Adeus ao compositor e regente Carino Corso

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Adeus ao compositor e regente Carino Corso

Em 31/12/2003, por Antônio Augusto Meirelles Duarte


Adeus ao compositor e regente Carino Corso[1]

ANTÔNIO AUGUSTO MEIRELLES DUARTE


Vítima de um mal súbito, veio a falecer, na madrugada de um sábado (12/07/2003), o conhecido e conceituado musicista, regente e compositor, Carino Corso. Com a idade de 86 anos, continuava sempre presente à frente dos corais da catedral e do Ricordi d Itália, ambos por ele criados e regidos até os últimos dias de sua preciosa existência. Casado com a senhora Gladis Schell, em 1968, deixa apenas uma filha, a dra. Carina Schell Corso, odontóloga aqui residente.

O sacerdote e músico

Carino Corso foi sacerdote, tendo sido ordenado em 1942. Em seguida passou a exercer suas atividades sacerdotais, por 10 anos, em Getúlio Vargas. Transferido para Erechim, lá construiu, em três anos, o seminário até hoje existente. Foi para Tapejara, fundou um grande coral, como já havia feito em Getúlio Vargas e Erechim. No centenário de Passo Fundo,em 1957, organizou um coral com 175 integrantes.

Em 1961, veio para Passo Fundo com a responsabilidade de reformar a catedral, e terminou criando um grande coral misto. Depois de ter trabalhado em Itatiba do Sul, em 1968, deixou suas atividades sacerdotais.

Além de todos os corais que criou por onde passou como sacerdote, Carino conseguiu, em 1967, concluir o curso superior de Música. É autor do símbolo da Universidade de Passo Fundo, que data de 1970.

As homenagens

Por ser Carino membro da Academia Passo-Fundense de Letras, o presidente, Antônio Augusto Meirelles Duarte, pôs à disposição da sua família a sede da entidade, onde o corpo foi velado até a manhã de domingo, quando foi transladado para a catedral para uma missa de corpo presente, às 9horas. Na Academia, foi homenageado pelo presidente Meirelles Duarte, que falou em nome de todos os acadêmicos.

Os corais, da catedral, Ricordi dItália e também da Igreja Metodista prestaram tocantes homenagens, com a interpretação de várias composições, algumas até de autoria do próprio Carino Corso. Na oportunidade, em nome dos corais, falou a professora e regente Terezinha Braz, com muita emoção, relatando passagens que marcaram muito a vida do regente Corso.

Na catedral, novas homenagens foram prestadas, sendo a missa cantada em italiano, com composições todas de autoria de Carino Corso. Após a celebração, foi levado à sepultura no cemitério da Vila Vera Cruz, com grande acompanhamento.

Meus dez anos de coroinha do então Padre Carino Corso

A vida de cada um é feita por etapas. Somando-as todas, chega-se aos resultados do que cada uma delas produziu na personalidade, na formação e no próprio espírito da pessoa. Os que tiveram dificuldades, por terem nascido num lar pobre, de recursos limitados, forçados a procurar pelo próprio esforço os caminhos sonhados e desejados, terminam sempre se constituindo nos grandes vitoriosos da vida. Por outro lado, os que, ao nascerem tudo têm e tudo lhes é oferecido, nem sempre conseguem somar conquistas suficientes para se tornarem realmente vencedores. Também na formação espiritual tudo deve vir das origens. Minha vida teve a marca de uma fase que muito significou, para manter-me num caminho e numa linha da qual nunca me afastei. Os princípios religiosos, a formação baseada na rígida honestidade, o senso de responsabilidade e, o que há de mais valioso, a consideração e o respeito ao semelhante. Foram meus dez anos de coroinha na paróquia de Getúlio Vargas, para onde fui, ao sair de Passo Fundo, minha terra natal, com seis anos de idade, retornando aos dezesseis. Lá, aluno do Colégio Cristo Rei, logo fui conduzido para o pequeno grupo dos coroinhas. Trabalhavam lá os sacerdotes João Farinon e, logo depois, também o recém-ordenado padre Carino Corso, filho de Sertão e de família muito conhecida e relacionada naquela cidade. Suas posições se mostravam bem antagônicas. Enquanto monsenhor João Farinon era um poço de calma, paciência e bondade, o jovem padre Carino Corso era um vulcão, sempre em atividade na organização de corais e nas atividades comuns do sacerdócio. Seu sermão também era muito vibrante, enriquecido pela bela voz que possuía. E, cada missa que rezava, fazia em tempo bem menor que o velho e bondoso João Farinon.

Recordo-me de quando chegava a temporada de caça, que existia em abundância na região. Como só houvesse missa nos domingos pela manhã, já que a de sábado não substituía a dominical, um grupo de caçadores, constituído pelos mais conhecidos empresários e líderes políticos, contratava o jovem sacerdote para rezar para eles uma missa às 6 horas da manhã, possibilitando, assim, um melhor aproveitamento dos domingos, em suas memoráveis e abundantes caçadas. Mas, para que a missa fosse oficiada, era indispensável a presença do coroinha. E lá estava eu, madrugando, também, para dar a minha parcela de colaboração aos amantes da caça.

A cidade,que não possuía emissora de rádio, socorria-se dos alto-falantes colocados nas torres da igreja, para os avisos mais urgentes. Por indicação do padre Carino, assumi mais essa tarefa, o que me valeu a contratação, em 1951, como locutor da recém-criada Rádio Vera Cruz e, já no ano seguinte, era eu contratado pela Rádio Passo Fundo, de onde nunca mais saí, somando meio século de atividades como comunicador.

É preciso que reconheçamos a importância e prestemos a devida homenagem a todos que, de uma forma ou outra, contribuíram para o sucesso de nossas vidas. Foi graças à determinação do então padre Carino Corso, ao final da década de quarenta, que me vi um dia diante de um microfone de alto-falantes de uma igreja, para dali ser conduzido para a atividade que terminou emoldurando toda a minha vida.

O nosso reencontro ocorreu em Passo Fundo. Ele, como professor e compositor musical, criando vários corais e levantando inúmeros prêmios em concursos que, por todo o estado, foram promovidos. Eu, mantendo-me no caminho de comunicador, cujo passo inicial me foi proporcionado pelas mãos e pela confiança do sacerdote, que muito representou nas conquistas que a profissão me ofereceu, e pelas quais me sinto hoje plenamente realizado. Obrigado, professor e ex-sacerdote Carino Corso, por tudo que em minha vida consegui, graças àqueles inesquecíveis 10 anos como coroinha da paróquia de Getúlio Vargas.

Referências

  1. Da revista Água da Fonte nº 0