A HELOISA NO CÍRCULO DE PAIS E MESTRES

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A HELOISA NO CÍRCULO DE PAIS E MESTRES

Em 19/10/2012, por Welci Nascimento

A HELOISA NO CÍRCULO DE PAIS E MESTRES

Corria o ano de 1972. Era o dia 18 de setembro, quando Heloisa recebe um ofício assinado pelo Diretor da Escola Normal “Oswaldo Cruz”, hoje Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro de Passo Fundo, Dr. Jesus Almeida.

O ofício dizia:

“Levo ao conhecimento de Vossa Senhoria que a contagem de votos acusou o seu nome, como vencedora da eleição, para presidente do Círculo de Pais e Mestres da Escola Normal Osvaldo Cruz e Colégio Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro”.

“Solicitamos a gentileza de Vossa Senhoria, no sentido de comparecer a este estabelecimento em data de 19 do corrente no horário das 13h30min horas para uma reunião com a professora Maria Gehn”.

Mais um desafio para a dona Heloisa: dirigir um círculo de Pais e Mestres. Ela aceitou esse desafio e arregaçou as mangas.

A partir do ano de 1966, todas as escolas públicas do Rio Grande do Sul deveriam estimular a criação e manutenção em regular funcionamento de um Círculo de Pais e Mestres (Lei 5227). Tais Círculos deveriam estimular a convivência entre professores, pais e alunos da escola, entre outras finalidades.

Não demorou muito, e a Heloisa seguia para Porto Alegre com a finalidade de participar de um Encontro Estadual de Presidentes de Círculo de Pais e Mestres.

O Círculo de Pais e Mestres do EENAV estava em permanente reunião com pais e professores e a representante da Sétima Delegacia de Educação, hoje Coordenadoria, profª Selma Costamilan dava todo o apoio necessário. Heloisa fazia uso da imprensa local para convocar os pais e professores num trabalho contínuo no sentido de ampla harmonia entre o binômio, pais professores, em benefício dos alunos. O planejamento e o controle das ações exercidas pela dona Heloisa e sua diretoria eram constantes.

Ela chegava a enviar pequenas mensagens aos alunos, como estas: “Aluno Cenavista;

Dia 15 de Outubro, dê uma flor ao seu professor, com carinho.

Um lembrete do CPM do CENAV”.

Ela também mandava mensagem escrita à mão, ao professor: “Obrigado por ensinar aos nossos filhos o caminho do saber”.

Assinava pelo Círculo de Pais e Mestres: Heloisa Goelzer de Almeida.

Heloisa e seus companheiros de diretoria promoviam festas de congraçamento entre pais e professores, às vezes com a participação dos alunos, como nas festas juninas. Fazia a campanha da matrícula.

Heloisa tinha um carinho todo especial pelos alunos carentes. Ela defendia a ideia de que aluno pobre deveria receber todo o material escolar, inclusive a merenda. Os Estatutos que regeriam o CPM foram aprovados em Assembleia Geral pelos pais e professores. Heloisa mandava mensagem aos pais no início do ano nestes termos:

“Senhor Pai: Se seu filho tem 7 a 14 anos de idade, é um dever matriculá-lo em uma das escolas da cidade.”

Essa mensagem era divulgada no rádio, uma iniciativa do CPM do CENAV. A publicidade era paga pela fábrica de refrigerantes “Pepsi - Cola” instalada em Passo Fundo.

O Círculo de Pais e Mestres costumava convidar casais da cidade para proferirem palestras tendo como lema: “O Papel da Família na Educação dos Filhos.” Esse tema foi proferido pelo casal Joarez e Marisa Zílio, em 5 de maio de 1975.

Heloisa se preocupava com a marginalização, do sistema educacional, do alto índice de evasão escolar, da repetência. Tudo era debatido, se fosse do interesse da educação em Passo Fundo. Heloisa dizia: “Mas o governo é fraco e frágil. Ele não participa”. Defendia a criação do Clube de Mães, antevendo o Movimento das Mulheres do Campo, Centros Cívicos. “A escola pública, dizia Heloisa, é uma responsabilidade de todos nós”.

A VEREADORA

Dizia Heloisa “Quanto mais erro a pessoa comete, mais necessitada ela está.”. Com esse pensamento ela quer explicar o seu comportamento, a sua vocação no atendimento aos mais necessitados. O seu espírito político, no verdadeiro sentido da palavra, faz com que o Movimento Democrático Brasileiro, MDB, a convidasse para disputar uma vaga no Legislativo passo-fundense nas eleições de 1976, para a escolha do prefeito e vereadores...

Poucas mulheres tinham chegado ao poder Legislativo de Passo Fundo, tomado assento numa cadeira da Câmara de Vereadores. A primeira mulher foi a professora Olga Poleto, que assumiu na condição de suplente, pelo Partido Libertador. “Segundo sei, foi a primeira mulher a atuar no poder Legislativo de Passo Fundo” disse Heloisa Almeida. A segunda, completou, foi a advogada Linda do Brasil Sarturi. Eleita, assumiu o mandato na legislatura, que se estendeu de 1969 até 1973. Ela concorreu pela Aliança Renovadora Nacional – ARENA. Também em 1969 foi eleita pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB a professora Thereza Zulmira Araújo Almeida. Renunciou o mandato em 1972.

O espírito “machista” do eleitorado passo-fundense não intimidou a “chirúa do Butiá”. Foi à luta, fez campanha com a mensagem: “Só é feliz aquele que faz de sua vida um fim e não um meio de servir”. Foi eleita juntamente com Argeu Santarém, Ulisses Vieira de Camargo, Ivo Pacheco, Ivo Francisco Ferrão, Nervilho Piovesan, Miguel Lopes dos Santos, Wilson Correa Garay, Odilon Soares de Lima, Leopoldino Rosa e Delmo Alves Chavier, todos do MDB e Anoel Portela, José Maria Lima Cruz, Antônio Lourenço Pires, Antônio Alberi Ferreira, Cândido Guarani de Rezendi, Fidêncio Franciosi, Hildo Wollmann, Adirbal Corralo e Nélson Rosseto, estes da ARENA.

Uma só mulher. Para Prefeito Municipal foi eleito Wolmar Salton e seu Vice, Firmino da Silva Duro.

Não demorou muito e a Heloisa inicia uma campanha na Câmara de vereadores pela anistia ampla e irrestrita a favor dos brasileiros perseguidos pelo regime militar implantado em 1964. Nessa leva de brasileiros, incluía-se o passo-fundense João Carlos Bona Garcia que estava exilado na França. Heloisa conclama não só à Câmara dos Vereadores, mas a todas as instituições e à população em geral para se integrarem ao comitê unitário de luta pela anistia, oficializando, dessa maneira, o inicio da campanha em Passo Fundo.

A Heloisa clamava: “Salários miseráveis, cada vez menores, não satisfazem as necessidades mínimas dos trabalhadores e de suas famílias; as condições de vida, de habitação, transporte, saneamento, saúde e educação da imensa maioria da população, pioram a cada dia... Era um grito que ecoava na tribuna da Câmara de Vereadores, em pleno regime militar”.

Heloisa, na tribuna, dizia: “Milhares de brasileiros, se encontram exilados, dentro e fora da Pátria. Prisões arbitrárias e torturas constituem uma realidade, sendo que os responsáveis gozam da mais absoluta impunidade”. Naquela época, não era fácil dizer essas coisas. Mas a Heloisa dizia.

Heloisa, o que ela gostava mesmo, era tocar nos problemas existentes da cidade e do interior de Passo Fundo. Aquilo que angustiava o povo, especialmente os desprotegidos, os excluídos da sociedade. Como, por exemplo: “Fornecimento gratuito de exames médicos, exames de laboratório, Raio X, fotos para documentos e atestados”. Ela solicitava que a Prefeitura Municipal entrasse em contato com os órgãos federal e estadual para que fossem regulamentados aqueles benefícios. Ela destacava que a participação do governo municipal era de fundamental importância. “É a Prefeitura e a Câmara de Vereadores os primeiros órgãos de que dispomos na defesa das pessoas mais necessitadas”; Dizia.

A Vereadora Heloisa Almeida não só denunciava, não só reivindicava benefícios em favor da população desprotegida. Ela também sabia reconhecer quem fazia o bem. Por exemplo: Cumprimentou através de requerimento protocolado na Câmara de Vereadores a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – pelo lançamento da Campanha da Fraternidade que tinha como lema: “Para Onde Vais?”

“A Campanha da Fraternidade daquele ano voltava-se para os necessitados desta vida”. Tenho que aplaudir, dizia Heloisa.

A Vereadora soube reconhecer o trabalho social que vinha desenvolvendo o Hospital São Vicente de Paulo e solicitou uma sessão especial para homenagear a instituição de caridade pelos bons serviços prestados à cidade e à região norte do Rio Grande do Sul.

CASA PRÓPRIA

O problema de habitação popular se agravava em Passo Fundo. Vai daí, que a Heloisa apresentou uma Indicação na Câmara sugerindo a criação de um mutirão com o objetivo de construir casas populares para as pessoas pobres, sem casa para morar. Ela se inspirou nos modelos de projetos existentes em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul e em Lages, Santa Catarina. A ideia consistia em construir casas populares com material usado de casas demolidas, criando um banco de habitação. As casas seriam construídas em terrenos da Prefeitura, com um custo muito baixo para as famílias beneficiadas.

O prefeito Firmino da Silva Duro acatou a sugestão da Vereadora Heloisa e montou o “Projeto Jabuticabal”. As moradias, foram construídas com material da comunidade e a mão de obra realizada pelos próprios moradores com a ajuda dos soldados do Exército Nacional.

PREOCUPAÇÃO COM A SEGURANÇA

Naquele tempo, já começavam a surgir grandes problemas, especialmente nos bairros, no que se referia à segurança dos jovens. A vereadora sugeria a volta dos comissários de menores. A ideia era realizar o recredenciamento de comissários através do Juizado de Menores (não havia o Estatuto de Criança e do Adolescente). Havia muitos atentados contra meninas. Alegava a vereadora que a ação policial era em geral, e em muitos casos, até imprópria para atender os menores. Diante desse quadro os Círculos de Pais e Mestres das Escolas, com o apoio de órgãos educacionais deveriam desenvolver ações que poderiam colaborar com o Juizado de Menores, na função de Comissários. Ao mesmo tempo, por meio do Círculo de Pais e Mestres, de entidades e instituições, as comunidades dos bairros, com a colaboração dos comissários de menores e do Juizado, procurariam desenvolver campanhas para prevenir a delinquência juvenil, encaminhar menores abandonados, ou em vias de delinquir...

Foram alguns ideais, entre tantas, que a vereadora Heloisa apresentava na Tribuna da Câmara de Vereadores e que, muitas vezes, caiam no vazio. Eram ideais originais, futuristas, como essa de proteção às crianças delinquentes. Outro assunto, de interesse social, que a vereadora abordou na Câmara, se referia à prática do aborto. Clamava a vereadora na tribuna da câmara: “As chamadas “entidades” proliferam cada vez mais na cidade causando um problema social, que precisa ser cortado, imediatamente pela raiz”... Mulheres “parteiras” cobram quantias elevadas para praticarem o aborto ficando impunes por atos que atentam contra a saúde. Muitos casos de aborto acabam com a morte de paciente. Heloisa denunciava abortos clandestinos na cidade de Passo Fundo.

HELOISA E OS SEM TERRA

Em junho de 1978 a Vereadora Heloisa Almeida se pronunciou na Câmara, dizendo que o governo deveria colocar os colonos sem terras na Fazenda Sarandi.

Havia, na épocaa, uma disputa de terra entre índios e colonos. Heloisa definia a situação como: “Guerra dos Miseráveis”.

“Milhares de colonos contra índios caingangs esfarrapados. Os brancos “usados” por gente influente. Os indígenas não aguentam mais, “dizia Heloisa”. Mas os agricultores e suas famílias? Não são seres humanos como nós? Eis a triste realidade que não podemos ocultar”... Heloisa já podia antever a criação do MST. Ela pedia a reforma agrária. Ela alertava o INCRA, a FUNAI, os governos municipal, estadual e federal para o assunto relacionado com o problema fundiário que tinha a tendência de se agravar, se não fossem tomadas as devidas providências.

Heloisa era, de fato, visionária. Havia muita inveja da atuação da “furacão eleitoral de saias”, do dizer da imprensa.

E há muitos fatos de autoria de Heloisa como vereadora: Escadarias nas ruas Paissandú e Uruguai – Projeto comunitário para saneamento da Vila Victor Issler. – Protesto contra a onda de pornografia reinante na cidade. – Heloisa atenta para viabilizar a instalação de uma Secretaria Municipal de Saúde.

Hoje o registro civil é gratuito, baseado em lei federal. Mas, já nos anos sessenta, a vereadora Heloisa Almeida queria um posto de registro civil em Passo Fundo, gratuitamente. “Existe, dizia ela, muita gente em Passo Fundo sem registro de nascimento e casamento, porque não podem pagar despesas de cartório”. “São brasileiros, irmãos nossos, sem registros”.

A ORAÇÃO

O mandato da vereadora Heloisa Goelzer de Almeida na Câmara de Vereadores de Passo Fundo iniciou com debates acirrados.

Corria o ano e as cassações de mandatos continuavam, em vista de revolução de 1964. O Vereador Ivo Pacheco não aceitava esta situação, lamentando as cassações de colegas na Câmara de vereadores de Porto Alegre.

Heloisa solicitou que o trabalho da Câmara iniciasse sob a bênção de Deus. Para tal, ela começou rezando a oração: “Pai Nosso”. O líder da ARENA dizia que das cassações ninguém fugiria.

O assunto virou polêmica.

Parte da imprensa de Passo Fundo dizia: – “A bulha que foi feita em torno à proposição da vereadora Heloisa para que os vereadores rezem unidos antes de iniciarem as sessões da Câmara, não passou de mera fantasia...” Afinal, uma oraçãozinha a mais ou a menos não irá fazer diferença, neste mundão velho cheio de ganância, repleto de hipocrisia e atolado de prepotência, diziam os outros.

De qualquer forma, já que a proposição da vereadora Heloisa foi aprovada, fato que a deixou muito contente, rezar não há de prejudicar ninguém. Faça-se oração e depois seja o que Deus quiser, diziam outros.

O vereador Odilon Soares de Lima, líder do MDB dizia: “É bem melhor falar em oração do que em revolução”. Ivo Pacheco lembrava Joana D’arc. Nélson Rosseto e Adirbal Corralo a favor. O vereador Miguel Lopez dos Santos, falando a respeito, dizia ser apenas um problema de oração. “Ela não estava preparada para frequentar o ambiente “quente” da Câmara de Vereadores. Heloisa saiu do céu e veio para o inferno...”

Um pastor da igreja evangélica mandou uma carta para um vereador, dizendo: “Creio que em vossas reuniões não é o lugar para esbanjar o tempo em vãs repetições de preces, intenções a mortos...”

Caxiense Gaiyer, Delegado da Polícia competente, que já tinha sido vereador de Passo Fundo, num gesto de brincadeira, com um Rosário na mão, perguntava se podia adentrar no recinto da Câmara.

A imprensa local, tomou conta do assunto, colhendo opiniões. Como as manifestações eram diferentes, o assunto virou polêmica.

“O céu é o estado d’alma, o inferno é o homem revoltado”, dizia Heloisa.

Nas páginas do velho Correio do Povo da Caldas Junior noticiava: – “Numa atitude na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, a vereadora Heloisa Goelzer de Almeida solicitou que os trabalhos iniciassem sob a proteção de Deus.”

A Heloisa continuava a mesma, desde os tempos do Butiá.

Heloisa vem realizando seus sonhos, suas caminhadas, suas experiências, suas vitórias. E relata suas atividades que não são poucas: Foi presidente do Clube da Saúde; presidente do CPM da Escola Estadual “Nicolau de Araújo Vergueiro” e da Escola Estadual “Protásio Alves”; presidente da “Casa Lar”; Presidente do Rotary Club “Integridade”; Diretora da “Juventude Espírita C. E. Dias da Cruz”; Assistente aos Deficientes; Coordenadora do Movimento de Mulheres – O grito da Mulher do Campo; Manteve por vários anos uma coluna no jornal “Diário da Manhã”; com o título “Pensando e Escrevendo” e, outra coluna do jornal “O Nacional”. Também atuou na “Rádio Passo Fundo” como comentarista. Dedicou um tempo para a política, sendo eleita Vereadora pelo partido MDB. Apresentou vários projetos beneficiando a população desta comunidade. Entre eles, colaborando com a história de Passo Fundo, encaminhou proposições, amparada em leis para a denominação de várias ruas da capital do Planalto: Rua Angélica de Castro Otto – parteira, Lei 19992 de 25/05/1982 (Loteamento São Geraldo), Rua Augusto Paiva Netto – Engenheiro Agrônomo, Professor (UPF). Lei 2.225 de 07/12/1982 (Loteamento César Santos); Travessa Conceição Teixeira Kurtz. Lei 1.948 de 15/06/1981 (Loteamento Jardim América); Rua Jerônymo Marques Sobrinho. Lei 1.834 de 06/12/1978 (Loteamento São Cristóvão); Rua Jovenor dos Santos. Lei 1.895 de 08/05/1980 (Conjunto Habitacional Edmundo Trein); Rua Jovina Ribeiro Martins. Lei 1.999 de 19/07/1982 (Loteamento Santa Rita). Avenida Leonidia da Cunha Fiori. Lei 1.834 de 06/12/1978 (Loteamento Maggi) – Outros Vereadores também apresentaram esta proposição. Rua Newton Lopes de Abreu. Lei 1.999 de 19/07/1982 (Loteamento Santa Rita); Rua Tenente da Brigada Militar Delmar Duarte. Lei 2.2021 de 19/07/1982 (Loteamento Jardim Botânico); Rua Jornalista Túlio Fontoura. Lei 2.205 de 07/12/1982 (Loteamento César Santos).

COMITÊ DA CIDADANIA CONTRA A FOME, A MISÉRIA E PELA VIDA

O trabalho que Heloisa realiza no Comitê da Cidadania é estafante, mas os resultados são benéficos, pois atinge o ser humano. Dedica-se a esta entidade social há anos (2011) dia a dia, sem rotina. Vai sempre criando e, com a força e saúde que Deus lhe proporciona, segue em frente...

Ajuda não falta do Poder Municipal, do povo passo-fundense e de outros municípios. Alimentos existem em abundância. A grande solução esperada é a geração de emprego, preparação da mão de obra e ainda a melhor distribuição de renda.

Heloisa lembra sempre que o grande idealizador dos Comitês de Cidadania foi o bondoso e inesquecível “Betinho” (Helbert de Souza), Acreditou que o maior compromisso da sociedade é resgatar a cidadania daqueles que foram ignorados e marginalizados. É a oportunidade para formar um cidadão livre e feliz.

O Comitê da Cidadania foi criado em várias cidades e, Passo Fundo não podia ficar fora, então foi criado dia 14 de julho de 1993, na Universidade de Passo Fundo (UPF). Heloisa pessoa talhada para esse trabalho foi escolhida e assumiu a tarefa. Participou de várias reuniões para dar publicidade e solicitar a colaboração para o Comitê Municipal da Cidadania. A divulgação foi feitas às autoridades, ao povo de Passo Fundo, ao Comércio, enfim a todas as forças vivas de nossa cidade. O trabalho consiste em visitar possíveis doadores, benfeitores, arrecadar as doações, recolher sobras de alimentos (não restos), de festas, em restaurantes, lancherias, padarias, churrascarias, fruteiras, casas de carne (para o sopão). Recebe também material para o trabalho artesanal.

O sopão, no início, foi servido diariamente no Comitê e nas Vilas Cadastradas. Sempre atendendo a higiene, a disciplina e o respeito. De mãos dadas recitavam orações em agradecimento a Deus pelo alimento recebido em cada dia. O aproveitamento de todo o alimento arrecadado pelo ônibus do Comitê da Cidadania é em seguida distribuído nos bairros anteriormente agendados com os voluntários.

Após esses anos de muito trabalho, foram surgindo muitos doadores e voluntários que oferecem o seu trabalho no Comitê. Ajudam com orientações sobre assuntos que todo o cidadão deve saber: seus direitos e deveres, preparo de alimentos, higiene, etc... O manejo dos trabalhos manuais, artesanato, aproveitamento de matérias, sobras de tecidos. Os Projetos Pedagógicos desenvolvidos na Alfabetização são realizados no Comitê. Heloisa não aceita dinheiro e diz que está interessada em ajudar a sociedade mais carente, recebendo o que oferecem (agasalho, móveis de toda a espécie, etc...). A arrecadação mensal de alimentos é surpreendente e grande é a colaboração de algumas empresas passo-fundenses, pois já conhecem o trabalho sério que essa entidade vem realizando.

É justo citar nomes de pessoas, de entidades, empresas que sentiram que é o momento de ajudar essa entidade que surgiu e que deu certo: Sargento Orlei, Moacir Goelzer, Prefeito Municipal Dr. Airton Lângaro Dipp, Câmara Municipal de Vereadores, Oldermes Goelzer Lima, Dr. Ruy Getúlio Soares, Brigada Militar, Universidade de Passo Fundo, Dom Urbano Allgayer, Celso Menegaz, Maria Nelci, Nena, Áurea Borghetti, Luiza, Zefa, Isaura, Teresinha, Profª Arita M. D’Ávila, Sebastião (motorista do ônibus do Comitê da Cidadania durante 10 anos de serviço), Dr. Eloi Zanatta, Rotary Club, CISA, Bella Cittá, Zaffari, Caixa Econômica Federal, Embrapa, Hotel Itatiaia, Vassoler (fruteira), Dr. Eurípedes Facchini, Dra. Dorotea Morsch, Profª Marga Kochhann, Lago Pão, Clubes Comercial e Caixeiral, Boka – Padarias, muitos anônimos, cidades vizinhas. Passo Fundo abraçou o trabalho do Comitê. A colaboração veio de muitas mãos generosas que atenderam ao pedido. “E o Pai Todo Poderoso abençoará a todos”.

Heloisa, é uma abnegada, sem dúvida, e merece todo o respeito e agradecimentos do povo passo-fundense e de todos os colaboradores, por seu esforço, doado com tanto amor e dedicação. E Heloisa sempre afirma que é gratificante poder doar o seu tempo para esta causa tão nobre.

Certo dia, uma voz clamava no Brasil: “É preciso matar a fome dos pobres no Brasil, com a ajuda dos brasileiros.” Era o Betinho. Heloisa, que já vinha pensando e agindo nessa área, gostou da ideia. Betinho tinha uma aliada em Passo Fundo. Com forças redobradas, ela com suas amigas organizam um Comitê para combater a fome e a miséria em Passo Fundo, com a ajuda dos passo-fundenses. Corria o ano de 2001.

Heloisa clama, reclama e vence.

Passados alguns anos, O Comitê é reconhecido pela comunidade de Passo Fundo como um espaço muito importante do combate à fome e à miséria, nos fundos da antiga Prefeitura Municipal, entre as duas ruas históricas da cidade: Av. Brasil e Moron.

A realidade em que vive o pobre da cidade, Heloisa expressou neste poema:

A FOME

A minha,

A nossa,

A tua,

A dele,

A dela.

Fome, miséria.

Palavras tristes,

Palavras sérias.

Fome

Tantos dependem dela

Fome

Tantos me traz lembrança

Dos tempos que eu era criança.

Não tinha muita esperança.

É triste pensar, imaginar,

Tantas crianças vivendo,

Sem alimento

E sem lar.

Mas somos sonhadoras

E queremos ajudas.

Com um pouco de cada um,

Nós esperamos,

Com a fome acabar.

Doar alimentos

Para tentar melhorar

Tantos sofrimentos

De tantas pessoas,

Sem trabalho e sem lar.

Esperamos, seu Presidente,

O cumprimento urgente

Das promessas que nos fez.

Sabemos que, após quatro anos,

Você prometerá outra vez.

Comitê Municipal da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida.

Você sabia...

Passo Fundo/RS – tem um ônibus que faz entrega de alimento todos os dias?

Você sabia?

É fato único. Inédito.

Entrega na porta das casas, feijão, arroz, farinhas de trigo, de milho, carnes, frutas, verduras, etc,

Entrega móveis, camas, colchões, cobertores etc, etc.

Não há nada igual, ou semelhante. Não existe em nosso estado – Rio Grande do Sul, até hoje algo parecido. Nem no Brasil.

De outra parte, é exigido que os beneficiados participem dos grupos de trabalho de artesanato. Reciclagem.

Há que mostrar trabalho para ser beneficiado.

É do evangelho: A quem muito foi dado, muito será pedido.

Heloisa distribuindo alimentos no Comitê. Profª Santina ajudando com voluntárias.

Heloisa vai à Vila Victor Issler levar alimentos e roupas, colaboram no transporte, soldados do quartel, grupo de rotarianos, Isabel Heckler, Marga Kochhann, Bruno Zilmer (2002).

A saúde é um direito fundamental. Jesus, no seu tempo, lutou muito para isso. O povo estava enfraquecido e abandonado. E Jesus, também ensinou que a saúde é um ponto importante para a prática de caridade.

Heloisa Goelzer de Almeida procura fazer a sua parte na sociedade passo-fundense. Sua luta tem sido constante. As dificuldades são, também, constantes. Mas ela não esmorece, vai em frente. Sempre em frente. A saúde, para Heloisa, entra pela boca. Por isso Heloisa se preocupa com uma boa alimentação das crianças e dos idosos.

A menina e a adolescente do Butiá continua a mesma: inquieta, insatisfeita... Quer mais, sempre mais em benefício dos injustiçados. Heloisa procura resolver os problemas sociais à partir da realidade local. É o aqui e agora. Não fica divagando e filosofando. É preciso fazer. E faz. E diz. É fácil, diz Heloisa, e até constumeiro auxiliar uma creche ou um asilo, mas não é fácil e nem sempre tem muita aceitação auxiliar criatura, mães solteiras, abandonadas pela sociedade, Crianças e velhos com fome ficam desanimados.

“Minha alma está alegre por causa de Deus meu Salvador. Porque ele se lembrou de mim, sua humilde serva!”...

Fontes de Referência:

1.   Francisco A. Xavier e Oliveira.

2.   Jornais: O Nacional, Diário da Manhã de Passo Fundo, Correio do Povo, Zero Hora.

3.   Câmara de Vereadores de Passo Fundo.

4.   Prefeitura Municipal

5.   Centro Espírita Dias da Cruz.