Machado de Assis Aproxima Academias e Comunidades

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Machado de Assis Aproxima Academias e Comunidades

Em 13/08/2008, por Dilse Piccin Corteze


Machado de Assis Aproxima Academias e Comunidades[1]


Excelentíssimas autoridades presentes, senhoras e senhores:

Inicialmente quero agradecer pela oportunidade que me foi conferida para coordenar, juntamente com meus colegas da Academia Passo-Fundense de Letras, o Projeto Machado de Assis: 100 Anos de História. Agradeço também per estar aqui prestando esta homenagem a Machado de Assis, às talentosas vencedoras do concurso literário, aos não menos talentosos alunos do Ensino Médio, que participaram enviando suas produções para a APL, e a todos os professores que se envolveram, de maneira muito competente, neste projeto.

Hoje podemos dizer que é um dia de extrema alegria para a APL e todos os seus sócios. Estamos felizes porque a casa está cheia. Cheia de convidados que se importam com literatura, gostam de ler e de escrever, desejam sempre crescer mais culturalmente, pois entendem que somente através da cultura e educação os povos atingem o desenvolvimento pleno.

Retornando um pouco no tempo, lembro muito bem quando, no ano de 2007, por ocasião da realização da Jornada da Literatura em nossa cidade, fomos visitados por membros da Academia Brasileira de Letras. Dentre eles, estava o seu presidente, o Sr. Marcos Vilaça. Em seu discurso, Vilaça nos provocou a comemorar o centenário da morte do maior escritor brasileiro de todos os tempos: Machado de Assis.

Logo em nosso encontro seguinte, lá estava o colega, acadêmico, Alberto Rebonatto, ostentando um papel na mão e pedindo a palavra. Quando lhe foi concedida a palavra, ele, de maneira muito eficiente, apresentava um rascunho do que seria o Projeto para as comemorações dos cem anos de morte de Machado de Assis, primeiro presidente da ABL.

Rebonatto, ao falar em Machado de Assis, lembrava a todos que se tratava de seu patrono, escritor e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Estávamos ainda no mês de setembro de 2007, mas Alberto Rebonatto já se adiantava com um cronograma de atividades para serem cumpridas no ano em que todo o Brasil estaria envolvido nas comemorações do maior escritor brasileiro. O Projeto tinha uma proposta de premiação nada modesta, quando previa uma viagem ao Rio de Janeiro, com visita à ABL para o aluno e sua professora que tivessem o trabalho classificado em primeiro lugar; os segundo e terceiro melhores trabalhos seriam premiados com obras de Machado de Assis e todos os participantes receberiam lembranças, bem como um certificado por sua participação.

Logo no início, alguns acadêmicos acharam a premiação muito audaciosa, pois, sendo a APL uma sociedade sem fins lucrativos, de onde tiraria recursos para tais prêmios?

Abraçamos, com Alberto Rebonatto, o referido Projeto, sempre acreditando que no final tudo daria certo e que a premiação seria condizente com a grandiosidade do evento.

Formamos grupos de acadêmicos e iniciamos, ainda no ano passado, as visitas às escolas, à imprensa e à 7ª Coordenadoria de Educação, no intento de buscar adeptos para levar avante o sonhado projeto.

Neste ano de 2008, nosso clamor foi ouvido. Obtivemos apoio e realizamos parceria com a 7ª CRE, que nos ajudou na divulgação junto às escolas estaduais e na confecção do diploma para os participantes. A comunidade escolar em geral também se juntou a nós no sentido de oportunizar aos estudantes do Ensino Médio da cidade de Passo Fundo um maior contato com a vida e obra de Machado de Assis, incentivando a criação literária e proporcionando um maior entrosamento com a APL e ABL.

Tínhamos sempre em mente o principal objetivo da existência da Academia Passo-Fundense de Letras (APL), que é o de “incentivar e promover a produção e divulgação literária em nosso município.” Assim, nosso desejo era incrementar ainda mais o bom relacionamento da comunidade de Passo Fundo com esta instituição e divulgar a APL no meio estudantil.

Num clima de comemorações, a APL se juntava aos festejos dos 150 anos de Passo Fundo para convocar os estudantes a comemorarmos juntos os 100 anos da morte do primeiro presidente da ABL e, ao mesmo tempo, os 70 anos de história da APL, esta academia que teve uma caminhada permeada por muitas adversidades, grandes nomes compondo seu quadro de acadêmicos e, também, grandes acontecimentos vivenciados e promovidos ao longo de sua existência.

Temos sempre em mente que a “dedicação é a capacidade de se entregar à realização de um objetivo” e, por isso, temos a certeza de que houve dedicação de todos os professores e alunos envolvidos neste projeto. Essa dedicação ficou evidente nos flagrantes da comissão julgadora, que, em alguns momentos da leitura, não conseguiu conter as lágrimas, tal era a emoção transmitida em cada linha escrita, com sabedoria, pelos alunos participantes.

A aluna Débora de Marco Machado, em determinado trecho de seu texto, escreve: “achei errado quando Machado citou em um de seus livros que “com o tempo as coisas caem no esquecimento”. Só então ela declara ter percebido que Machado devia escrever com o coração, fazendo uma viagem no tempo. Débora continua: “ se nos reportarmos a seus escritos teremos bem claro, que a ‘teoria do medalhão’ não deve se sobrepor ao encontro com o nosso verdadeiro eu, tão esquecido e tão abandonado como já acontecia na nossa sociedade que teve o prazer, de abrigar tão ilustre pessoa como Joaquim Maria Machado de Assis”.

Isto é lindo, não?

Por outro lado, mas no mesmo sentido, Renata Augustin relata um diálogo muito interessante entre duas almas, personagens de romances de Machado: Capitu e Brás Cubas. Ela acaba o texto escrevendo: “As duas almas se entreolharam sentindo alívio e compaixão. Eles sabiam que mesmo nesse ambiente onde se respira solidão, eles teriam o conforto que poucos têm no mundo, um ombro amigo. Após uma longa jornada pelo caminho dos arbustos, as almas de Brás e Capitu foram envoltas por uma neblina suave e um ar de orvalho. Aos poucos a neblina foi engolindo as almas, enquanto estas se tornaram apenas vultos e logo desapareceram”.

Isto é maravilhoso, levando em conta que a autora do texto tem apenas 16 anos.

Júlia Luvisa Gauer faz uma análise do estilo machadiano de escrever, dizendo que “trata dos temas universais em suas histórias, como a confusão de sentimentos, jogos de interesses, inveja, ciúmes e hipocrisia.” Mais adiante, Júlia escreve: “O gênio é um grande exemplo de vida, pois sua origem humilde não o impediu de ganhar o mundo e tornar-se uma das mais brilhantes estrelas da Literatura Mundial.”

A Academia Passo-Fundense de Letras está em festa por prestar homenagem a Machado de Assis, recebendo este seleto público com produções textuais de alto nível, por meninas de 16 anos, alunas do Ensino Médio da cidade de Passo Fundo. E para homenageá-las, homenageando a todos os estudantes presentes, faço uso da poesia do próprio Machado de Assis, intitulada:

Menina e moça


Está naquela idade inquieta e duvidosa,

Que não é dia claro e é já o alvorecer;

Entreaberto botão, entrefechada rosa,

Um pouco de menina e um pouco de mulher.


Às vezes recatada, outras estouvadinha,

Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;

Tem cousas de criança e modos de mocinha,

Estuda o catecismo e lê versos de amor.


Outras vezes beijando a boneca enfeitada,

Olha furtivamente o primo que sorri;

E se corre parece, à brisa enamorada,

Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.


Quando a sala atravessa, é raro que não lance

Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar

Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance

Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.


Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,

A cama da boneca ao pé do toucador;

Quando sonha, repete, em santa companhia,

Os livros do colégio e o nome de um doutor.


Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo

Para ela é o estudo, excetuando-se talvez

A lição de sintaxe em que combina o verbo

To love, mas sorrindo ao professor de inglês.


Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,

Parece acompanhar uma etérea visão;

Quantas cruzando ao seio o delicado braço

Comprime as pulsações do inquieto coração!


Ah! se nesse momento, alucinado, fores

Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,

Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,

Rir da tua aventura e contá-la à mamã.


É que esta criatura, adorável, divina,

Nem se pode explicar, nem se pode entender:

Procura-se a mulher e encontra-se a menina,

Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

Referências

  1. Discurso pronunciado pela acadêmica Dilse Piccin Cortese, como oradora oficial, durante a solenidade de premiação dos alunos participantes do concurso “Machado de Assis: 100 Anos de História”, dia 13 de agosto de 2008, na sede da Academia Passo-Fundense de Letras