Passo Fundo não ficou fora da Segunda Guerra Mundial

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Passo Fundo não ficou fora da Segunda Guerra Mundial

Em 2009 - por Benhur Jungberck


Nestes dias em que relembramos o início da Segunda Guerra Mundial, um conflito que envolveu os cinco continentes e milhões de pessoas, queremos observá-lo, como é de nosso costume neste espaço, com o olhar voltado para a cidade de Passo Fundo. E a primeira pergunta poderia ser, o que nossa cidade do interior do Estado e que no início da década de 1940 tinha pouco mais de 80.000 habitantes, teve de participação nesses eventos.

Pois a resposta não é um tanto óbvia, pois este tema e aqueles acontecimentos, em nossa região, ainda não são pouco conhecidos. A partir de diversas campanhas levadas a cabo por órgãos governamentais, como também de entidades particulares, a população da cidade era “convocada a lutar” pela pátria, cada um em seu lugar, em sua profissão, pois todas as áreas – sobretudo as da produção – eram reconhecidas como importantes para a preparação do país para a luta, cada um deveria dar sua contribuição ao esforço de guerra. Eram chamados de soldados ou legionários sendo “convocados” a colaborar com as campanhas locais para angariarem-se fundos para a preparação do Brasil. Dentre tantos casos podemos escolher um muito interessante e que demonstra algo do espírito que animava a população em geral, àquela época.

Este caso envolve uma família do interior de Passo Fundo, mais especificamente da Colônia Ciríaco – hoje município – em que um agricultor deixou na redação de um jornal local um valor em moedas de ouro, em nome de seus dois filhos pequenos e com a doação deixou também uma carta que teria sido escrita pelos meninos, de onde podemos ler um trecho: “Em vista de ter apenas 8 e 11 anos de idade e nossas forças sendo fracas, não podendo agora lançar mãos de armas para a defesa da Pátria querida, enviamos-vos a pequena quantia de 10$000 em moedas do império, para a fabricação do Avião da Vingança. Aqui ficamos, com nosso querido pai e irmãos, cultivando a terra e plantando cereais para o sustento da nossa armada brasileira. Tudo pelo Brasil”.

Assim podemos ver que mesmo que o conflito armado da guerra na Europa não tenha chegado ao interior do Rio Grande do Sul, como àquele momento se acreditava poderia acontecer na cidade, uma grande parte da população regional motivou-se a participar de alguma forma das atividades que envolviam o conflito. Puderam, assim, sentirem-se soldados em um front de batalha.

Quando nos referimos a Segunda Guerra Mundial, normalmente, citamos os grandes acontecimentos relacionados com os eventos na Europa, Ásia e África. No entanto, algo ainda pouco conhecido são as ações que se efetivaram no norte do Rio Grande do Sul e, especificamente, em Passo Fundo e região. Em se falando de nossa cidade poderíamos citar vários momentos em que a Segunda Grande Guerra deu a impressão, a partir das notícias que aqui chegavam e da resposta que a população dava de que era iminente o perigo de um ataque nazista. Houve a movimentação de diversos setores, como a indústria que era motivada a produzir mais para os estoques nacionais, ou a juventude, que com o fervor de sua mocidade imbuia-se desse espírito patriótico e participava, cada vez mais, dos comícios pela pátria, das campanhas para angariar fundos, que se faziam através de passeatas em que se carregavam bandeiras e se solicitava a população sua contribuição. Ou com a realização de quermesses e de bailes que buscavam sempre o lucro que seria enviado para campanhas de nível nacional como era o movimento “Armas para o Brasil”.

Mas nada pode ser mais significativo do que a criação em Passo Fundo de uma Comissão de Defesa Passiva Anti-Aérea. Essa comissão foi bem atuante publicando, periodicamente, suas instruções à população regional através da imprensa, como também por meio de boletins fixados em locais de fácil acesso. Nesses cartazes podiam-se ler frases como: “Tu que és parcela digna de um povo que sabe agir, defende-te aqui mesmo, auxiliando, da melhor forma possível” ou “Se não podes voar pelos céus, alinhando-te nas esquadrilhas, defende-te, aqui mesmo”. Esse serviço buscava advertir, mas também preparar cada um sobre como deveria ser sua conduta em caso de um ataque inimigo.

E essas atividades ficaram mais intensas ao final de 1942, quando se realizaram exercícios de defesa passiva anti-aérea, como por exemplo, o escurecimento da cidade, a modificação nos carros protegendo seus faróis para diminuir a luz e alguns treinamentos da população civil. Esse tipo de atividade foi realizado com mais evidência nas grandes cidades do litoral brasileiro, mas não passou despercebido no interior do Rio Grande do Sul, como foram os casos de Passo Fundo, Lagoa Vermelha e Ijuí.

Isto para falarmos somente do ano de 1942, pois os anos que antecederam e os posteriores também tiveram a sua movimentação. Como estas, foram muitas as atividades realizadas na cidade durante e em razão da Segunda Guerra Mundial e que se, ao final, os ataques esperados não chegaram a acontecer, pelo menos a população teve a nítida impressão de ter participado ativamente do conflito. Foi uma época em que as motivações e as emoções eram mais exarcebadas e imbuídas de espírito coletivo e em que se imaginava estar lutando pela pátria e colaborando com as atividades da guerra em um front interno, e no qual houve uma mobilização geral da sociedade passo-fundense.