Teixeirinha não morreu

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Teixeirinha não morreu

Em 31/05/2011, por Jabs Paim Bandeira


Teixeirinha não morreu

JABS PAIM BANDEIRA[1]


O tema do 15° Rodeio Internacional de Passo Fundo foi Teixeirinha. Não podia ser melhor, merece aplausos quem teve a idéia. Há muito vinha sendo discutida a criação de um museu que retratasse e retribuísse tudo o que este artista fez por Passo Fundo. As discussões se perdiam em longas divagações, como onde deveria ser construído, mas não passava disso, nada era feito, mesmo porque é difícil contentar gregos e troianos.

A criança tem muitos pais, existindo uma disputa de beleza, como a criação do parque temático na Roselândia, que nunca foi colocado em prática e vai-se postergando, ad infinimn, esquecendo da vocação do município para a cultura tradicionalista, razão de ser denominada a "mais gaúcha cidade do Rio Grande".

Sempre soube que não existe exército de uni homem só, o que não é verdadeiro. Há exceções, quando nos deparamos com um homem decidido, como aquele empresário e radialista que, sozinho se colocou à frente de um empreendimento, com recursos pessoais. Munido de coragem e talento, adquiriu, às suas expensas, um terreno no Parque da Roselándia, onde ergueu um belo prédio, denominado Rancho do Teixeirinha, e expôs vasto acervo ligado ao artista, como fotografias, álbuns, rascunho original da letra de Coração de Luto, e outros objetos cedidos pela Fundação Teixeirinha. Fizeram-se presentes, por ocasião da inauguração, os familiares do homenageado, como sua viúva. Zoraida, a filha Márcia e outros.

Até domingo, dia 06 de fevereiro (2011), mais de mil pessoas visitaram o Rancho, deixando registrados seus nomes no livro de presença. No local está sendo comercializado o livro "Teixeirinha - O Gaúcho Coração do Rio Grande", de autoria do Dr. Israel Lopes, de São Borja, editado pela Est/Ediçòes.

Entre todas as homenagens já recebidas pelo cantor, que se esvaem em palavras levadas pelo vento, a Casa do Teixeirinha representa um reconhecimento da comunidade, que se materializa na solidez das tábuas, argamassas, e na saudade que emoldura aquela construção, simbolizada nos pertences e na imagem de Teixeirinha. Pereniza assim nossa gratidão, capitaneada pela iniciativa, liderança, pelo desprendimento e pela nobreza de João do Prado, que tomou esta obra realidade, resgatando uma dívida. Como se sabe, a gratidão é o perfume da alma, perenizado em nossa memória.

Teixeirinha aqui chegou como um tiro ao alvo. Instalou-se na Avenida Brasil e, desde o inicio, foi recebido pelo tradicionalista Ivo Paiin, pioneiro em programas aauchescos no rádio local. Possuía ele dois programas na Rádio Passo Fundo, ao adotar Teixeirinha, como já havia feito com o menino Vicente Ribeiro, que se tomou depois O Garoto de Ouro. Cedeu um de seus programas, o da tarde, para Teixeirinha. Enquanto isto, para tornar o cantor conhecido na região, promoveu shows. Teixeirinha continuou compondo e divulgando suas músicas, como Briga no Batizado, Xote Soledade, Cinzeiro Amigo, entre outros que integraram seu primeiro disco.

Junto com alguns tradicionalistas, bancou a viagem do cantor a S. Paulo, para gravar o seu primeiro disco, 78 rotações. Após esta gravação, nos anos de 1959 e 1960, a gravadora Chantecler impôs a condição de que ele deveria vender mil discos, a fim de poder gravar um "long play".

Para isso, Ivo Paim bolou um plano: fazer shows no município e na região. Convidou alguns companheiros, Iray Paim Varella, Alfredinho, Orlando, Racho Velho. Senaninlio, sua filha Marlene Paim, no sentido de alcançarem a meta, atingir a quota estabelecida. Essa iniciativa ajudou a divulgar e comercializar o disco. À entrada do show, ao invés de apresentar um ingresso, servia como tal o disco, o qual era carimbado, franqueando a entrada do público.

Foi um sucesso! Abriam-se as cortinas do espetáculo, iniciando a carreira do artista em nosso pais e depois internacionalmente. Foi alvo de crítica de Flávio Cavalcanti, em programa nacional de televisão, uma vez que Teixeirinha era o próprio Ibope: suas canções rodaram em todas as emissoras, de noite a sul.

O tempo é testemunha, ou então, como dizia a poeta, repetida por Collor de Mello, "o tempo é o senhor da razão". Não precisa dizer quem foi o vencedor. Mais tarde, com a presença de Teixeirinha em seu programa, reconheceu o valor do artista, voltando atrás de tudo o que dissera, terminando por se retratar, reconhecendo de público o talento do cantor.

Teixeirinha foi sempre um vencedor e sua voz é imortal. Depois de tantos anos de seu falecimento, em 1985, todos os dias ele ressuscita nos acordes de suas melodias, executadas em rádio e shows, no mundo inteiro. Um ídolo que é preservado e lembrado por aqueles que o conheceram pessoalmente, como pelos novos fãs que só ouviram suas canções, nos mais variados temas, quer românticas, passionais, regionais, como aquelas de amor pelas pessoas, cidades e objetos de sua vida. Como no próprio Coração de Luto, que homenageia sua mãe, ou então no Velho Casarão, que recorda seu pai e seu avô. Passo Fundo, Soledade, São Paulo e tantas outras canções.

O cantor adotou Passo Fundo como seu berço, declarando aos quatro ventos que era nosso conterrâneo. Divulgou a cidade, seu povo e nossa cultura, pois quem tem Teixeirinha como filho, pode imaginar a qualidade de seus pares e conterrâneos!

Na verdade. Teixeirinha foi reconhecido pelo município e sua gente.

Por tudo o que lhe ajudaram, elegeu-o como o seu berço musical e artístico. O palco de Teixeirinha foi sem dúvida. Passo Fundo, de onde partiu para o mundo. Conquistou todos que ouviram suas músicas, recebendo os aplausos de inúmeras platéias, constituídas, de brancos, negros, amarelos, da plebe e de autoridades, pois ele fala a linguagem do povo, que canta e se encanta com os poemas musicados de sua verve, e compõem seu relicário, que faz parte do legado artístico que continua a ser divulgado, para o devaneio e a saudade de seus fiéis seguidores.

O Rodeio e João do Prado estão de parabéns, pela iniciativa. Aqui deixamos nossa homenagem a Teixeirinha e, especialmente, um registro histórico ao radialista João do Prado, pela iniciativa que há muito era esperada. Ele ainda mantém um programa com músicas de Teixeirinha, todos os domingos, na Rádio Planalto- AM.

As pessoas que tiverem algo, como objetos, relíquias, fotos, lembranças que lembrem a trajetória de Teixeirinha, por favor, enriqueçam o acervo de João do Piado! Vão visitar Teixeirinha em sua nova morada! Assim poderão constatar ao vivo, mais uma vez a sua imortalidade, no Parque da Roselândia!

Referências

  1. Jabs Paim Bandeira, advogado e empresário, é membro da Academia Passo-Fundense de Letras