Campo do Meio e a batalha de Santa Vitória
Campo do Meio e a batalha de Santa Vitória
Em 19/01/2023, por Ageu Nunes Vieira
Campo do Meio e a batalha de Santa Vitória
Ageu Nunes Vieira
Jornalista, pós-graduado em Gestão da Comunicação, advogado e membro-fundador da Associação Chapecoense de Escritores
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O ano de 1839 transcorria com vitórias e derrotas de lado a lado na Guerra dos Farrapos e seria importante no desenrolar do conflito entre republicanos e monarquistas nas três províncias do Sul do Brasil.
A Capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, encontrava-se sitiada pelos farroupilhas, cerco que duraria três anos.
Garibaldi e outros líderes revolucionários haviam fundado a República Juliana, em Laguna, mas de lá tinham sido expulsos, tomando a cidade de Lages e ocupando vasto território da Serra e do Planalto rio-grandense. Nesse contexto, uma pequena localidade, afeita a escaramuças bélicas desde a disputa territorial entre portugueses e espanhóis, o Campo do Meio, dividia exércitos, por sua geografia única, entre o Mato Português e Mato Castelhano. Campo do Meio teria papel decisivo na derrota imperial do Passo de Santa Vitória, em dezembro de 1839, quando morreu o brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, comandante da 1ª Coluna Paulista.
O ano terminou mal para os republicanos com a derrota naval em Laguna, em 15 de novembro de 1839, mas acabou bem com a vitória terrestre de Santa Vitória (Bom Jesus) em 14 de dezembro de 1839. As forças retirantes de Santa Catarina estavam sob o comando do Coronel Joaquim Teixeira Nunes[1], à frente dos Lanceiros Negros, grupamento constituído de escravos libertos, que bateram e dispersaram a Divisão Paulista, ou Divisão da Serra, que invadira o Rio Grande do Sul, a partir de Lages, em Santa Catarina.
Os principais líderes do Exército Imperial e dos farroupilhas, até aquele momento, seriam envolvidos nessa batalha, que foi um dos grandes exemplos da estratégia militar, adotada de forma brilhante pelos rebeldes, que imporiam fragorosa derrota aos monarquistas.
Os farroupilhas haviam entrado em Lages, conquistando o apoio de fazendeiros. Depois da queda de Laguna os revoltosos retornavam para o Rio Grande do Sul, enquanto o governo imperial enviava tropas pelo interior com a missão de retomar Lages e romper o cerco de Porto Alegre.
Em Rio Negro, no Paraná, reuniram-se 1.500 homens, que se deslocaram para Santa Cecília, já em Santa Catarina, onde acamparam em 25 de outubro de 1839. Na região de Campos Novos e Curitibanos foram travados pequenos combates em novembro, e o exército acabou retomando o controle da Vila de Lages.
A 2ª Coluna Paulista permanecia em Paranaguá, sob o comando do general Pedro Labatut[2], que nasceu em Cannes, em 1775 e lutou ao lado de Napoleão e das guerras pela independência das colônias espanholas, ao lado de Simón Bolívar.
A partir de Lages, à frente da 1ª Coluna Paulista, o brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu invadir o Rio Grande do Sul, atravessando o Rio Pelotas. Os farrapos, derrotados em Lages, estavam próximo ao posto de cobrança de impostos, conhecido como Passo de Santa Vitória, onde hoje situa-se o município de Bom Jesus.
O brigadeiro enganado por informações distorcidas, obtidas em Campo do Meio, foi surpreendido, em 14 de dezembro de 1839, pelo coronel Teixeira Nunes, que com os seus Lanceiros Negros, à frente da cavalaria, dividiu a tropa legalista e, após um combate feroz, derrotou o brigadeiro, que foi ferido e tentou cruzar o Rio Pelotas a nado, mas morreu afogado.
O cerco de Porto Alegre e o banho de sangue em Lages
Ainda no primeiro semestre de 1836, o exército Imperial retoma Porto Alegre, que estava nas mãos dos farroupilhas. Era a noite de 15 de junho de 1836. A reação dos rebeldes foi imediata. O comandante Bento Gonçalves tenta retomar a cidade, mas é impedido pelas forças leais ao Império. Estacionadas nos arredores da cidade, as tropas farrapas impõem um sítio que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840[3].
Como a Revolução Farroupilha teve seu âmago em questões rurais, especialmente contra a cobrança de impostos sobre o charque, não havia grande apelo popular junto aos trabalhadores da insipiente indústria das regiões de colonização alemã e da capital. Com isso, o sítio permaneceu por longo período, sem perspectivas de reentrada das tropas rebeldes.
Em outras regiões do Sul, e especialmente na campanha, a revolta criou um quadro de sedição importante, que se alastrava e colocava em risco a própria monarquia, recém instalada no país. Em Santa Catarina, em 10 de março de 1839, a República foi proclamada primeiro em Lages por Antonio Inácio de Oliveira com o apoio do coronel Serafim Muniz de Moura. “Assim, a República Lageana é anterior à República Juliana em Laguna[4]!”.
Em 15 de novembro de 1839 o capitão Candido Alano retornou a Lages e iniciou uma repressão implacável. No sul catarinense os revoltosos já haviam sido esmagado e subiam a Serra, tendo à frente Giuseppe Garibaldi, Anita Garibaldi e o capitão Joaquim Teixeira Nunes. Na batalha do Passo de Santa Vitória, no Rio Pelotas, em 14 de dezembro, teve lugar o mais sangrento combate que a região conheceu, quando os farrapos massacraram a 1ª Divisão Paulista de Francisco Xavier da Cunha, em combate corpo a corpo e a cavalo.
Dias depois, os farrapos voltaram a Lages, mas cometeram o erro de não mandar reforços. Em 12 de janeiro de 1840, no Arroio Forquilha, no Capão da Mortandade, os republicanos foram destroçados. Cinco oficiais e 66 soldados morreram[5]. Em 19 de abril de 1840, o general Pedro Labatut (“O Lava Tudo”), entra em Lages com mais de mil homens e o que se segue é um banho de sangue. Ele passou o “lenço colorado” (degola) nos resistentes.
Em 1841, assumiu a Presidência da Província, o general Soares Andréa. Ele concentrou esforços em obrigar os republicanos a levantar o sítio de Porto Alegre. Com forças navais e terrestres, tentou cercar os republicanos que sitiavam a Capital.
Soares Andréa acionou a 2ª Divisão Paulista, tendo à frente o general Pedro Labatut, a partir de Santa Catarina, numa reedição da malograda 1ª Divisão Paulista. Canabarro e Bento Gonçalves deixaram o sítio de Porto Alegre e marcharam para a Serra, para o enfrentamento de Labatut, mas enfraqueceram o sítio de Porto Alegre que foi levantado sem esforço. Andréa, apesar do insucesso de Labatut, conseguiu uma grande vitória estratégica, alternativa da derrota pretendida dos sitiantes. Ou seja, obrigá-los a levantar, em definitivo, o sítio de Porto Alegre.
O espião do Campo do Meio
A derrota da Vanguarda da 1ª Coluna da Divisão Paulista foi um duro golpe nas hostes imperiais. Junto aos monarquistas, o Diário do Rio de Janeiro tentou minimizar as perdas, informando a partir de um correspondente na Vila do Príncipe, hoje município de Lapa, no Paraná, que “dos nossos soldados só 50 perdemos, entre mortos, prisioneiros e extraviados, e que dos rebeldes perto de 100 ficarão (sic) no campo”[6].
O capitão Hipólito Machado Dias, à frente da cavalaria de voluntários constituía a vanguarda da primeira coluna. O capitão não perdeu tempo e no dia 2 de dezembro atravessou a divisa com o Rio Grande do Sul, e surpreendeu uma pequena guarda rebelde que vigiava aquele ponto, no Campo do Meio. Ele foi informado que um grupo de rebeldes estava reunido a duas léguas da freguesia de Vacaria, no lugar denominado de Puladores. Ali estavam cerca de 200 homens, para quem essa pequena guarda estava reunindo gado para municiar a força rebelde.
O comando imperial da coluna paulista recebera informação, no dia 26 de novembro, quando marchava além do Rio Correntes, de que em Vacaria os tenentes coronéis Antonio Ignacio, Serafim e Aranha, todos rebeldes, faziam reuniões, o que levou com que o comando mandasse seguir por Campos Novos, a fim de efetuar a passagem do Rio Pelotas nos fundos de Vacaria.
O capitão Hipólito, quando se dirigia para os fundos dos campos de Vacaria, em Campo do Meio, capturou um mensageiro enviado pelos rebeldes ao comandante da Vila da Cruz Alta, pedindo gente para enfrentar a força paulista. O capitão Hipólito dirigiu-se para encontrar a pequena força, que surpreendeu em Campo do Meio, matando o comandante, conhecido como Carne Preta, e aprisionando 42 homens.
Os prisioneiros não resistiram e disseram serem do partido monarquista, e que foram reunidos à ponta de espada pelos rebeldes. Hipólito devia regressar depois disto e voltar pela linha que lhe tinha traçado o brigadeiro Francisco Cunha. Porém fez ele ao contrário: atravessou o Mato Castelhano com toda a cavalaria de 300 homens e foi a Passo Fundo, quatro léguas além do Mato Castelhano e a dezesseis léguas de Cruz Alta, reunindo legalistas e cavalhada, de maneira que aumentou a força a ponto de deixar o tenente Lucio, seu companheiro, com 150 homens, e voltou com perto de 300 para o Registro de Santa Vitoria, conforme lhe tinha determinado o brigadeiro.
Esta marcha de 43 léguas, porém, que fez de dia e de noite, lhe estropeou a cavalhada de forma tal, que já não estava em condições de entrar em ação.
O brigadeiro, com a demora de Hipólito, a quem esperava dias antes, seguiu para Lages, bem longe do Rio Pelotas, e acampou a uma légua de distância, no lugar denominado Carasinho. Depois, sem cogitar para o perigo que corria, saiu dai no dia 13 de dezembro à noite com o seu pequeno piquete de cavalaria, e 60 caçadores, atravessou o Rio Pelotas, e no dia 14 de manhã foi até o registro de Santa Vitoria.
Precisamente quando vinham chegando Hipólito com sua cavalaria, e o capitão Jordão de Mello, o grupo enfrentou um pequeno grupo de rebeldes, que aparentava algum medo. Tratava-se de uma armadilha, para atrair a Coluna Paulista, pois os rebeldes haviam cautelosamente ocultado a sua maior força nas imediações do Capão Ralo. Ali tinham-se reforçado com mais 200 homens de David Canabarro, que com toda a velocidade, lhes mandara das vizinhanças de Torres, assim que tomou conhecimento da marcha da Coluna Paulista, que sabiam haver chegado a Lages no dia 2 de dezembro.
O brigadeiro Cunha tinha sido iludido por um homem que o fez crer ter fugido da força rebelde, que contaria tão somente com 200 homens, velhos e meninos, todos mal armados, dos quais uma grande parte se achava disposta a passar para o lado imperial. O brigadeiro, acreditando nesse disfarçado espião, dele se serviu para enviar uma carta ao comando rebelde, em que os convidava a apresentar-se.
O espião levou a carta, voltando poucos dias depois, e disse que não pode entregar de mão própria em consequência da perseguição que lhe fizeram os rebeldes, mas enviara segura e reiterou a certeza de que as forças farrapas não excediam 200 homens.
Foi nesta convicção que o brigadeiro deixou de tomar medidas que certamente lhe seriam ditadas pela prudência, se a sua credulidade o não induzisse a despreza-las. O brigadeiro não ouviu mais parecer de ninguém e não receou passar o rio Pelotas, que no ponto onde se achava, devia servir-lhe de apoio contra qualquer ataque de forças superiores. Passou o rio, e chegando próximo de Santa Vitória, reuniu a cavalaria e viu então a força inimiga a uma légua ou mais de distância. Ele mesmo e muitos outros avaliaram a força inimiga em 400 a 500 homens. Esta observação deveria determina-lo a repassar o rio de volta, sem precipitação, pois que apenas media, entre o ponto que ocupava e o rio, o espaço de uma légua.
A sua coragem inoportuna, entretanto, o colocou a perder nesse dia. Confundiu-se e as operações iniciadas com tanta vantagem acabaram mal. O brigadeiro esperou o ataque a pé, contando com a vantagem da cavalaria e do apoio de um cerca de pedra, uma taipa, que isolava os rebeldes dos imperiais, no boqueirão daquele posto de coleta de impostos. Também é até mais verossímil a presunção de que muitos rebeldes passariam para o lado dos monarquistas, como informara o espião capturado.
Erro de avaliação e o ataque sorrateiro
A força rebelde aproximou-se da 1ª Coluna Paulista com bastante lentidão, sob as vistas do brigadeiro e de seus homens, que apenas observavam. Os farroupilhas chegaram a uma distância conveniente e, quando já estavam bem próximo, carregaram o ataque com toda a velocidade, a fim de forçar a passagem pela porteira da guarda imperial. Ali estava o capitão Valentiniano José de Lima, com os seus voluntários recrutados em Campo do Tenente, no Paraná. Também estavam Bento Cordeiro Rodrigues, e outros comandantes da coluna, que estavam a pé. A batalha foi renhida com disparos de descargas pelos imperiais, protegidos pela cerca de pedras e cobertos por uma linha de atiradores, e intenso ataque rebelde.
A luta durou mais de uma hora.
Até esse momento, a Coluna Paulista só tinha perdido dois homens, posto que continuava protegida pela cerca de pedra. Como os rebeldes dispunham de forças superiores, o comando fez apear uma porção de homens, e avançar pela ponta da parede de pedra onde ela termina no local conhecido como Ytambé e carregando ao mesmo tempo com o cavalaria. A estratégia deu certo e os rebeldes conseguiram fazer entrar com uma quarta ou quinta parte de sua gente, apesar do vigor da defesa e das perdas que sofriam.
Contornando a trincheira de taipas
O capitão Valentiniano José de Lima comandou a defesa e sustentou aquele ponto, investindo à Porteira da Guarda, fazendo retroceder o grosso da força rebelde com fogo de fuzil. A reação forçou assim o ataque e retornar para fora das taipas, deixando no terreno multidão de cavalos e cavaleiros mortos.
Com o entrevero entre a cavalaria e uma carga sobre a infantaria, os monarquistas não observaram que os rebeldes haviam conseguido cortar a passagem na Porteira da Guarda. Contando ter contra si toda esta força junta, a coluna debandou-se então para o lado do rio Pelotas. A cavalaria imperial retirou-se, uma parte a nado no Passo Geral, outra para o campo dos Touros, com o major Alano, outra com o capitão Hipólito para o campo do Lauriano, atravessando o rio Pelotas por um passo esquisito, e outra finalmente para os potreiros da guarda, na direção de Vacaria, acompanhando-a Jordão de Mello.
Enquanto isto acontecia, com a dispersão do grosso da coluna, o capitão Valentiniano e seus companheiros disputavam a entrada da Porteira da Guarda. Nesse momento, porém dois atiradores bradaram para que lhes dessem cartuchos, por terem acabado as munições que eles traziam. Este apelo imprudente foi ouvido pelo tenente coronel Antonio Ignacio, que comandava uma coluna rebelde. A informação sobre a falta de munição fez certamente com que ele mandasse atacar ao mesmo tempo por todos os pontos, arrojando-se ele próprio sobre a entrada da Porteira. Foi então que, forçada nestas circunstâncias, o que restou da força imperial não teve outro recurso senão retirar-se para o mato que borda os dois flancos daquele muro de pedra. Restou apenas o capitão Valentiniano e seus companheiros mais próximos, que foram cercados pelo tenente coronel Antônio Ignacio, que, como um raio se arremessou contra eles. O capitão e seus camaradas fizeram a última carga, abrindo uma espaçosa passagem frente a força inimiga, por onde saíram, saltando por cima de cadáveres, dentre os quais jazia o comandante Antônio Ignacio, que tinha caído com uma bala na testa.
Os imperiais ganharam a mata que estava próxima. Como alguns rebeldes continuavam a perseguição, Valentiniano demorou a marcha e conseguiu reunir seus últimos companheiros, embrenhando-se pelo mato na direção do rio Pelotas, faltando alguns da sua companhia do Campo do Tenente, cujo destino se ignora.
A morte no Rio Pelotas
Antes da desbaratada iniciativa imperial, a 1ª Coluna Paulista tinha no Carasinho, a uma légua do rio Pelotas, no lado catarinense, onde haviam ficado o major Baumann, o tenente Muniz, um outro tenente o um alferes com 50 soldados do 10.º batalhão, muitos homens que acompanhavam a coluna, uns como condutores e outros que emigravam para Vacaria e Missões.
Entretanto o que fizeram os oficiais de 1ª linha? Fugiram precipitadamente, estando o inimigo tão distante deles. Não se lembraram sequer, ao menos, de mandar inutilizar no arroio a que estavam acostados, o armamento, se bem que em pouca quantidade e a muita munição que ali havia e que caiu nas mãos dos rebeldes farroupilhas.
Nesta carreira, em que ocuparam toda a tarde e noite, foram alarmar setenta homens de Santa Catarina que haviam chegado a Lages, e a guarda policial da vila. Resultado; todos tomaram o caminho que vai para o Trombudo, onde, desde a entrada do bosque, há pontos muito apropriados para emboscadas.
Dos oficiais de primeira linha que acompanharam o brigadeiro Francisco Cunha, só o alferes José Alvares Machado de Vasconcellos se comportara no fogo com coragem e intrepidez. Depois do ataque ele escapou, atravessando o rio Pelotas com dois ou três companheiros[7].
Em 27 de dezembro, o capitão Valentiniano José de Lima se adiantou dos seus companheiros do Campo do Tenente para implorar auxílio para ir encontra-los nos sertões por onde eles vem marchando a pé. Nos campos de Curitibanos já se achava uma guarda de quarenta rebeldes para impedir a retirada dos monarquistas. O capitão informou que, depois do ataque do dia 14, desceu pelo mato, desde a guarda de Santa Vitória até ao rio Pelotas, reunindo os extraviados que encontrava, aos quais fez passar o rio em uma maromba para o Campo do Lauriano. Depois disto, juntou-se com o capitão Hipólito, e ambos vieram reunindo os dispersos. Pela costa do rio Pelotinhas Hipólito trazia 150 homens da cavalaria que havia comandado, dos quais, contudo, só 20 achavam-se montados, porque os demais perderam seus arreios. A força seguiu costeando os matos na direção da estrada de Rio Negro, onde estava a tropa de linha. Na frente, mais de 200 homens.
O erro de avaliação de informação do brigadeiro Francisco Cunha foi de tal sorte que ele se deixou iludir. Na ocasião do fogo de combate muitas vezes perguntou ao capitão Valentiniano se já haviam passado para o lado monarquista alguns rebeldes. Ele acreditou e essa credulidade custou cara, porque murchou em uma hora toda a sua carreira militar[8].
No dia 26 de dezembro de 1839, o Tenente-coronel Manuel Francisco Correia Júnior, chefe da 2ª Legião, oficia o Prefeito da Vila do Príncipe (hoje município de Lapa/PR), Capitão Manoel Antônio da Cunha, comunicando-lhe que corriam boatos aterradores noticiando a derrota em Santa Vitória das forças sob o comando do Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, pelas forças dos farrapos, e que 139 armamentos completos de cavalaria foram tomados pelos rebeldes. Estes boatos foram plenamente confirmados, pois a derrota das forças do Brigadeiro Cunha foi esmagadora e este ficou entre os mortos. Os revolucionários apoderaram-se de quase todo o material bélico da coluna, ficando por essa forma as forças dos farrapos muito reforçadas[9].
O brigadeiro Cunha morreu afogado no rio Pelotas, durante a fuga.
O Passo de Santa Vitória, no Rio Pelotas, foi importante passagem entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, localizado em Bom Jesus (antigamente fazia parte dos campos de Vacaria), onde foi instalado um registro para cobrança do imposto devido à Coroa pela passagem do gado. Foi criado em 1772 e utilizado desde muito antes pelos tropeiros que negociavam com tropas de mulas, cavalos e gado vindos do sul em direção à Curitiba, São Paulo e Minas Gerais[10].
O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha contava com um total de 1.527 soldados, sendo 120 voluntários da Lapa e de Campo do Tenente, comandados pelo capitão Valentiniano José de Lima. A tentativa da 1ª Coluna Paulista de invadir o Rio Grande do Sul, porém de forma precipitada pelo brigadeiro Cunha, acabou fracassada, no Passo de Santa Vitória[11].
Assim, o Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha é derrotado pelos farroupilhas, ao comando dos Coronéis Joaquim Teixeira Nunes e Joaquim Mariano Aranha. A seu lado estava o então capitão tenente José Garibaldi.
A missão do brigadeiro, com seus quase 2.000 homens, era invadir a província gaúcha e levantar o cerco de Porto Alegre, que estava sujeita a um ano e meio. Chegou ao passo, e ali formou sua linha de batalha, que durou duas horas. Ferido, tentou cruzar o rio a nado, morrendo afogado ao tentar a travessia do rio Pelotas. Ele nascera em 1782, em Torres Viedras (Portugal) e militou com distinção nas campanhas da guerra Peninsular, e nas do Rio da Prata de 1816 a 1828, bem como contra os Farrapos, desde 1835.
Tragado pelas águas e nunca mais foi visto[1].
[1] Bento, Chudio Moreira, 1931 - O exército farrapo e os seus chefes. - Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército, 1992. p. 135.
[2] http://www.barsa.planetasaber.com/brasil/asp/Preview3.asp?IdPack=3&IdPildora=509926
[3] https://regionalismogaucho.weebly.com/a-revoluccedilatildeo-farroupilha.html
[4] Paulo Derengoski, Escritor e Jornalista. Fonte: Jornal Correio Lageano, Quarta-feira, 05 de março de 2003. p.2.
[5] Idem.
[6] Diário do Rio de Janeiro, ed. 24 de dezembro de 1839, p1, Rio de Janeiro, arquivo digital da Biblioteca Nacional, em memoria.bn.br
[7] Diário do Rio de Janeiro, ed. 28 de janeiro de 1840, p.1., Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
[8] http://memoria.bn.br/pdf/094170/per094170_1840_00021.pdf
[9] ZATTI, Carlos. Cronologia do Paraná com as efemérides de Negrão. Curitiba: IHGPR/Clubedeautores, 2019, 433 p.;
[10] http://historiavacaria.blogspot.com/2014/07/passo-de-santa-vitoria-bom-jesus_7.html
[11] http://historias-parana.blogspot.com/2016/11/hist-do-paran-lapa-e-os-farrapos.html
[12] https://books.google.com.br/books?id=ayB6DwAAQBAJ&pg=PA1839-IA4&lpg=PA1839-IA4&dq=capit%C3%A3o+Valentiniano.%221839&source=bl&ots=EW8UIU-KaO&sig=ACfU3U1Herl67b1O3p9quHW8TPL5cjHisw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjNs5Px9ZTkAhXsJrkGHQdYCfQQ6AEwDXoECAkQAQ#v=onepage&q=capit%C3%A3o%20Valentiniano.%221839&f=false
Referências
- ↑ https://books.google.com.br/books?id=ayB6DwAAQBAJ&pg=PA1839-IA4&lpg=PA1839-IA4&dq=capit%C3%A3o+Valentiniano.%221839&source=bl&ots=EW8UIU-KaO&sig=ACfU3U1Herl67b1O3p9quHW8TPL5cjHisw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjNs5Px9ZTkAhXsJrkGHQdYCfQQ6AEwDXoECAkQAQ#v=onepage&q=capit%C3%A3o%20Valentiniano.%221839&f=false