrete, e Adalberto Correia, que levantaria Quaraí e Santana do Livramento. O início do levante estava preparado para a madrugada de 25 de janeiro de 1923, data em que Borges de Medeiros tomaria pose para seu quinto mandato à testa do governo do Estado.

Em Passo Fundo, as reuniões revolucionárias aconteciam na sede do Partido Federalista, que se situava na Rua Moron, proximidades da Praça Marechal Floriano. Os federalistas, base da campanha de Joaquim Francisco de Assis Brasil, foram engrossados com dissidentes republicanos, que haviam enfrentado os federalistas durante a Revolução Federalista (1893/1895), destacando-se o general João de Deus Menna Barreto e coronel Pedro Lopes de Oliveira. A política autoritária e centralizadora do médico Nicolau de Araújo Vergueiro, atirou essas lideranças do Partido Republicano Rio-Grandense nos braços da oposição assisista.

Os revolucionários passo-fundenses traçaram um plano bastante simples: cercar e tomar a cidade. Para tanto, concentraram uma parte de suas forças no Campo do Meio e outra em Carazinho. Os primeiros, comandados por Simão Machado, Quim César, Fernando Goelzer e Pedro Lopes de Oliveira, entre outros, cercariam a cidade pelo sul e pelo leste; os segundos, sob as ordens do general João de Deus Menna Barreto e coronel Salustiano de Pádua, atacariam pelo oeste e pelo norte. Os guerrilheiros do Campo do Meio seriam apoiados pelo veterano maragato Felipe Portinho, e as de Carazinho por Leonel Rocha, de Palmeira, experiente guerrilheiro de 1893.

Quando Borges de Medeiros foi empossado, a 25 de janeiro de 1923, o deputado Artur Caetano não estava mais em Porto Alegre. Voltara a Passo Fundo para acender o estopim revolucionário. Do município, passou o seguinte telegrama a Arthur Bernardes, presidente da república: “Senhor presidente da República. Rio. A situação de desespero criada pelo borgismo compressor e sanguinário, transformou hoje nossa altiva região serrana em acampamento militar. Quatro mil cidadãos levantaram-se no dorso das coxilhas, protestando de armas na mão contra a usurpação do tirano. Sobre Passo Fundo caíam diaramente as cóleras da ditadura, porque Passo Fundo foi o baluarte do bernardismo no Rio Grande do Sul. Não correrá mais sangue se o ditador renunciar incontinenti ao seu falso mandato, ou se Vossa Exa. desdobrar sobre as nossas plagas infortunadas as garantias contitucionais que nos falecem, integrando o Rio Grande no concerto da nação brasileira. Arthur Caetano da Silva.”

Os revolucionários praticamente não tinham armas e recursos. Apenas, varas sapecadas de camboim, que serviam de lanças ou taquaras, cujas pontas eram lâminas de tesouras de tosar ovelhas.

O levante não ocorreu nos demais pontos do Estado. Os libertadores de Artur Caetano, apoiados pelos combatentes de Leonel Rocha e Felipe Portinho, nos primeiros meses, sustentaram, sozinhos, o movimento armado.

Os libertadores do Campo do Meio, com elementos da cidade, ao entardecer de 24 formaram um cinturão da Petrópolis à Santa Marta; as tropas de Menna Barreto e Salustiano de Pádua cortaram as comunicações em Carazinho e se aproximara à cidade unindo as duas pontas do semicírculo. Na tarde de 25 de janeiro, Quim César aproximou-se do Tiro de Guerra, na atual Vila Rodrigues, mas encontraram os chimangos entrincheirados na Vila Cruzeiro e um trem blindado que os protegia. Avançando com o trem blindado os legalistas desalojaram os sitiantes da Petrópolis, mas não conseguiram avançar.

Outros dois trens foram blindados pelo engenheiro Júlio Ávila. Na noite de 26 de janeiro, os comandados de Jango Padre atacaram o Quartel do Exército, fazendo os chimangos recuarem para a Praça Tamandaré e transferirem as munições para o prédio da Intendência (Prefeitura Velha). O QG legalista mudou-se para a sede do Clube Pinheiro Machado (Academia Passo-Fundense de Letras).

O plano de invadir a cidade a 28 de janeiro só não se concretizou porque Menna Barreto e Salustiano de Pádua se desentenderam. Resquícios de 1893. A situação era gravíssima. O tenente-coronel João Cândido Machado (Brigada Militar), o major Antônio Garcez Caminha (Exército) e o intendente Nicolau Vergueiro, inspecionaram as linhas e planejaram concentrar suas forças no Boqueirão até à chegada de reforços.

A situação permaneceu tensa até dia 30 de janeiro. Reunidos no Saladeiro São Miguel (Charqueada Velha), os principais líderes revolucionários decidiram levantar o cerco. Aproximava-se da cidade o temido Firmino de Paula, à frente de uma grande força, armada de modernos fuzis, metralhadoras de grosso calibre e seus famosos degoladores do Boi Preto.

Menna Barreto e Salustiano de Pádua partiram na direção de Palmeira das Missões para unirem-se a Leonel Rocha e os demais revolucionárias para a Serra de Erechim, reforçando as forças de Felipe Portinho. Mas a luta aqui iniciada continuaria. Os combates de Quatro Irmãos e do Desvio Giaretta que o digam.

Referências

  1. Membro da Academia Passo Fundense de Letras