O passo-fundense que revolucionou o Brasil

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O passo-fundense que revolucionou o Brasil

Em 30/04/2004, por Paulo Domingos da Silva Monteiro


O passo-fundense que revolucionou o Brasil[1]


O jornalismo brasileiro pode ser dividido em duas fases: antes de Tarso de Castro e depois de Tarso de Castro. Intolerante, bêbado, perdulário, mulherengo é assim definido por muitos que ainda fazem questão proclamar aos quatro ventos que eram amigos dele. O certo é que esse passo-fundense, nascido praticamente dentro do jornal O Nacional, no dia 11 de setembro de 1941, só é unanimidade num único ponto: foi um dos mais importantes Jornalistas - isso mesmo com J grande - que o país já teve.

Sônia Regina Schena Bertol, que estudou a vida e a obra de Tarso, numa dissertação de mestrado, sob o título de Tarso de Castro, Editor de O Pasquim, conta que ele se iniciou no jornalismo, aos 12 anos, como linotipista do jornal pertencente a seu pai, Múcio de Castro. O jornal era e continua bem comportado. Irreverência, apenas nos períodos em que Tarso escrevia no velho diário.

Assim foi logo depois do Natal de 1959, ao provocar uma desavença entre a família Castro e o bispo diocesano dom Cláudio Colling, que chegaria a arcebispo. Tarso respondeu a um artigo sobre o Natal, escrito pelo respeitado sacerdote, com uma crônica sob o título de OBSERVANDO, escrita sob o pseudônimo de TeDeCê. Foi o primeiro texto polêmico. E decisivo para seu futuro.

Para que as coisas se acalmassem, Tarso foi mandado como interno estudar no Colégio Rosário, em Porto Alegre. Ali, aos 17 anos, se tornou admirador de Samuel Wainer e Leonel Brizola e passou a trabalhar na sucursal da Última Hora, envolvendo-se na política e aperfeiçoando o aprendizado jornalístico iniciado em sua terra natal.

Em 1961 já estava no Rio de Janeiro, ajudando na fundação de Panfleto, jornal brizolista. Apesar da pouca duração, o periódico alcançou enorme tiragem graças à divulgação promovida pelos Grupos dos 11, organização popular temida pelos conservadores da época.

Após um curto período de exílio no Uruguai, ao lado de Brizola e Jango, Tarso retornou ao Rio, trabalhando em diversos jornais, até o lançamento de O Pasquim, a 26 de junho de 1969. Era um período difícil para a imprensa. Mesmo jornais que apoiaram a ascensão dos militares ao governo eram censurados. Aos jornalistas de oposição restava apenas o caminho de pequenas publicações. Daí o termos "alternativo" ou "nanico" com que esses jornais eram identificados. Além disso, preferiam o formado tablóide, que corresponde à metade dos jornais mais tradicionais.

À exceção de Millôr Fernandes, que se tornou inimigo figadal de Tarso, todos os seus contemporâneos são unânimes em afirmar que este foi o verdadeiro criador de O Pasquim e que o jornal acabaria contribuindo para mudar a cara da imprensa brasileira. Em pouco tempo chegou a tiragens semanais superiores a duzentos mil exemplares.

Tarso contribuiu para isso, com um texto inovador, muito próximo da linguagem coloquial. Sabia usar o humor, o palavrão, a ironia, fazendo escola. Seu texto, em muitos aspectos, se aproximava do que viria a se consolidar como uma característica da chamada "geração do mimeógrafo".

Mais do que um jornal, O Pasquim foi uma paixão. Prova o fato de que, mesmo durante a prisão da equipe de produção, a 10 de novembro de 1970, o jornal foi mantido pela ação de colaboradores. Tarso fugiu dos agentes do DOI-Codi pulando o muro e estabelecendo a redação clandestina numa casa ao lado da sede do semanário.

Somente foi preso, alguns dias depois, porque os agentes prenderam sua mulher, Bárbara Oppenheimer, forçando que ele se entregasse. A pressão pela libertação dos jornalistas foi muito grande. Tarso foi o último a ser libertado por não se ter dobrado às condições impostas pelos militares.

A equipe de O Pasquim, em 1970, conseguiu burlar a censura, explorando os pontos fracos dos censores. O primeiro censor era uma mulher alcoólatra, e passou a ser manipulada com doses generosas do melhor uísque; o segundo era um general que recebia os jornalistas numa garçoniêre, cheia de moças bonitas. Eles argumentavam durante largo tempo até que ele deixava passar tudo para não perder a companhia feminina. Fizeram virar o feitiço contra o feiticeiro, usando táticas exploradas pelos agentes da repressão.

No começo de 1971, Tarso de Castro afastou-se de O Pasquim e o jornal começou sua decadência. Depois disso, passou por diversos jornais e editou os semanários e Enfim; O Folhetim, da Folha de São Paulo; a Tribuna da Imprensa; a revista Careta e O Nacional, no Rio de Janeiro.

Em 1979, a pedido de seu pai, retorna a Passo Fundo, contribuindo para revitalizar o jornal onde iniciou sua carreira. No ano seguinte já está de volta ao centro do país. Faleceu em São Paulo, no Hospital das Clínicas, em 20 de maio de 1991. Seu corpo, depois de embalsamado, foi velado na Assembléia Legislativa paulista e transladado para Passo Fundo. Após velório no plenário da Câmara de Vereadores, foi sepultado em sua terra natal.

(PAULO MONTEIRO)

Tarso de Castro

FRANCO - Já foi moeda forte na França e atualmente exerce o cargo de diretor do Trânsito na Guanabara. Fracassou nas duas profissões. Na França, entretanto, graças ao espírito pioneiro de Charles De Gaulle, transformou-se em Franco Novo, com o que conseguiu salvar-se. Aqui, entretanto, continuamos com o velho Franco que, mesmo sendo fraco, atrapalha a todos com grande energia. Existem, ainda, outras grandes afinidades entre o Franco Novo francês e o Franco brasileiro. O de lá parece ter-se desvalorizado, devido ao desengarrafamento, isto é, os franceses bebem vinho demais. O que prejudica a exportação. O daqui desvalorizou-se pelo engarrafamento, que se transformou em grande atração turística carioca. Os dois Francos se encontram também alinhados no esquema de produção. O Franco francês é que financia a construção dos aviões "Mirage", mas não é bem sucedido, uma vez que de uma maneira geral tais aparelhos continuam voando. No Brasil, o Franco transformou-se num dos principais incentivadores da indústria automobilística, depois de ter estabelecido entre os cariocas um verdadeiro recorde de acidentes, nos quais os automóveis ficaram inteiramente inutilizados - o que forçou um rápido aumento da produção. Agora, há uma diferença entre os dois Francos, que deve ser notada: o daqui fala.

ANTÍQVA - De "Banda Antíqva", que se vai apresentar numa promoção dO PASQUIM, no Cine-Teatro Poeira, de Ipanema, bairro que se tomou famoso porque chegou a 60 muito antes do calendário indicar. O espetáculo será dia 28, às 24 horas, já se sabendo, de antemão, que o conjunto toca músicas medievais, o que se constitui numa novidade imensa, de vez que só mesmo Austregésilo de Athayde conhece as versões originais da música. Nos intervalos haverá farta distribuição de uísque, produto que há anos vem garantindo o sucesso de muitas noites de autógrafos, mesmo em se tratando de livros de J. G. de Araújo Jorge, José Mauro de Vasconcelos e outros imbecis. Uma grande pedida.

ATHAYDE - De Austregésilo de Athayde, Presidente da Academia Brasileira de Letras e autor de um excelente livro, por sinal o mais lido entre os imortais. Trata-se da lista de telefones reservados, à qual só têm acesso os demais imortais devido à morte de seus antecessores. O próximo a morrer dará lugar a outro imortal.

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POLÍTICA - De antiguidade. Arte bastante praticada em certa época no Brasil, especialmente pelos políticos. Políticos eram aqueles que faziam política e, assim sendo chamados, sentiam-se orgulhosos. Hoje o termo virou quase ofensa, mas devido especialmente à falta de informações sobre onde andam os ditos políticos. Em qualquer casa de antiguidades você pode encontrar um Dinarte Mariz ou um Arnaldo Cerdeira por preço de ocasião.

VERDES - De "Boinas Verdes", filme romântico-musical norte-americano, no qual o conhecido ator John Wayne, herói da segunda guerra mundial - bateu recorde em matéria de desculpas para não ir lutar no front -, demonstra por A mais Z que os Estados Unidos estão vencendo a guerra no Vietnã. O filme tem duas vantagens (ou verdades): 1) Demonstra que os vietcongs não são de nada; 2) O que, por sua vez, demonstra que a imprensa é mentirosa. No Brasil, o filme está fazendo muito sucesso. E o faria também em Saigon, no cineminha da embaixada americana se a temporada não tivesse sido interrompida quando os norte-vietnamitas tomaram a sede daquela representação diplomática.

TEATRO - De Teatro de Bolso. Revolucionária Casa de Espetáculos existente no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Com uma lotação de trezentos lugares, o espetáculo é feito por pelas outras pessoas que se concentram nos corredores, na beira do palco, no apoio de uma poltrona, às vezes no colo de sua mulher e até - em se tratando de gente sofisticada no seu colo. O teatro oferece algumas surpresas, também: outro dia um espectador conseguiu em dado momento ver Gal Costa cantando num canto do teatro.

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Referências

  1. (Textos compilados a partir de Sônia Regina Schena Bertol: Tarso de Castro, editor de O Pasquim, 1999)