A história do Rio Passo Fundo

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A história do Rio Passo Fundo

Em 07/08/2007, por João Grando


João Grando


Não seria exagero afirmar que sem o rio não existira a cidade. À beira dessas águas os primeiros povoados da região foram formados. Os tropeiros que atravessavam o planalto médio para buscar mulas, sebo e charque nos pampas armavam ali seus acampamentos, que com o passar dos anos transformaram-se em povoados e um dia constituíram o município. O Rio Passo Fundo, desde muito antes de os tropeiros lhe batizarem com o nome que carrega hoje, é testemunha de todos os momentos da história dessa região.

Os primeiros habitantes, os índios, reconheciam sua grandiosidade chamando-lhe goioen, que significa “rio fundo” ou “muita água”. Os jesuítas referiam-se a ele como Uruguaimirim, numa comparação ao Rio Uruguai, o maior da região. Ao longo da história, no entorno do Rio Passo Fundo, 31 municípios se formaram, chegando-se atualmente a cerca de 400 mil pessoas em sua área de abrangência.

Desde a nascente no Povinho Velho, localidade na divisa entre os municípios de Passo Fundo e Mato Castelhano, o rio percorre 200 quilômetros até desaguar no Rio Uruguai. No percurso, encontram-no seus tributários arroio Miranda, arroio Facão e arroio Butiá, à margem direita; passo d’Areia, arroio do Cedro, arroio Sarandi e arroio da Entrada, à esquerda; entre outros. O Rio Passo Fundo carrega suas águas em direção ao norte, para a bacia hidrográfica do Rio Uruguai, do qual é um dos principais afluentes. Ao lado de sua nascente, tem origem o Rio Jacuí, que tem vazão em direção ao sul, para a bacia hidrográfica do Guaíba. Por abranger as nascentes de rios formadores de duas bacias hidrográficas, Passo Fundo é considerado um divisor das águas do Estado. Essa formação do relevo, uma coxilha que se estende em direção à cidade, pode ser notada no Centro, próximo à Catedral Nossa Senhora Aparecida. As águas da chuva que caem sobre a Praça Marechal Floriano drenam em direção à bacia do Uruguai, enquanto as do lado oposto correm no sentido da bacia do Guaíba.

Essa riqueza hídrica foi um dos principais pilares do desenvolvimento da região. As contribuições do Rio Passo Fundo e seus afluentes foram de diversos tipos. Ente elas, destacam-se a geração de energia hidrelétrica, o abastecimento da pecuária, da agricultura, da indústria e das cidades, que só puderam se expandir devido à existência desses recursos.

Além de atender a essas necessidades, o rio tem fundamental importância por ser a mais valiosa reserva de biodiversidade aquática da região. São cerca de 60 espécies de peixes, entre lambaris, bocudos, traíras e jundiás, além de centenas de outros organismos que vivem nesse ambiente. A existência dessa riqueza biológica proporciona à população um espaço de recreação e uma fonte de alimentação saudável, sem contar os benefícios que gera ao possibilitar interações entre água, vegetações e animais desse ecossistema.

Apesar de sua importância, o Rio Passo Fundo corre sérios riscos de comprometer a vida de suas águas. Os casos mais graves ocorrem no perímetro urbano, onde as intervenções em seu leito natural e a poluição alteram a qualidade da água, comprometendo a vida dentro rio, sendo poucas as espécies que resistem às condições adversas encontradas. Corre-se o risco de se sacrificar o rio que possibilitou o desenvolvimento da região e que é fundamental para garantir a vida pelos próximos tempos.Os estudos realizados demonstram que a reversão da situação atual deve ser buscada por meio da “renaturalização” desses ambientes.

A recuperação dessas áreas possibilitaria regenerar o ecossistema, alcançando estágio semelhante ao encontrado nas condições naturais, onde há muito mais vida. Com a cooperação de diferentes áreas do conhecimento é possível alcançar soluções que integrem a valorização ecológica do rio com seu aproveitamento por parte da população, como acesso à água para a indústria, agricultura, a recreação, a aqüicultura, entre outros benefícios.

Para concretizar uma iniciativa como essa, o Rio Passo Fundo pode ser transformado em uma Área de Preservação Ambiental (APA), local que contempla a preservação e exploração racional dos recursos naturais, seguindo os critérios da sustentabilidade ambiental. Se durante mais de 150 anos o Rio Passo Fundo proporcionou desenvolvimento econômico e social ao seu povo, é compromisso de todos garantir os cuidados necessários para que o rio viva por muito mais tempo.