Passo Fundo, sede do governo estadual

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Passo Fundo, sede do governo estadual

Em 07/08/2007, por Alberto Antônio Rebonatto


Alberto Antonio Rebonatto


O engenheiro Ildo Meneghetti foi um dos governadores que mais prestigiou Passo Fundo no exercício do poder. Só no seu segundo mandato, em pouco mais de 90 dias, esteve na cidade três vezes.

Uma visita foi de caráter festivo. Ocorreu em trinta e um de dezembro de 1963, por ocasião da posse do prefeito Mário Menegaz e do vice Adolpho João Floriani. Viajando em avião particular, compareceu à cerimônia, que aconteceu às 16 horas na Câmara Municipal, presidida pelo vereador Otacílio de Moura Escobar e regressou à capital.

A segunda visita foi de trabalho. Aconteceu em 25 de janeiro de 1964, quando transferiu a sede do governo para Passo Fundo, e, daqui, passou a administrar o Rio Grande.

Não foi uma transferência simbólica. Instalou efetivamente o seu gabinete em nossa cidade e passou a despachar das dependências do Turis Hotel. Em sua companhia, vieram os secretários Adolfo Fetter, da Agricultura, Hélio Helbert, da Saúde, Almir Borges Fortes, da Energia e Comunicações e Ariosto Jaeger, da Educação, que chegou no dia seguinte. Integraram, ainda, a comitiva governamental, o engenheiro Elísio Telli, diretor geral do DAER, o coronel Orlando Pacheco, chefe da Casa Militar, o coronel Gonçalino Cúrio de Carvalho, assessor especial do governador, o doutor Ari Caldeira, assessor do gabinete da Secretaria de Administração e Planejamento, o doutor Hipólito Kuntz, superintendente do Ensino Médio da Secretaria de Educação e Cultura e o doutor Dolmy Antônio Tarrasconi, diretor geral da Secretaria de Administração.

As audiências e despachos com os prefeitos da região iniciaram às 15 horas do mesmo dia, logo após a instalação oficial. À noite, o governador foi homenageado por próceres do PSD com um jantar na casa de João Grazziotin, ocasião em que recebeu as boas vindas do prefeito Mário Menegaz.

O governo e sua comitiva permaneceram em Passo Fundo até o dia 28, quando foram homenageados com um banquete no restaurante do Turis Hotel. Em nome das classes econômicas, falou o doutor Augusto Trein. Representando os mais de 40 prefeitos presentes, discursou o senhor José Maria Vigo da Silveira, prefeito de Tapejara, e a moção de agradecimento, subscrita por todos os prefeitos, foi lida por Paulo Roberto Pires, secretário municipal de Passo Fundo.

A terceira visita foi ditada pela prudência. Aconteceu em primeiro de abril de 1964, e foi uma decorrência da grave crise institucional que se abateu sobre o país, que culminou com a destituição do presidente João Goulart, que havia sido empossado em 1961, graças à “campanha da legalidade”, liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, doutor Leonel Brizola. Os acontecimentos se precipitaram depois do comício de 13 de março, promovido pelo Comando Geral dos Trabalhadores, no Rio de Janeiro, e que contou com a presença de mais de 150 mil pessoas, ocasião em que foi apregoada nova ordem política e social para o país, com a implantação das “reformas de base”. O movimento revolucionário eclodiu em 31 de março.

O Rio Grande do Sul já vivia um clima de inquietação. O anúncio da revolução dividiu o Estado entre favoráveis e contrários ao governo central. Até o 3º Exército, aparentemente, não estava coeso; enquanto o comandante, general Ladário Telles, se manifestava pró-governo, diversos generais assumiram publicamente que apoiavam o grupo revolucionário, juntamente com as tropas por eles comandadas. O indicativo de luta armada era muito forte. Ildo Meneghetti era frontalmente contra o governo de Jango.

Ante as circunstâncias, sem conhecer o posicionamento real das Forças Armadas no Estado e, com a certeza de que uma das primeiras tentativas de ataque, se houvesse, seria à capital, o governador tratou de salvaguardar a autoridade do seu posto, e procurou refúgio em Passo Fundo, onde se sentia mais seguro. Viajou secretamente, acompanhado apenas dos coronéis Orlando Pacheco, chefe da Casa Militar e Gonçalino Cúrio de Carvalho, seu assessor especial, além de Augusto Muniz dos Reis, que exercia elevado posto na Polícia Civil. Chegou às 20:40 horas e instalou seu governo junto ao quartel do 2º Batalhão da Brigada Militar, de cujo comandante, major Victor Hugo Martins, havia recebido cumprimentos e apoio.

Depois de instalado, adotou várias medidas de impacto, como a requisição da Rádio Passo Fundo, de todas as viaturas do DAER e da CEEE e de todas as reservas de combustíveis da região. Nomeou Antônio Frederico Knoll encarregado do Serviço de Imprensa da Casa Civil. Abriu inscrição de voluntariado junto ao quartel da Brigada Militar e convocou todos os oficiais reformados da Brigada que estivessem na região. No dia dois de abril, mandou publicar nota oficial do governo gaúcho, concitando os militares do Exército e da Brigada a se incorporarem ao movimento revolucionário, bem como, pedindo ao povo que organizasse a resistência democrática no Estado. No dia 3 de abril, com a situação definida tanto em nível federal como no âmbito estadual, retornou para Porto Alegre, guarnecido por expressiva escolta militar.