Meu amado Santarém partiu

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Meu amado Santarém partiu

Em 31/05/2011, por Rose Toledo Santarém


Meu amado Santarém partiu[1]

ROSE TOLEDO SANTARÉM[2]


Discreto, como era do seu estilo. No sábado, quando a cidade já descansava, preparava-se ele para a grande viagem. Saiu de cena sem alarde. Esperou pela minha presença, para a despedida final, e foi ao encontro do Pai que já o aguardava. Com instruções para a nova jornada, em outra dimensão.

Só uma grande causa para tirá-lo de casa, num momento tão feliz de nossas vidas. Contestador que era, lutou, argumentou, mas perdeu a batalha. A bem da verdade, perdemos todos. Há várias cadeiras vazias em diversos pontos da cidade. Avesso às regras, fez o que quis e como quis, era seu segredo de felicidade. Boêmio assumido. Era nas madrugadas que, com outros pares, repassava o dia. Sem nunca esquecer de ligar avisando: "amor, dá mais cinco, intermináveis, minutinhos. que já to chegando". Sempre passando a lista de presentes que legitimavam a sua presença no local. Mas o Pai já não podia mais esperar. Precisava ao seu lado de alguém com a sua genialidade. Um homem digno, forte, combativo, com senso de humor. Era singular na contundência de seu texto e na leitura que fazia dos fatos. A piada certa na hora exata foi outra marca de sua personalidade. Conheceu o sabor das injustiças e contra elas lutou. Assim, a ética, a lealdade e a defesa intransigente de suas convicções lhe proporcionaram o respeito e a admiração de uma comunidade inteira, que lamenta sua perda. Cala-se a Coluna do Santa. Dezoito assíduos leitores, mais alguns que se omitiram, estão órfãos... Perdoem-me agora se lhes falo de uma coisa tão íntima que foi a nossa convivência diária. Tive o privilégio de conviver com ele por uma década, amei muito, filiamada. Vivi as suas alegrias. Ainda recentemente foi homenageado pela Rádio Progresso da cidade de Ijuí, onde trabalhou na juventude. Não era vaidoso, mas o reconhecimento pelos bons serviços prestados encheram seu coração de alegria. E. por último, também chorei com ele a dor física que antecedeu a sua partida.

Esta cumplicidade também se revelava na convivência com seus filhos e netos. A formatura do Cassio e. Agora recentemente, do Eduardo, foram momentos de grande felicidade, assim como o nascimento de Antônio, filho da Larissa, que foi longamente esperado. Aguardávamos agora ansiosamente a formatura da Cristiane, que aconteceria na PUC em Porto Alegre. Então a alegria do pai estaria completa: os quatro filhos formados, independentes, na profissão que abraçaram.

Quanto a mim, rogo a Deus para que me inspire, me diga como é que se lida com esta dor que rasga a carne edilacera a alma, pela falta que nos faz a presença física, o calor, o abraço, o apoio.

Por último, um agradecimento especial a todos os que compareceram à cerimônia de despedida: aos colegas jornalistas e da Prefeitura, à presidência da Câmara de Vereadores e aos vizinhos. Aos que enviaram flores, coroas, e também e-mail. Enfim aos que de alguma forma nos confortaram, nosso muito obrigado. Um agradecimento eterno aos médicos Rosemar Stefenon e Jairo Caovila, que, inspirados por Deus, foram incansáveis em seus talentos, acompanhando-o por vários anos. A todo o corpo da CTI do Hospital Prontoclinica, em especial à enfermeira Tânia, um anjo em nossas vidas. Ela ultrapassou o exercício da profissão, foi amiga e presença acolhedora na hora da passagem. As belas e encorajadoras palavras da amiga Eloisa Almeida, do Celestino Meneghini, enaltecendo a figura humana e profissional, igualmente do padre Alcides Guareschi, relembrando sua trajetória, além de bem recomendá-lo ao Pai, ainda ecoam em meus ouvidos. Partiu o homem, mas fica sua lembrança como legada da vida pública, do político, jornalista, escritor e professor.

Fica em paz, meu amor, que eu viverei na certeza do dia do reencontro!

Um grande beijo, da ma Rose!

Referências

  1. Texto publicado em O Nacional em 11 de março de 2010 e na Revista Água da Fonte em 31/05/2011
  2. Rose Toledo Santarém é jornalista