Cultura vêneta

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Cultura vêneta

Em 31/12/2003, por Santo Claudino Verzeleti


SANTO CLAUDINO VERZELETI


Em 1875, iniciou a caminhada da imigração italiana em direção da América, mais precisamente, para a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a fim de colonizar as localidades de Conde DEu, Dona Isabel e Fundos da Nova Palmira (Pellanda), hoje Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Mais tarde, as levas povoaram também a Quarta Colônia, atualmente, Santa Maria. Ao aqui chegar, uns que outros exclamaram:


- Qui siàmo proprietàri!


Na nova terra, os vênetos receberam do Governo Imperial os utensílios para desmatar o caminho e começar a vida, derrubando a mata e iniciando a construção de suas casas, que eram de capim, amarradas com taquaras. E o fizeram, com uma foice curva e sem lâmina, um machado, uma cunha de ferro, um serrote e algumas sementes. Esclareça-se que nem todos os imigrantes receberam tais ferramentas.

A partir de 1880, os vênetos tiveram que produzir suas próprias ferramentas e utensílios, adaptando cada um deles segundo suas necessidades. As lavouras tomavam amplitude, iniciando-se a expansão agrícola e industrial, com a implantação de ferrarias.

De 1890 em diante, o comércio movimentou-se e desenvolveu a agricultura, com a parceria dos alemães, uma vez que eles já possuíam boa experiência, tendo aportado no Brasil cinqüenta anos antes. Através da compra dos produtos vênetos, a moeda começou a circular e os imigrantes foram obtendo sucesso com a ampliação de suas atividades.

Ao alvorecer de 1900, a maioria já possuía estabilidade familiar com o crescimento das famílias e conseqüente mão-de-obra, que favorecia o aumento dos lucros. A indústria manifestou bom desenvolvimento e oportunizou o intercâmbio entre as localidades formadas pela imigração.

Nas horas do descanso familiar, as recordações vinham à tona, relembrando a chegada ao Brasil:

- Eviva il Brasile! Eviva illavoro!


Alguns ditos dos imigrantes italianos merecem ser transcritos, por sua originalidade:

Para viver bem e não ter problemas:


- Bisogna sempre far el passo confor¬me lê gambe.

- Qua se laora, ma almanco se pissa in tel suo.

- I zé põveri mà i laora.

- I laora come i orsi, mà i gà de tuto.


Lembravam ainda que, de Porto Alegre até Conde Deu, dista mais de duas horas de vapor e doze horas a cavalo, atravessando o Rio São Sebastião do Caí.

Ainda com saudades, lembravam de Porto Alegre, a terra dos bugres (terra dei bulgari), distante de Conde DEu 2,7 horas de vapor e 12 horas a cavalo, atravessando o Rio São Sebastião do Caí. Na maioria das vezes, a viagem era feita de carroça e cargueiros, sendo as crianças carregadas em cestões (sestini) feitos de taquara, largos e fundos, que ofereciam plena segurança às crianças. Outros iam a pé ou de carroça.

Assim se referiam à sua alimentação:


- Si, si, a casa co se gà poenta e salame o poenta e formaio e um pochi de radi¬ci, no oco r altro.

- Lori no i gà niente parche no i gà õrdine (Muitos são pobres por faltar-lhes organização).


O tempo deu-lhes a oportunidade de serem proprietários e galgarem posições no Estado do Rio Grande do Sul, com trabalho e garra. Por isso obtiveram sucesso e expandiram-se para outras partes do Brasil. E enviaram seus filhos para os colégios, a fim de serem doutores. Conquistaram espaço político, elegeram-se representantes de suas comunidades, ampliando os horizontes, com trabalho e persistência.

Novas cidades despontaram como pólos comerciais e industriais, multiplicando seus bens e serviços, através da nova tecnologia.

Fez-se necessário então ampliar os contatos, convênios e participações bilaterais, entre a Itália e o Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul.

Em dezembro de 2002, reuniram-se em Bento Gonçalves, antiga Dona Izabel, representantes do Vêneto, senadores, deputados e ministros, para ouvirem dos imigrantes, suas necessidades tecnológicas e culturais. Seu Ministro da Cultura, Geovanni Meo Zílio, salientou na ocasião a necessidade de se manter intacta a cultura, os usos e costumes, que na região do Vêneto e da Lombardia foram quase perdidos. Por essa razão, seus representantes pretendem resgatá-los, implorando às entidades representativas, no Brasil, que iniciem um trabalho de união e resgate das formas tradicionais de viver dos imigrantes italianos. Concitaram também ao ensino da língua vêneta no estado.

Passo Fundo não se mostrou indiferente ao apelo e tomou as iniciativas devidas para implementar o ensino, devendo iniciar as aulas ainda no mesmo ano. E, nas regiões de colonização italiana, já se possui literatura capaz de formar e dar condições de aprendizagem, com a disponibilização de dicionários e gramáticas. Entre os autores à disposição, citam-se Honório Tonial, Darcy Luzzato e Roviglio Costa.

Em 27 de setembro de 2003, houve um encontro na capital do estado, quando o Centro Cultural Ítalo-Brasileiro "Anita Garibaldi" se fez presente, através do seu presidente, Santo Claudino Verzeleti, a convite do Consiglio Regionale Del Veneto, por seu presidente Enrico Cavliere. O encontro ocorreu por ocasião da realização dell assembleia straordinaria que voltou a constituir um organismo federativo dei descendenti degli emigranti veneti, no Rio Grande do Sul. Na oportunidade, Verzeleti recebeu o programa para o ensino da língua vêneta em Passo Fundo.

Em seu pronunciamento, o presidente Enrico afirmou que a região do Vêneto está à disposição das autoridades gaúchas, oferecendo intercâmbio cultural e comercial. Para isso deverá ser formada uma entidade representativa dos vênetos e lombardos do Rio Grande do Sul, que possibilite às associações de italianos buscar recursos e firmar convênios, tanto culturais como comerciais, encurtando caminhos.

Em março de 2004, serão concretizadas as propostas e definido o objetivo da formação e aprovação da entidade representativa do Rio Grande do Sul, que deverá conter em seu bojo todas as associações e pessoas interessadas.

Em consonância com os objetivos do Centro Cultural, a revista Quatro Ciàcoe, de setembro, publicou em sua coluna Corso Sul Dialeto, um artigo que vem ao encontro dos interesses dos italianos da América, no sentido de que se mantenha viva a chama dos usos e costumes de seus ancestrais.

A coincidência é sumamente importante, já que a região do Vêneto também irá oferecer o ensino da sua língua, mediante um curso organizado pelo Departamento de Lingüística Palazzo Maldura, de l’ Universitã de Padova e de la Region de Veneto, quando sara fato um corso de formassion per insegnanti e operatori culturali, questioni linguistiche e questioni didatiche.

Efetivamente, a Itália desperta depois de um longo tempo, e retoma aos usos e costumes dos seus antepassados.