Leonel Brizola: É por velho que o diabo mais sabe

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Leonel Brizola: É por velho que o diabo mais sabe

Em 07/08/2007, por Argeu Rigo Santarém


Argeu Santarém


Depois de 15 anos de exílio, o político considerado como o maior opositor do movimento militar de 1964, Leonel de Moura Brizola, anistiado, retornou ao Brasil. Depois da apoteótica recepção em 7 de setembro de 1979 em São Borja, o ex-governador gaúcho e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, iniciou sua campanha nacional pelo retorno do PTB. O país foi percorrido em todos os quadrantes reunindo veteranos e novos quadros do trabalhismo, histórico e nacionalista, agora social-democrata, como dizia Brizola. Manobras palacianas em Brasília tentaram mais uma vez imobilizar o ex-governador e a Justiça Eleitoral entregou o PTB a outro grupo postulante, claramente adesista, sob o comando de Ivete Vargas.

Sem o velho PTB, Brizola empenhou-se na criação do novo partido, o Partido Democrático Trabalhista, o PDT, alinhado à social-democracia internacional. O Brasil despertava para novos tempos. A campanha das Diretas Já – monumental mobilização popular que agitou o país pela volta das eleições diretas – não vingou pelo voto subserviente do Congresso que ainda respirava o arbítrio. Finalmente, em 1989, foram realizadas as primeiras eleições diretas para a presidência desde 1959.

Os candidatos Fernando Collor de Mello do desconhecido PRN; o metalúrgico Luiz Inácio da Silva, o Lula, e o ex-governador Leonel Brizola pelo PDT eram os candidatos que em todas as pesquisas apareciam como favoritos. O deputado Afif Domingues do PFL, Ulisses Guimarães do PMDB e o ruralista Ronaldo Caiado, como aconteceu, perderiam disparados.

Com o primeiro turno marcado para 15 de novembro, os candidatos percorreram o país em busca de votos. A passagem de Brizola por Passo Fundo estava sendo aguardada com expectativa alucinante. A loucura brizolista seria confirmada no dia em que o ex-governador aqui esteve protagonizando a liderança do maior comício político em toda a história do município. Do trevo de acesso a Carazinho, na BR-285, até o Parque da Gare, local do encontro, dezenas de milhares de pessoas se acotovelaram pelas calçadas, janelas do edifícios e até nos galhos de árvores da Avenida Brasil, todos queriam ver de perto o líder que voltava. Na Gare, seguramente 30 mil pessoas acompanharam Brizola até o final do seu pronunciamento. Embalado pelo carinho de conterrâneos (Brizola nasceu no interior de Carazinho ao tempo em que o vizinho município era distrito de Passo Fundo), o velho caudilho sentia-se em casa, mas sempre alerta e cuidadoso.

Brizola havia desembarcado no aeroporto de Passo Fundo e seguira até Carazinho onde, após visitar o túmulo da mãe na localidade de Cruizinha, comandara, lá também, um grande comício de campanha. A bordo de uma camioneta do então vice-prefeito Carlos Armando Salton, Brizola viajava com o prefeito Airton Dipp, com o então deputado Éden Pedroso e com o secretário-geral do PDT em Passo Fundo, Paulo Magro. Hábito antigo do Caudilho, o ex-governador Brizola pediu um pastel com uma taça de café com leite.

A caravana parou exatamente junto a uma viatura da Polícia Rodoviária Federal. Paulo Magro tomou a informação dos policiais que sugeriram um restaurante próximo. Acostumado a evitar contatos com as dezenas de policiais que o espionavam no exílio, Brizola continuava se resguardando, mantendo nos primeiros tempos de seu retorno, um discreto afastamento de policiais, temeroso de que pudessem lhe acontecer outras coisas indesejadas. Mal Paulo Magro entrou na viatura após ouvir a indicação dos policiais, Leonel Brizola tocou na sua perna e alertou:

— Companheiro, você é ainda muito jovem. Tens muito a aprender. Por exemplo: Nunca pergunte a um militar aonde devemos ir, pois nunca se sabe para onde ele vai nos mandar.

Como escreveu José Hernandez no épico Martin Fierro “El diablo sabe por diablo pero mas sabe por viejo” (O diabo sabe por ser diabo mas mais sabe por ser velho).