Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial II

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Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial II

Em 2010, por Diego Chimango Vargas


Um passo-fundense da Segunda Guerra Mundial

Ao passar pela Rua Teixeira Soares, em frente às antigas instalações do Quartel do Exército, onde há um estádio chamado Fredolino Chimango, muitos passo-fundenses devem se indagar sobre quem foi esse homem. Infelizmente, a maioria dos munícipes desconhece a importância dessa ilustre figura. Ele foi um dos bravos soldados brasileiros que lutaram nos campos da Itália para conter o avanço das tropas nazistas no mundo. Existem poucos registros sobre sua vida e muitos mistérios circundam sua morte.

Gaúcho, nascido em Passo Fundo a 19/04/1921, filho de Edmundo Chimango e Gabriela Francisca da Silva Chimango, era o segundo filho de uma família de 11 irmãos. A humilde família de agricultores residia no interior do município de Passo Fundo, e Fredolino estudou em uma escola existente na localidade denominada Rio do Peixe. Mais tarde, o jovem mudou-se com a família para o distrito de Água Santa, onde trabalhou nos Engenhos Scheleder e Busquirollo. Segundo o relato do Sr. Miguel Chimango, 76 anos, irmão de Fredolino, residente em Passo Fundo, o jovem apresentou-se como voluntário ao serviço militar no 8º Regimento de Infantaria, em Passo Fundo, antes mesmo de completar 18 anos. Assim que alcançou essa idade, foi convocado para servir em Quaraí (RS), sendo em seguida removido para São João Del Rei (MG) e, finalmente, para o Rio de Janeiro (RJ), onde ficou por mais de um ano. Após o cumprimento do serviço militar obrigatório, o jovem Fredolino retornou para o seio de sua família, trabalhando como serralheiro em sua terra natal.

Enquanto isso, os horizontes foram enegrecendo com o início da Segunda Guerra. Sob o comando de Adolf Hitler, da Alemanha, e Benito Mussolini, da Itália, o avanço do Eixo iniciou o massacre de 65 milhões de judeus, fazendo também inúmeras vítimas em todo o mundo. De 1939 a 1941, o Brasil permanecia apenas como fornecedor de subsídios para ambas as potências envolvidas no conflito. Na época, o país vivia a Ditadura do Estado Novo, instituída por Vargas, que possuía vários pontos semelhantes à ditadura fascista; em contrapartida, dependia economicamente dos EUA, ferrenhos inimigos do Eixo. Esse quadro se manteve até a manhã de 06/12/1941, quando os japoneses atacaram a Base Norte-Americana de Pearl Harbor, provocando o ingresso dos EUA na guerra. Um mês depois, em um congresso das Repúblicas Americanas no Rio de Janeiro, o ministro Oswaldo Aranha anunciou o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

A atitude revoltou o ditador alemão Adolf Hitler, que desencadeou uma ofensiva submarina na costa brasileira, naufragando cinco navios e 31 barcos da marinha mercante brasileira. No dia 22/08/1942, o Repórter Esso transmitiu à nação brasileira a declaração do Estado de Guerra contra a Alemanha e a Itália. Assim, o Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial, unindo-se aos EUA, à França e à Inglaterra. Houve uma mobilização intensa em todo o país, tendo sido, então, criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), força militar que congregou 25.300 homens aguerridos que lutaram nos campos de batalha do Velho Mundo. O Exército Brasileiro passou a convocar os soldados da ativa e também os recrutas já dispensados que ainda fossem solteiros.

Foi justamente nesse momento histórico que o Cabo Fredolino Chimango foi chamado para incorporar-se à 1ª Divisão de Infantaria do Exército, mas sua convocação não chegou a tempo em razão de ele residir no interior de Passo Fundo.

Porém, sabedor de seu dever patriótico, Chimango deixou o seio de sua família e apresentou-se ao Exército, seguindo para o Rio de Janeiro e, finalmente, embarcando num navio em 20/09/1944, juntamente com a segunda leva de homens que envergaram a farda verde-oliva nos campos de batalha italianos.

O Sr. Miguel Chimango relembrou a presteza e o notável carinho que o rapaz tinha por seus familiares: “Tratava-se de um rapaz muito inteligente, dono de uma personalidade incrível”. Num relato emocionante, Miguel rememorou o momento da despedida dos familiares. “Foram muitos os pedidos de minha mãe para que o filho querido não fosse para a guerra. Parece que ela pressentira o que aconteceria mais tarde. Na despedida, ao abraçar nossa mãe, Fredolino proferiu estas palavras: ‘Mãe, prometo enviar-lhe cartas todas as semanas. Tu estarás sempre no meu coração, assim como meu pai e meus irmãos. Mas se um dia... se um dia sentires que as cartas não chegarem mais, é porque teu filho tombou defendendo nossa pátria. Porém, estejas certa de que tu estarás presente nos meus pensamentos até o último instante’”.

Infelizmente, o presságio de dona Gabriela consumou-se tempos depois. O Cabo Fredolino Chimango, Id. 1G-293658 - Classe 1919, integrante do 11º Regimento de Infantaria, lutou bravamente nas batalhas de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese. “As cartas sempre contavam as passagens vividas por meu irmão na Itália de Mussoline, e minha mãe ansiava por notícias todas as semanas. Porém, houve um dia em que as cartas não mais chegaram, o que não desesperançou Dona Gabriela”, contou Miguel. No dia 16/04/1945, o pracinha foi dado como desaparecido. A notícia consternou seus familiares, que, para poupar o coração da mãe do emérito herói, optaram por não dar a informação sobre o desaparecimento do filho querido.

Lamentavelmente, Dona Gabriela veio a falecer pouco tempo depois, sem saber que seu filho havia tombado em combate. Anos mais tarde, foram encontrados os restos mortais do pracinha. Contamse várias histórias acerca do desfecho da sua vida. Uma das versões dá conta de que Fredolino fora vítima de uma rajada de balas na batalha de Montese, no dia 14/04/1945. Conta-se, também, que um cidadão italiano encontrara o corpo do soldado e cuidara de seu funeral. Outro relato afirma que, quando encontrado, Fredolino Chimango estava vivo, mas devido à gravidade de seus ferimentos veio a falecer.

Segundo Noêmea Chimango Mileski, 78 anos, irmã do pracinha, ele fazia parte de uma equipe que desarmava minas terrestres, e numa dessas tarefas a explosão de um artefato tirou-lhe a vida.

A morte de Fredolino Chimango é cheia de mistérios e lendas, as quais geram diversas perguntas até hoje sem respostas. Em 1955, foram trasladados os restos mortais dos heróis brasileiros da Itália para o Brasil, os quais repousam no Monumento aos Expedicionários, no Rio de Janeiro. Porém, há uma gaveta vazia nesse mausoléu, pois na época uma família italiana reclamou os restos do pracinha Fredolino

Chimango, impedindo seu sepultamento em solo brasileiro. O pedido dessa família foi atendido sem grandes interferências da família de sangue. Hoje, o passofundense é o único pracinha brasileiro que permanece repousando no cemitério em Pistoia, representando sua pátria no espaço reservado em memória aos combatentes.

No local, todos os dias, é hasteada a bandeira verde-amarela, em sinal de reverência ao aguerrido expedicionário. O pracinha passo-fundense foi agraciado com as medalhas de Campanha e Cruz de Combate de 2ª Classe, em virtude da honrosa atuação na Segunda Grande Guerra. Em sua homenagem, existem, em Passo Fundo, uma escola no Bairro Jaboticabal e um estádio na Rua Teixeira Soares que levam seu nome. No estádio, há um monumento simbolizando um projétil de fuzil, monumento também batizado com o seu nome.

Através da figura de Chimango, são homenageados todos aqueles que exerceram seu espírito patriótico em favor da liberdade, em especial os 457 febianos que tombaram em solo italiano. Fredolino Chimango é mais um dos filhos da Capital do Planalto Médio que orgulham e fazem dessa terra de passagem um verdadeiro marco histórico do Brasil.

Referências