Ferrovia do Trigo, UPF e Salin Buaes

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Ferrovia do Trigo, UPF e Salin Buaes

Em 30/11/2013, por Elmar Luiz Floss


ELMAR LUIZ FLOSS[1]


A RBS TV, em 2013, apresentou o belíssimo documentário O Gigante de Ferro – Ferrovia do Trigo. Mostrou-se um pouco dos sacrifícios enfrentados para construir essa ferrovia, os grandes objetivos idealizados em unir Passo Fundo a Pelotas, o transporte de cargas e passageiros, e, finalmente, o quase abandono da mesma.

O documentário veio numa boa hora, quando vários segmentos se movimentam pela reativação e ampliação do transporte ferroviário no Sul do Brasil, com a extensão da ferrovia Norte-Sul ao Rio Grande do Sul, passando pela região de Passo Fundo. Mas, ao assistir atentamente o documentário, me lembrei do grande ex-professor da Universidade de Passo Fundo, Salim Buaes (in memorian). Imediatamente, busquei na minha biblioteca seu livro, editado em 1996, Perspectiva do desenvolvimento econômico e social de Passo Fundo. O livro enfatiza, de maneira especial, a construção da L-35, a Ferrovia do Trigo, tema do prefácio escrito pelo saudoso professor e ex-reitor da Universidade de Passo Fundo, Murilo Coutinho Annes.

Segundo o relato do professor Salim, apesar do projeto da construção dessa ferrovia, passando pela região, ter iniciado ainda no governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra, foi na década de sessenta que as obras de construção da L-35 ocorreram, de forma lenta. Mas, em 1968, foi determinada a suspensão da construção da mesma. Diante da frustração de uma enorme região, a recém criada Universidade de Passo Fundo, realizou um Seminário da L-35, no dia 12 de dezembro de 1968.

Nesse Seminário, foi criado um Grupo de Trabalho, para realizar um estudo de viabilidade da Ferrovia do Trigo (denominação dada pelo ex-deputado Victor Isler), a L-35. Esse Grupo de Trabalho teve com presidente o ex-professor Salim Buaes e como membros os professores Cel. Otacilio de Moura Escobar, Dárcio Vieira Marques (Faculdade de Economia), Catão Louzada Alves da Fonseca e Flávio Coutinho Annes (Faculdade de Agronomia) e Eduardo Martineli (Faculdade de Belas Artes), além de vários estagiários.

Esse estudo foi encaminhado pelo reitor Murilo Coutinho Annes, ao então Ministro dos Transportes Mário Andreaza. O estudo de viabilidade elaborado por esse Grupo de Trabalho da Universidade de Passo Fundo foi convincente e as obras foram retomadas pelo Batalhão de Engenharia do Exército. A sonhada ferrovia foi inaugurada em 07 de dezembro de 1978, pelo então Presidente Ernesto Geisel.

Certamente, essa foi uma das mais importantes contribuições, que a Universidade de Passo Fundo, através de sua reitoria (Murilo Coutinho Annes, Elydo Alcides Guareschi e Alcione Niderauer Correa) e dos professores, capitaneados por Salim Buaes, deu ao desenvolvimento da região. Além do transporte de cargas, especialmente os grãos produzidos na região norte do RS, a ferrovia também teve transporte de passageiros, de Passo Fundo a Porto Alegre, o Trem Húngaro. Em março de 1980, fiz a única viagem pelo Trem Húngaro. Num domingo, eu, minha esposa Sandra e o filho Luiz Gustavo, com pouco mais de um ano de idade, fomos a Porto Alegre, para assistir o jogo Inter e Cruzeiro de Minas Gerais. Além da belíssima viagem, conhecendo uma das topografias mais bonitas do RS, assistimos o Inter vencer, por um a zero, gol do lateral Claudio Mineiro, de falta.

Pouco tempo depois, infelizmente, o Trem Húngaro foi desativado. Ao longo desse período, inúmeras foram as iniciativas para reativar o transporte de passageiros entre Passo Fundo e Porto Alegre. Como a ferrovia é de bitola estreita e com curvas muito acentuadas, não podem ser utilizados os trens modernos existentes no mundo. E, a Europa, é um exemplo de eficiência no transporte ferroviário de passageiros. Em janeiro, pude mais uma vez comprovar isso, viajando pela França e Alemanha, durante 9 dias. Trens da Ice ou TGM, que chegam a velocidade de 360 km/h.

Esperamos, que o novo movimento existente, desde 2009, de construção da Ferrovia Norte-Sul, seja o resgate de um erro histórico cometido pelo Brasil de negligenciar o transporte ferroviário, ao atender o forte lobismo dos interesses dos transportadores rodoviários.

Referências

  1. Elmar Luiz Floss é Eng.- Agr., Licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia e membro da Academia Passo-Fundense de Letras.