Batalha do Pulador, Artigo

From ProjetoPF
Revision as of 20:01, 7 May 2023 by Projetopf (talk | contribs) (Inserir artigo)
(diff) ← Older revision | Latest revision (diff) | Newer revision → (diff)
Jump to navigation Jump to search

Batalha do Pulador, Artigo

Em 07/08/2007, por Jabs Paim Bandeira


Jabs Paim Bandeira[1]


A Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, com sua violência nas lutas entre as facções, ainda é talvez o maior símbolo da força bruta na região do Prata no século XIX. Impressiona o alto número de mortos em combates, 10 a 12 mil, na época com população de um milhão de habitantes. O estigma dessa guerra civil produziu uma farta literatura que exibe as marcas da guerra cruenta: as degolas, coletivas ou individuais, de soldados republicanos (pica-paus) e de federalistas (maragatos).

Foi sem dúvida a guerra civil, com duração de 31 meses, mais sanguinolenta da história do Brasil. O resquício do ódio desempenhou seu papel na política rio-grandense quase até o fim da República Velha. Uma das maiores tragédias é que famílias muitas vezes ficaram divididas: pai contra filho, irmão contra irmão. O ódio era tanto que impregnou e se perpetuou por anos, armazenando esse sentimento vivo de rancor em ambas facções, como demonstra a história. O fato mais marcante é de Francisco Manso de Paiva, oriundo do Rio Grande do Sul, depois de passados 10 anos de finda a revolução, em 8 de setembro de 1915, no Rio de Janeiro, capital federal, matou o mais importante senador da república, o gaúcho general Pinheiro Machado que chefiou as forças do norte, esperando-o na saída do Senado e, quando estava entrando no saguão do Hotel dos Estrangeiros o apunhalou mortalmente, fazendo persistir a dúvida: se matou a mando ou para se vingar de algum parente morto na revolução.

O distrito de Pulador, no município de Passo Fundo, foi palco da maior batalha desta revolução, a do Pulador, também a maior do Brasil. Muito pouco divulgada pelos historiadores, não obstante a grandiosidade e a importância desse evento nesse movimento. A Batalha do Pulador aconteceu a 27 de junho de 1894, não apenas chamando a atenção pelo grande número de feridos e mais de mil homens mortos, mas também pela estratégia desenvolvida por seus comandantes, sendo a última importante e definitiva para o final da revolução.

Deve-se informar que Gomercindo, chegando a Passo Fundo, (na véspera da batalha), com pouco mais de 1.200 combatentes, maltrapilhos, famintos, sem arma e sem cavalo, acossados por Arthur Oscar e Pinheiro Machado, comandantes da divisão do norte, foram recebidos por Prestes Guimarães, que os socorreu com cavalos, roupas e alimentação, incorporando àquela força mais 1.500 homens. Nesse dia, o exército maragato, desfilou desde o túmulo de Fagundes dos Reis, vindo pela Avenida Brasil, atravessando a cidade, ao som de sua banda de música, pernoitando em São Miguel, junto ao Rio Pinheiro Torto. Fazia uma noite gélida e como não puderam acender fogueiras, morreram mais de 12 soldados de frio. Ao amanhecer do dia seguinte, reunindo perto de três mil homens, iniciaram o combate do Pulador, enfrentando os pica-paus, comandados pelo gen. Lima, com quatro mil homens que organizou suas forças em três quadrados, cada qual com mais de mil combatentes, numa luta que durou oito horas, após terminar as munições dos federalistas, retiraram-se, permanecendo as forças governistas em seu próprio campo, não perseguindo os maragatos.

Nessa batalha foram exploradas pelos republicanos as geografias do terreno, a fim de dificultar e diminuir a eficácia da maior arma que dispunham os federalistas, a sua cavalaria, quase imbatível, que não pôde evoluir em razão do banhado e da ponta de mato, disposta num aclive, tornando-se barreira intransponível e as posições dos pica-paus quase inexpugnáveis, pois os cavalos se atolavam nos banhados, obrigando os gaúchos pelejarem a pé, munidos de lanças e armas de fogo, já à mingua de munição.

O mais interessante de todos os aspectos humanos desta revolução diz respeito à fidelidade canina que os soldados e oficiais tinham por seus comandantes, especialmente, a dedicação que devotavam ao gen. Gomercindo, um messias a seus subordinados. Como explicar um exército famélico, com falta de cavalos, provisões, material bélico, continuar de pé, inabaláveis em suas convicções, sem deserções, vezes sem roupas, semicongelados em pleno inverno, ou ainda, sem um prato de comida, alimentando-se de milho seco, ou mesmo pinhão, quando encontravam. Isso tudo sem contar as travessias dos rios, quando pereciam homens e cavalos, permanecendo intacta a fé. Qual a força telúrica desse homem condutor de almas e de soldados por cujos desígnios sacrossantos era odiado por uns, temidos por outros, amado por muitos e obedecido por milhares? É o que a história vem se perguntando há mais de um século. Seguramente, não é para ser respondida, mas sim sentida pelo espírito daqueles que foram heróis da disciplina e da fidelidade a si, a sua causa e a seus comandantes. Eles não lutavam por dinheiro, não era a soldo de ninguém, a sua paga ,a sua recompensa, a moeda recebida era em defesa de sua própria dignidade.

Nessa batalha, no meu sentir, não houve vencidos, nem vencedores, mas sim magnitude, grandeza de alma, virtudes e heroísmo, regado com o sangue dos justos que tingiram os campos, santificando cada pedaço das terras do Pulador.

Depois de se retirarem, os maragatos rumaram para Soledade, enquanto os governistas foram para Cruz Alta. Destaque para maragatos de Passo Fundo das famílias Loureiro, Schell e Guimarães, e destaque governista para a família Annes, cujo patriarca foi Gervásio Lucas Annes.

Referências

  1. Jabs Paim Bandeira é advogado, comandante do grupo Cavaleiros do Mercosul e membro da Academia Passo-Fundense de Letras.